Um movimento da geração Z nas redes sociais – principalmente no TikTok – tem preocupado entidades e profissionais ligados à saúde mental. A exposição explícita de fragmentos da sessão de terapia, principalmente os que fazem análise online, com o objetivo de expor as particularidades da vida e claro, engajar entre seguidores. Uma busca rápida pela hashtag #therapy e é possível encontrar cortes entre jovens – alguns com milhões de seguidores – conversando com seus terapeutas, na grande maioria das vezes sem o conhecimento do profissional.

O movimento é visto com preocupação pelas entidades ligadas ao tema, como a Sociedade Brasileira de Psicologia, principalmente por não preservar o princípio da privacidade. Mesmo que o psicólogo ou psicanalista não esteja sendo exposto diretamente, ele pode se sentir prejudicado. Pelo lado dos jovens, o argumento levado as redes é que está é uma forma de quebrar os tabus relacionados à terapia e os cuidados com a saúde mental, mesmo que colocando olhares a um momento tão íntimo entre analista e paciente.

O psicoterapeuta e psicanalista que atua em Londrina, Sylvio Schreiner, reflete o porquê da geração Z agir dessa forma e que acaba culminando em algo tão íntimo como publicar em redes sociais fragmentos de uma sessão de análise. “Vivemos numa era de exposição: o prato que a gente come, as férias que a gente tira, as reuniões familiares, a cidade onde estamos, os livros que lemos – tudo é publicado. E com equilíbrio, não há problema algum, o celular e tecnologia faz parte das nossas vidas. No entanto, quando há um excesso, vemos uma vulgarização da intimidade. A sessão de análise ou de psicoterapia é um dos espaços mais íntimos e privados que existem. É nesse espaço que a pessoa pode ser ela mesma, sem julgamentos, sem amarras e assim conhecer a si próprio”, avalia.

ENCONTRO COM ELE MESMO

Ao retirar o momento de intimidade da sessão de contexto, isso pode transformar completamente o propósito daquele encontro. “Ter contato com esse momento exige muita privacidade e muito respeito, tanto do analista como do paciente. Ali existe um contexto, e quando é trazido para fora para um vídeo na internet, por exemplo, ganha outros significados e outras cores. Na sessão de análise, o paciente recebe um alimento, não concreto, mas um encontro com ele mesmo – o que deve ser preservado para a evolução dele”, relata Schreiner.

Outro ponto importante relatado pelo especialista é que esse comportamento dos jovens, no geral, se mostra algo mais prejudicial do que benéfico para a saúde mental. “O terapeuta, caso saiba, precisa entender com o paciente porque ele gostaria de fazer isso com algo tão íntimo. Ao expor a terapia, se tira a autenticidade dela, que agora está sendo exibida externamente. Quando a pessoa tem esse tipo de atitude, ela está numa atuação, assumindo um personagem, e isso não cabe dentro de uma sessão analítica. É um momento que buscamos nos encontrar com quem somos, não com quem queremos parecer ser. Até porque a análise ajuda a pessoa a descobrir quem ela é”, complementa o psicoterapeuta.

(Com informações da assessoria)