Lula decide manter Juscelino Filho após caso das diárias irregulares
Aliados do presidente esperam que Planalto aumente cobrança sobre União Brasil para que apoie propostas do governo no Congresso
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segunda-feira, 06 de março de 2023
Aliados do presidente esperam que Planalto aumente cobrança sobre União Brasil para que apoie propostas do governo no Congresso
Folhapress
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu manter o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil-MA) após reunião entre nesta segunda-feira (6). Apesar de ter poupado o auxiliar, aliados de Lula esperam que a partir de agora o Planalto aumente a cobrança sobre a União Brasil para que entregue no Congresso Nacional o apoio e os votos para avançar as propostas de interesse do governo.
Segundo aliados do mandatário, caso a sigla não corresponda às expectativas, haverá retaliação ao partido como um todo. A manutenção do ministro no cargo ocorre após pressão de aliados por sua saída, em meio a denúncias de irregularidades envolvendo diárias recebidas pelo titular das Comunicações e o asfaltamento de uma estrada, com recursos de emenda, na sua fazenda no Maranhão.
Além de minimizarem as denúncias, aliados de Lula citam ao menos dois principais motivos para manter o ministro no cargo: não se indispor com União Brasil; e abrir a porteira para saída de ministros e criar desgaste com pouco mais de dois meses de governo.
Alguns integrantes do União Brasil identificam nas denúncias fogo-amigo contra o ministro, mas o partido está fechado em apoio a Juscelino.
A legenda, que também indicou nomes para duas outras pastas na Esplanada, não tem nome para substitui-lo e o tema sequer foi discutido entre o presidente e a cúpula do partido. Lula sabe, dizem aliados, que não poderia trocar um ministro sem antes discutir com os dirigentes.
DISPUTA COM O PT
Ademais, há um outro complicador, a saída do ministro abriria uma frente de disputa dentro do PT. O partido já queria, durante a transição, ter ficado com a pasta e pode, segundo aliados, tentar avançar sobre o ministério mais uma vez.
Fora isso, a demissão de Juscelino abriria um precedente muito cedo na Esplanada: ministros com complicações parecidas no futuro já teriam de deixar o cargo da mesma forma.
IRRITAÇÃO
O entorno do chefe do Executivo diz que, apesar da decisão, Lula está muito irritado com o episódio. Antes da reunião com o presidente, Juscelino publicou nesta segunda-feira um vídeo nas suas redes sociais no qual se defende das acusações de uso indevido de diárias e do avião da FAB (Força Aérea Brasileira).
O ministro aponta um "erro no sistema de diárias", que acabou incluindo indevidamente no cálculo dos valores as datas referentes a fins de semana, quando não teve agendas públicas. Juscelino ainda acrescenta que todas as diárias pagas indevidamente foram devolvidas aos cofres públicos.
No vídeo, o ministro afirma que vem sendo vítima de "ataques distorcidos" e alega que não houve qualquer tipo de irregularidades em suas viagens.
Na semana passada, o presidente havia demonstrado insatisfação com a postura do auxiliar e afirmou que, caso não comprovasse sua inocência, ele não seria mantido no governo.
A saída do ministro dividia aliados do chefe do Executivo. Enquanto a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), defendeu o afastamento temporário dele, outra ala do entorno de Lula vinha pregando que ele não poderia ser demitido - ao menos, não no curto prazo.
A Comissão de Ética Pública da Presidência da República vai, na próxima reunião do conselho, analisar o caso do ministro, conforme disse à reportagem. "Informo que os conselheiros da Comissão de Ética Pública já tomaram conhecimento do caso, pela imprensa, e irão adotar as tratativas pertinentes sobre caso na próxima reunião do Colegiado", afirmou. O próximo encontro dos conselheiros ocorrerá em 28 de março.