Rio de Janeiro, Brazil - February 15, 2010: Samba school presentation in Sambodrome in Rio de Janeiro carnival. This is one of the most waited big event in town and attracts thousands of tourists from all over the world. The parade is happenning in two consecutive days and the samba schools are always trying their best to impress the judges. Every samba school have a bit more than one hour limit to do his presentation through the seven hundred meters avenue.
Rio de Janeiro, Brazil - February 15, 2010: Samba school presentation in Sambodrome in Rio de Janeiro carnival. This is one of the most waited big event in town and attracts thousands of tourists from all over the world. The parade is happenning in two consecutive days and the samba schools are always trying their best to impress the judges. Every samba school have a bit more than one hour limit to do his presentation through the seven hundred meters avenue. | Foto: iStock

Durante dois anos o grito carnavalesco ficou preso na garganta dos brasileiros. As restrições pela pandemia frustraram muitos foliões e, agora, com a liberação dos protocolos de segurança, parte da população troca as máscaras de proteção contra a Covid-19 pelas máscaras de lantejoulas, caras de palhaço e, as preferidas por muitos brasileiros, aquelas com a cara dos políticos.

Pudera, em ano de eleição nem precisa estimular o brasileiro a fazer sátiras no carnaval, já é praxe. Mas nem todas as críticas são personalizadas, o que vêm por aí são vários enredos que tocam na ferida da discriminação racial e na tristeza causada pelas perdas na pandemia, além, é claro, das críticas ao governo.

A Beija-Flor, escola de samba carioca prestigiada do Grupo Especial, vai cantar alto e bom som: "Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu, mas você não reconhece o que o negro construiu..."

A Portela , entre outras, também vem firme pondo a temática na roda para o Brasil inteiro ouvir e, quem sabe, compreender: "Quem tenta acorrentar um sentimento, esquece que ser livre é fundamento, matiz suburbano, herança de preto, coragem no medo!"

De crítica em crítica, o fato é que pôr o debate racial na avenida também é uma forma de fazer política e, se em alguns anos as escolas e os blocos já deixaram isso claro, agora a afirmação da identidade negra está mais forte que nunca e extrapola o carnaval para chegar, por exemplo, aos cinemas, onde o filme "Medida Provisória", dirigido por Lázaro Ramos, aproveita um ideia distópica - a de enviar os negros de volta à África - para também politizar as telas.

A Escola de Samba Viradouro, que vai evocar os orixás como deuses da cura, também vai desfilar lembrando a gripe espanhola de 2019 e sua conexão com a crise provocada pela pandemia no Brasil. A ideia geral, entre bumbos e tamborins, é fazer um carnaval cada vez mais politizado passando longe da ideia de um mero entretenimento, embora a ordem seja sambar e se divertir também.

Mas as baterias da polêmica se voltaram esta semana para São Paulo onde a Gaviões da Fiel decidiu fazer uma crítica política mais direta abordando a questão de gênero para se referir ao presidente da República. Depois de atirar no formigueiro e causar muita repercussão, a escola acabou assoprando um pouco o debate ao afirmar que o personagem que vão levar para a avenida "poderia ser qualquer governante da história do País", numa clara tentativa de baixar a poeira.

O fato é que o carnaval no Brasil sempre foi palco de protestos, sátiras de toda ordem, e dá para contar nos dedos os presidentes que nunca foram alvo de deboche bem embalado no ronco das cuícas.

Nesta sexta-feira (22), os desfiles começam nas duas grandes capitais brasileiras - Rio e São Paulo - e quem está no interior vai poder passar as madrugadas grudado na telinha enquanto aguarda, para o segundo semestre, um evento que não deixa de ser também uma festa calcada na ideia de mais democracia: as eleições.

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