O rio Paraná no Mappa do Estado de SP (1913) apresenta dezenas de ilhas, atracadouros e localidades. Todas tinham nome. Eram associadas aos indígenas: “dos Índios”, Cayapós, Coroados, Chavantes, Guaranis, Guayanazes. Algumas tinham nomes de ribeirões, afluentes próximos. Outras, a sua conformação: Três Ilhas, Archipélago dos Chavantes e Ilha da Barra. Muitas ainda associadas a fauna e flora: Capivara, Piranha, Jahu, Pacú, Gaivotas, “Tigre”, Ortigas, Figueira. Finalmente, exceções como a Ilha da Commissão Geographica. Os rios, os nomes de ilhas e locais, mostram variedade e riqueza cultural na Raia São Paulo/Mato Grosso. Uma paisagem histórica caracterizada pela cênica margem de rio.

Com o alargamento do rio Paraná, resultante da construção da barragem Primavera (1980), uma profunda transformação ocorreu na região. A largura do rio que era de setecentos metros em média, chegou a trinta quilômetros. Anulou lugares, expulsou moradores e aniquilou modos de vida ribeirinha. Causou grande impacto. A proposta de compensação e mitigação não contemplou as perdas de paisagem histórica. Partes de ilhas, já sem nome, afloram em períodos de seca prolongada.

Agora um exemplo no rio Paranapanema. Em 1925, o Governo do Estado organizou um Mapa com o Plano de Viação do Norte do Paraná (Yamaki, 2017). Uma estrada partia de Cambará, passava por Carvalhópolis e depois seguia em direção à Barra do Tibagy, Paiol e São Salvador. Segundo Derron (1928), existia projeto de sua continuação ao longo do Valle do Paranapanema pelas povoações de Itaparica, Boa Esperança, Santo Inácio, e, futuramente até o Porto de São José, à margem do rio Paraná.

“Facilitar a colonização das áreas ainda despovoadas e policiar a referida zona”. A povoação de São Salvador havia sido criada com esse objetivo. Foi desapropriada uma área de dois mil hectares. Essa povoação era também o ponto final do ramal 2 da Estrada de Ferro Central do Paraná ajustada da Cia. Marcondes para a CTNP (1925). O ramal 2 partia de um afluente do Ivaí. A linha tronco, por sua vez, ia de Carambehy (EFSPRG) ao vale do Pirapó. São Salvador ficava na intersecção de porto, estrada e ferrovia.

As margens do rio Paranapanema foram parcialmente inundadas pela barragem de Capivara (1978). Hoje, quem trafega pela PR-090, de Alvorada do Sul à direção Oeste, transpõe a foz do ribeirão Vermelho. É possível avistar uma colina na margem esquerda, parte das terras de São Salvador. Nada lembra o estratégico local.

Reconhecer, resgatar e preservar paisagens cênicas históricas. Da próxima vez que passar pelo local, dê uma parada. Tente imaginar, contemplar São Salvador.

Humberto Yamaki (Coordenador do Laboratório de Paisagem UEL) - Londrina