Nos últimos anos, o Brasil registrou crescimento expressivo do número de ingressantes em cursos de graduação. Os dados mais recentes do censo da educação superior mostram que, entre 2021 e 2022, houve aumento de mais de 20% no total de novos estudantes de graduação. Já entre 2022 e 2023 o aumento foi de apenas 5%. Essa expansão entre 2021 e 2022 refletia uma mudança de paradigma: mais brasileiros enxergavam no ensino superior o caminho mais seguro para melhorar suas condições de vida.

No entanto, os dados de 2023 e 2024 trazem um alerta preocupante. Após anos de avanços, a quantidade de novos estudantes apresenta queda. Segundo o “Indicap Hoper”, pesquisa publicada recentemente pela consultoria Hoper Educação, houve redução de 4% no ingresso em instituições de ensino superior entre janeiro e agosto de 2024, comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse declínio acendeu um alerta nas instituições e no setor de ensino privado.

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Entre os fatores que explicam essa diminuição, um em especial tem gerado preocupação: o envolvimento de jovens com apostas online. Uma pesquisa da Educa Insights e ABMES revela que até 35% dos potenciais estudantes que planejavam ingressar em uma graduação em 2024 abandonaram esse objetivo, desviando suas economias para bets e jogos de cassino virtuais, como por exemplo o Jogo do Tigrinho. Essa nova tendência de comportamento está comprometendo o acesso à educação e desenhando um cenário de incertezas para o futuro.

Essa situação tem causado preocupação tanto para as famílias, quanto para as escolas. Para muitos pais - que veem a educação como o principal caminho para o sucesso dos filhos - o desvio de foco para apostas online é alarmante.

As escolas, por sua vez, enfrentam o desafio de competir com plataformas que prometem ganhos rápidos de forma ilusória. Para mitigar esse impacto, é urgente a adoção de uma abordagem eficaz de educação financeira nas escolas, que aborde a temática de forma clara, mostrando o quanto ela ajuda no planejamento individual e familiar.

Além disso, é importante oferecer apoio psicológico aos estudantes já envolvidos, promover uma regulamentação mais rigorosa e que limite o acesso dos jovens a esses sites. Apenas com uma ação coordenada entre famílias, instituições de ensino e governo será possível reverter essa tendência e garantir que a educação continue sendo a prioridade na vida dos jovens.

O impacto econômico das apostas online se estende a outros setores. De acordo com a consultoria PwC, esse mercado movimentou R$ 100 bilhões em 2023, representando cerca de 1% do PIB brasileiro. Esse cenário acende outro alerta para a economia como um todo, que enfrenta o desafio de lidar com o fenômeno de apostas, que tem absorvido parte do poder aquisitivo dos brasileiros.

Em meio a promessas ilusórias de enriquecimento rápido, é essencial lembrar que o ensino superior continua sendo o investimento mais seguro para o futuro. Dados do IBGE mostram que, em média, pessoas com diploma de graduação ganham quase três vezes mais do que aquelas sem educação superior: R$ 7 mil contra R$ 2.400. Enquanto as apostas online oferecem uma chance incerta, a educação oferece a certeza de melhores oportunidades de trabalho e renda.

Portanto, é fundamental que tanto os jovens, quanto as famílias reconheçam o valor de longo prazo da formação acadêmica e que as políticas públicas e instituições atuem juntas para garantir que a educação, e não o jogo, continue sendo a prioridade na vida dos brasileiros.

Rafael Zampar, diretor de Negócios do Grupo Integrado