É curiosa a lógica – ou a falta dela – que leva a alguns comportamentos. Trabalhadores da limpeza são, como a própria função sugere, os responsáveis por manter limpos os espaços públicos e privados que todos nós utilizamos. Quando executam seu trabalho adequadamente, o que depende não só de um esforço individual, mas também de condições apropriadas, permitem que possamos usufruir desses locais sem colocar em risco a nossa saúde.

Ainda assim, com uma frequência considerável, são tratados como a própria sujeira que limpam — ou até pior. Quem diz não sou eu, apesar da minha experiência de mais de 50 anos com a área de asseio e conservação. São os relatos que inspiraram o projeto de lei 7.687/17, que cria sanções para quem discriminar profissionais de limpeza pública e que foi recentemente apreciado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

“Relatos nos dão conta de pessoas que não entram em elevadores ou que não se sentam na mesma mesa quando estão na presença de um profissional de limpeza uniformizado. Outros relatos se referem a empregados de estabelecimentos que se recusam a atendê-los, em especial, estabelecimentos do setor de alimentação. Ou ainda coisas simples como não lhes dirigirem a expressão ‘por favor’”, diz a justificativa do projeto.

O trecho nos permite vislumbrar a difícil realidade de quem realiza um serviço pesado e de suma importância, mas que, histórica e culturalmente, é pouco valorizado por aqueles que se beneficiam desse trabalho – ou seja, toda a sociedade. É por isso que iniciativas como a deste projeto de lei são vistas com bons olhos por quem também trabalha para que os profissionais da limpeza – todos eles, não apenas os da limpeza pública – sejam reconhecidos e respeitados como merecem.

Porém, o fim do ciclo de desrespeitos também depende de outras ações, como a educação e a conscientização de toda a sociedade sobre a importância do trabalho de asseio e conservação. Somos rápidos em perceber o bem-estar, para usar uma expressão da moda, provocado por um espaço limpo e bem organizado, mas com frequência esquecemos que sem um grupo de profissionais especializados em limpar estaríamos expostos a um sem-fim de sujidades e microrganismos que representam uma ameaça para a nossa sobrevivência. Lembra do pior cenário da pandemia de Covid-19? Pois é.

Outra medida – essa muito cara a todos que, como eu, fazem parte da Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities (Facop) – é a capacitação dos trabalhadores do setor.

O benefício é amplo e irrestrito. Para os que frequentam lugares mantidos por esses profissionais, o trabalho capacitado traz a garantia de que a limpeza está bem feita. Os responsáveis por financiar o serviço também têm a certeza de que o uso de ferramentas e produtos está sendo feito de forma adequada e racional. E os próprios trabalhadores da limpeza, além de executarem suas funções de uma forma que preserve sua saúde, passam a entender o verdadeiro valor de seu trabalho, o que se reflete também em autoestima e empoderamento.

Enfim, se todos nos beneficiamos desse processo, todos devemos estar implicados em promovê-lo.

Pois, o trabalhador da limpeza é um Agente de Saúde.

E, gente não tem preço, gente tem valor.

Adonai Arruda, presidente da Facop ( Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities)