Turbulências no mercado financeiro interno e externo fizeram o dólar subir e chegar a R$ 5,66 no dia 2 de julho. O valor recuou, mas não saímos do momento de indefinição econômica. Para especialistas ouvidos pela Folha de Londrina, a política fiscal do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva está pesando mais na alta do dólar e na desestabilização da economia do que as recentes falas do presidente sobre o BC (Banco Centra).

Desde o início do ano, a moeda norte-americana já se valorizou em aproximadamente 16% frente ao Real. Os quase R$ 5,70 alcançados em 2 de julho é o maior valor desde que Lula assumiu, em janeiro de 2023.

As críticas do presidente à taxa de juros, ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e à autonomia da instituição foram vistas como o grande fator na recente valorização do dólar. Mas, para analistas ouvidos pela reportagem, as falas do presidente são decorrentes da própria atuação do governo, que em abril deste ano decidiu revisar a meta de superávit primário (o resultado das receitas e despesas do governo, excetuando-se o pagamento de juros). Para 2025, a meta, que era de 0,5% do PIB, passou para déficit zero, a mesma deste ano.

O mercado entendeu essa medida como uma sinalização de que o governo não deverá promover cortes significativos nos gastos públicos, o que levou a projeções de elevação do dólar e da taxa Selic, a taxa básica de juros para a economia, para este ano. No dia 16 de junho, em uma decisão unânime, o Comitê de Política Monetária do BC manteve a taxa em 10,5%, decisão que interrompeu um ciclo de sete quedas consecutivas.

A flexibilização da meta fiscal também é apontada como ponto de partida para a elevação da moeda norte-americana. Neste cenário, a tendência é que os investidores apostem em uma moeda mais sólida.

Resumindo, três questões fizeram o caldo entornar na economia brasileira nas últimas semanas: as falas do presidente sobre o Banco Central, as incertezas sobre os rumos da economia global (principalmente nos EUA) e os problemas fiscais brasileiros. Daqui pra frente poucos querem prever os novos cenários. A única certeza é que essas turbulências e oscilações do dólar podem elevar a inflação e provocar efeitos colaterais diretamente no bolso do brasileiro. E inflação alta não interessa a ninguém.

Obrigado por ler a FOLHA!