A renovação da CML (Câmara Municipal de Londrina) ficou em 42% neste ano, com muitos políticos estreantes ocupando as 19 cadeiras do Legislativo londrinense. Com isso, valeu a máxima de que o eleitor buscava algo “novo”, deixando de lado nomes que já atuaram e tiveram relevância na política local no passado. Alguns veteranos políticos que tentaram voltar ao Legislativo ficaram pelo caminho.

Entre quem passou pela Câmara nas últimas legislaturas, Jamil Janene (PP) teve o melhor desempenho, conquistando 2.501 votos e ficando como suplente. O mesmo vale para Péricles Deliberador (PSD), que foi superintendente da Acesf (Administração de Cemitérios e Serviços Funerários) na gestão Marcelo Belinati (PP) e fez 2.118 votos. Ex-vereadora e ex-deputada estadual, Elza Correia (Cidadania) foi escolhida por 1.787 eleitores, mas seu partido não atingiu o quociente eleitoral e ficou sem a vaga.

Também ficaram de fora os ex-vereadores Amauri Cardoso (MDB), com 1.533 votos, e José Roque Neto, o Padre Roque (PRD), que fez apenas 516 votos - em 2009, ele chegou a assumir interinamente a Prefeitura de Londrina após a impugnação da candidatura do prefeito eleito Antônio Belinati.

“Na minha avaliação, o distanciamento temporário desses candidatos para com as atividades públicas e a ausência de exposição na mídia possibilitaram que outros atores políticos ocupassem os espaços por eles antes ocupados, como os mesmos redutos e bandeiras eleitorais”, afirma o advogado e cientista político Marcelos Fagundes Curti.

O especialista também lembra que as “demandas sociais de hoje não são exatamente iguais às demandas do passado”.

“Os novos atores políticos acabaram percebendo as novas demandas da sociedade e, por isso, tiveram mais êxito nessas eleições. Cito, a título de exemplo, o excepcional desempenho eleitoral do candidato Deivid Wisley, que conseguiu obter 16.212 votos e que adotou a causa animal como sua bandeira eleitoral”, completa.

A visibilidade e o momento político também são citados pelo analista político e professor Elve Cenci. “Quem detém mandato consegue manter-se visível. Se ficar acomodado, mesmo com mandato, acaba pagando o preço político da inércia. Não estou entrando no mérito da qualidade da atuação parlamentar”, afirma Cenci, que aponta que a militância - como a causa animal e a liderança de bairros - contribui para essa visibilidade.

“O segundo fator é o momento político. Estamos em um momento de fortalecimento da direita e da extrema-direita. Aqueles candidatos militantes das pautas bolsonaristas ou de costumes conservadores conseguiram bons resultados eleitorais”, acrescenta.

Há ainda um terceiro elemento que deve ser considerado, na avaliação de Cenci: a busca por algo novo em cada eleição. “Assim, nomes antigos acabam não tendo visibilidade, são identificados com o passado e não representam esse novo que mobiliza o eleitor. Obviamente, um nome novo não significa que será um vereador melhor”, pondera o analista. “Por fim, alguns desses nomes antigos estão identificados com momentos ruins da política londrinense, mesmo não tendo feito parte de escândalos que ocorreram na nossa história pregressa.”

ATUAÇÃO POLÍTICA

Em entrevista à FOLHA, Elza Correia reconhece que a menor visibilidade é um dos fatores que explicam seu resultado nas urnas - ela está sem mandato desde 2016. “A gente perde visibilidade, evidentemente, mesmo que continue atuando politicamente em coletivos, conselhos e outras estruturas políticas da sociedade”, afirma.

O Cidadania, que está federado com o PSDB, teve apenas seis representantes na chapa para a Câmara, sendo que Correia foi a mais votada.

“Eu fiz uma campanha propositiva, discutindo Londrina e as demandas reprimidas”, ressaltando que seus 1.787 votos são de eleitores que compreenderam sua proposta “de resgatar discussões que fazem parte e são fundamentais para nossa vida”.

“Acho que estamos vivendo outro momento político, em que as pessoas estão muito voltadas para as pautas de costumes, a causa animal, que é importante. O resultado das eleições na nossa cidade, para mim, foi uma radiografia deste novo momento político, desse novo jeito de fazer política”, acrescenta Correia.

“O resultado nas urnas no Brasil inteiro estão demonstrando um novo momento, novos interesses, novas preocupações, que não aquela que eu sempre tive como prioridade na minha vida política, a preocupação de garantir direitos e promover políticas públicas que façam a inclusão das pessoas”, completa.