A sessão de julgamento que pode cassar o mandato da vereadora Mara Boca Aberta (Podemos) já dura mais de nove horas. As atividades começaram por volta das 9h30 desta quarta-feira (29) e devem seguir até o meio da noite. A defesa de Mara falou por cerca de 1h15. A parlamentar iniciou sua defesa no plenário às 19h06.

Vereadora Mara Boca Aberta é absolvida em Londrina após julgamento de 11 horas. Confira o desfecho do caso.

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Mara enfrenta a denúncia de quebra de decoro parlamentar com base em três acusações: divulgação da campanha falsa do seu companheiro, Emerson Petriv, o Boca Aberta; abuso de poder econômico e má utilização de recursos do Fundo Eleitoral; e favorecimento pessoal ao proprietário de uma empresa que recebeu verbas de campanha e depois foi nomeado assessor da parlamentar.

Pouco depois de começar, a sessão foi suspensa para análise de um pedido da defesa, que queria a reformulação das perguntas relacionadas às acusações. No começo da tarde, houve indeferimento da solicitação.

Imagem ilustrativa da imagem Sessão que pode cassar Mara Boca Aberta já dura mais de nove horas
| Foto: Douglas Kuspiosz - Reportagem Local

Os advogados da vereadora sinalizaram, ainda pela manhã, que não iriam pedir a leitura da íntegra do processo, o que poderia alongar (ainda mais) a sessão. O entendimento foi de não cansar os presentes.

A sessão foi interrompida por volta das 12h30 e só retornou depois das 14h, quando os vereadores iniciaram suas falas, com direito a 15 minutos no plenário. A vereadora Jessicão (PP) defendeu Mara e disse que a cassação “é filme repetido”, se referindo à cassação de Boca Aberta - Emerson Petriv, marido de Mara - em 2017, quando era vereador.

“Nós não temos provas o suficiente para repetir o mesmo erro de novo. Porque depois que passou a cassação do vereador Boca Aberta, ele, inclusive, ganhou na Justiça algumas questões relacionadas àquele momento da cassação dele”, afirmou Jessicão, alegando que houve pressão, desde terça-feira (28), para votar pela cassação. “Não funciono na base da pressão e não gosto do que está acontecendo desde ontem. Jogo sujo não dá para aguentar.”

Santão (PL), que presidiu a CP, negou qualquer perseguição política de gênero, um dos argumentos apresentados pela defesa de Mara. “É muito nefasta uma manifestação nesse sentido”, rebateu. Ele repetiu a posição dada em entrevista à imprensa antes da sessão começar: “Ele [Boca Aberta] sequer estava filiado ao partido Agir. Ele colocou um número que inventou da cabeça dele”, pontuou.

A vereadora Lu Oliveira (Republicanos) aproveitou o tempo de fala para defender o seu voto divergente, ressaltando que analisou “a fundo” o processo, “tentando encontrar pelo em ovo”. “Até agora a gente não encontrou”, reforçou. Ela lembrou que a Justiça havia permitido a campanha de Boca Aberta: “Em relação à candidatura individual, essa decisão só ocorreu no dia 4 de outubro”. Para a vereadora, “é a decisão final que conta”.

O relator do processo, vereador Fernando Madureira (PP), ressaltou antes do início da sessão que a Câmara não foi “atrás de investigar ninguém” e que as denúncias chegaram tanto pelo Ministério Público quanto por londrinenses. Ele também defendeu o relatório que pedia a cassação.

“Dentro dos arquivos nós vemos claramente um ponto muito crucial que o ex-vereador Boca Aberta não era candidato ao Senado. Nesse caso, não se pode pôr dinheiro público na campanha dele. E foi colocado, tem comprovação, tem tudo”, observou. Ele disse que o intuito é cumprir a lei e que não se trata de uma “votação política". “É lei, é regra, não pode pôr dinheiro público onde não tem campanha eleitoral, onde não tem registro.”

Mara também falou na chegada à CML, ainda antes das 9h. Ela ressaltou estar apreensiva não só pela possível perda do mandato, mas também pelos oito anos de inelegibilidade. “Eu já passei por isso na Câmara com o Boca [Aberta, que foi cassado em 2017]. Não é fácil passar por todo esse processo”, lembrou. Ela afirmou que ter uma defesa contundente. A parlamentar, contudo, voltou a dizer que o julgamento é político.

Ela ainda defendeu que suas contas da campanha de 2022, quando concorreu a deputada federal, foram aprovadas pelo Tribunal de Contas. “Hoje, novamente, eu vou comprovar que não foi uma ‘campanha fake’. Nós fomos autorizados, o Boca foi autorizado pela juíza a ser candidato e tudo isso eu tenho falado. É uma perseguição política, sim, são inimigos do Boca que eu herdei.”

Pela manhã, Santão também negou qualquer perseguição política contra Mara: “Esse argumento, eu vou falar com palavras claras, é falso, é mentiroso, é forçoso e é nefasto”.

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Alteração em tabela gera bate-boca entre vereadores

Um momento tenso da sessão ocorreu por volta das 10h40, quando a vereadora Lu Oliveira (Republicanos) disse que uma tabela do seu voto divergente, que apresentava uma cronologia dos fatos analisados e foi divulgado no dia 23, junto com o parecer final da CP (Comissão Processante), havia sido alterada pela assessoria de Fernando Madureira (PP).

A versão modificada da tabela, que foi divulgada no WhatsApp, possui a assinatura de Oliveira e adiciona uma decisão da desembargadora Cláudia Cristina Cristofani, de 6 de setembro, que não reconheceu o registro de candidatura de Boca Aberta.

De acordo com a defesa de Mara Boca Aberta (Podemos), enquanto analisava essa decisão de Cristofani - que só transitou em julgado em 4 de outubro, indeferindo a candidatura de Petriv -, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) permitiu, em outro processo, no dia 17 de setembro, a realização da campanha.

"Foi colocada minha assinatura de modo falso, isso é crime e eu gostaria que houvesse providências por parte desta Casa", pontuou. "Esse documento está induzindo ao erro.”

Madureira pediu a palavra e disse que a tabela se trata de um "rascunho" após a detecção de uma "falha" na cronologia organizada pela equipe de Oliveira, porque não considerava a decisão de 6 de setembro. "Isso, sim, induz o vereador a votar de forma errada", retrucou.

Ele reconheceu ter falhado em não ter retirado a assinatura de Lu, mas disse que foi acrescentado o seguinte texto na tabela: "Sendo assim, todo esse cronograma fraudulento feito pela vereadora Lu Oliveira cai por terra".

"No original falta essa peça, e aí sim induz o vereador a votar errado, porque essa peça derruba todo o restante do cronograma. Então, me perdoe porque foi um rascunho. [Está] muito claro no meu texto falando, embaixo, que ela não colocou [a decisão de 6 de setembro]."

O entendimento do jurídico da Câmara foi que a versão alterada da tabela não constava nos autos e, portanto, não deveria ser considerada na análise dos vereadores. A defesa de Mara tentou a suspeição de Madureira; e Madureira a suspeição de Oliveira, por não ter colocado a decisão de 6 de setembro na cronologia. Nenhuma das solicitações foi acolhida. (D.K.).