Albert Einstein, certa vez, afirmou: “Existem apenas duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao universo.” Essa citação reflete bem a atual situação global em relação às armas nucleares.

Dados divulgados em 17 de junho de 2024 pela Campanha Internacional pelo Banimento de Armas Nucleares (ICAN) revelam que, em um único ano, US$ 91 bilhões foram gastos em armas nucleares por nove países: EUA, China, França, Índia, Israel, Coréia do Norte, Paquistão, Rússia e Inglaterra. Destes, os Estados Unidos, uma nação que se autodenomina um bastião da democracia, lideram os gastos com impressionantes US$ 51,5 bilhões, superando a soma dos demais países.

Alicia Sanders-Zakre, da ICAN, declarou que “a aceleração dos gastos com essas armas desumanas e destrutivas, nos últimos cinco anos, não está melhorando a segurança global, mas representando uma ameaça global”. Nos últimos cinco anos, o investimento total em armas nucleares atingiu US$ 387 bilhões.

Atualmente, existem aproximadamente mais de doze mil ogivas nucleares ao redor do mundo. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (SIPRI), 3.904 dessas ogivas estão prontas para lançamento imediato por mísseis e aeronaves. Isso levanta questões sobre quem são os "inimigos" e qual é o propósito de tamanhos investimentos em armas de destruição em massa? Sabemos que nessa ação nuclear ninguém será vencedor, teremos apenas perdedores.

O potencial destrutivo das armas nucleares é amplamente reconhecido. Apenas algumas delas poderiam devastar o meio ambiente global, causar inúmeras mortes imediatas e deixar vastas áreas inabitáveis devido à radiação. Essa radiação comprometeria a qualidade da água, do ar, da flora, da fauna e da produção de alimentos, tornando impossível a vida saudável nas regiões atingidas diretamente e pela radiação espalhada mundo afora.

Em abril passado, a Academia Nacional dei Lincei, em Roma, sediou uma conferência sobre os riscos nucleares e o controle de armas. O evento contou com a participação de professores universitários acadêmicos, representantes de organizações internacionais e diversos laureados com o Prêmio Nobel. Apesar das análises detalhadas, poucos resultados práticos foram alcançados.

Em 17 de junho de 2024, Jamil Chade, colunista do UOL para a Folha de São Paulo, afirmou que “as principais potências militares do mundo ampliam de forma dramática seus investimentos em armas nucleares, ampliando a tensão internacional”. Os acordos de redução de ogivas nucleares pós-guerra fria parecem não estar sendo respeitados, pelo contrário, há uma intensificação na construção de novas armas nucleares com tecnologias ainda mais destrutivas.

A ONU promove anualmente o "Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares", reafirmando, recentemente, o compromisso com um mundo livre dessas armas e as catástrofes humanitárias que sua utilização causaria. No entanto, os esforços têm sido insuficientes para conter a proliferação.

A atual tendência indica que os investimentos em armas nucleares provavelmente continuarão a aumentar nos próximos anos, uma situação altamente perigosa para a vida no planeta. EUA e Rússia juntos possuem quase 90% de todas as armas nucleares. Com os conflitos na Ucrânia, na Faixa de Gaza, no Sudão e outros locais, o risco de uma escalada nuclear cresce, colocando a humanidade em perigo iminente.

Albert Einstein advertiu que o ser humano não pode ser tão insensato quanto um rato que constrói sua própria ratoeira. Ele também questionou: "Por que essa magnífica ciência aplicada, que poupa trabalho e torna a vida mais fácil, nos traz tão pouca felicidade? A resposta simples é: porque ainda não aprendemos a fazer um uso sensato dela." Einstein acreditava que a paz e o bem-estar da humanidade não podem ser alcançados pela força, mas através do diálogo e da compreensão.

O dinheiro gasto em armas nucleares poderia ser redirecionado para investimentos racionais, inteligentes e humanitários: saúde, educação, habitação, combate à fome e à miséria, geração de empregos e preservação da biodiversidade. Essas são iniciativas de cuidado com a vida e que promovem um planeta seguro e habitável para todos os seres vivos.

É essencial desenvolver uma consciência de prioridades, valorizando a diversidade, o respeito e o cuidado com a vida nesta única Casa Comum. Como cidadão e cientista social, sinto o dever de alertar que o caminho atual levará à destruição do frágil e belo planeta que habitamos se já não bastasse às mudanças climáticas em curso com seus extremos climáticos. A trajetória que seguimos é equivocada e perigosa, e urge uma mudança de direção para garantir a sobrevivência e a continuidade da vida em Gaia.

Paulo Bassani é cientista social e ambientalista