Uma carioquinha bastante sapeca nascida no subúrbio de Piedade (onde aprontou muitas travessuras com os primos), pegou gosto pelo samba muito cedo ao frequentar a quadra da Portela em Madureira, vizinha da casa do seu avô. Mas, no final dos anos 50, a vida da nossa personagem, Maria Luíza Müller, mudou radicalmente ao trocar a Cidade Maravilhosa por Rolândia - seu pai havia passado num concurso federal. O choque foi brutal com a terra vermelha de barro e poeira, a ausência de pessoas negras, a grande quantidade de descendentes de japoneses e o medo que algumas pessoas tinham de um certo padre alemão.

Num curto período em que haviam retornado para o Rio, um amigo da família, de Rolândia, escreveu para que acolhessem seu filho, o estudante de engenharia Antônio Toninho de Oliveira Müller. Ele pediu ajuda à Maria Luiza para arrumar uma namorada. Ela até que tentou, mas a excessiva timidez do rapaz dificultava. Atrevida, ela então pediu Toninho em namoro. Depois de 7 anos, após uma festa de final de ano, ela deu o seguinte ultimato: “Ou você marca o casamento para o dia 8 de fevereiro (data de aniversário dele) ou está tudo encerrado”. A pressão deu certo, Toninho foi o grande amor de sua vida, eles tiveram os filhos Maria Fernanda e Antônio, e viveram juntos por 54 anos, até a morte dele em 2021.

Maria Luiza começou a fazer diferença em Rolândia quando passou em 1º lugar num concurso estadual de Educação. Em seguida, foi convidada pelos senhores Hans Kirchheim e Hans Helmut Behrend para ser a primeira diretora da Sociedade Escola Roland. Mesmo sem experiência, aceitou o desafio de lançar as bases de uma “escola de encontros, modelo, inovadora, inclusiva (30% de bolsistas), uma extensão dos lares com muitos pais dando aulas”, assim como sonhou o visionário Tio João – Hans Kirchheim. Ela permaneceu à frente da escola por 20 anos, e até hoje se encontra com alguns ex-alunos que ganharam o mundo.

Maria Luíza também foi a primeira mulher vereadora (por dois mandatos), presidiu partido político, foi chefe de gabinete da prefeitura e secretária de Cultura. Sua casa é aberta para o povo, mas já recebeu as mais importantes autoridades do Estado. Após ser cassado, o saudoso deputado Alencar Furtado sofreu uma espécie de isolamento. Mas na casa de Toninho e Maria Luíza foi acolhido de braços abertos. E na saída, manifestou sua gratidão e admiração ao casal pela sincera e fiel amizade.

Radialista há mais de 30 anos, a vinheta do seu programa foi carinhosamente criada por Milionário e Zé Rico. Apaixonada pelo carnaval, ela fundou três escolas de samba e sempre dá um jeito de colocar o seu bloco na rua. Além de dirigir o coral de idosos, ela fundou em 2018 o Teatrando, entre muitas outras atividades. Mas, a criação que saiu do fundo seu coração, com o apoio do saudoso padre José Agius e voluntários, e que permanece ativa há quase 25 anos, é a Ong Soame que acolhe e oferece contraturno e múltiplas atividades para crianças em estado de vulnerabilidade.

Por essa vida de dedicação à comunidade, o auditório do Colégio Roland leva o seu nome, ela recebeu Menção Honrosa da Assembleia Legislativa do Paraná, e por último, o título de Cidadã Honorária de Rolândia, proposição da vereadora Cristina Pieretti tendo Isaac Altino como coautor. A solenidade, na noite de 17 de maio, no Rolândia Country Club, foi prestigiada pelo cônsul honorário da Alemanha Ricardo Neukirchner, o prefeito Ailton Maistro, o deputado Cobra Repórter, o presidente da Câmara Reginaldo Silva e os demais vereadores, familiares, amigos e também pelas pessoas humildades que sempre caminham ao lado da homenageada.

Bem ao seu estilo, ela quebrou o protocolo, desceu do palco das autoridades, dirigiu o coral de idosos, sambou com os meninos da Soame e pediu um minuto de silêncio às vítimas do Rio Grande do Sul. Por fim, Maria Luíza declamou um poema de sua autoria, exaltou a cidade que foi Rainha do Café e hoje é oficialmente a Capital do Plantio Direto, criticou a complicada política local, mas encerrou seus versos sem perder a ternura, prometendo amar Rolândia incondicionalmente por toda sua vida.

Edinelson Alves, jornalista