A (in)tolerância nossa de cada dia
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sábado, 15 de agosto de 2020
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Matamos em nome de Deus, como se cada um tivesse um deus melhor. Insistimos em teimar, em nosso tacanho e desequilibrado senso de justiça, que os outros não terão, por seus pecados, a vida eterna, mas, nós, com os nossos, teremos.
Não há que se discutir, aqui, se Deus existe ou não, isso é uma questão pessoal, o que se pretende é que cada um compreenda o gesto tolerante de ceder, de dar um passo atrás e aceite as escolhas dos outros.
Somos homicidas, intolerantes e mesquinhos em nome da religião, em razão do dinheiro, do poder, de posses, da cultura, da cor da pele, da opção sexual, de ser o primeiro, daquilo que entendemos por feio ou bonito, numa sociedade viciada em sucesso.
Não sabemos, não queremos e não agimos para ceder o lugar, a vaga, servir nosso semelhante, afinal, nossas preferências são preconceituosas, arrogantes e egoístas.
A tolerância é algo que, desde cedo, abandonamos, em nome do egoísmo, esse sentimento soberbo de um orgulho estúpido.
Nossa intolerância não nos permite andar mais um pouco, dar a outra face, entregar com uma das mãos sem que a outra saiba, pois temos que ser o centro do universo, os aplausos pertencem a nós e, claro, a fama.
A tolerância e o egoísmo são inimigos, não conseguem ocupar o mesmo espaço, pois, para que um exista o outro tem que morrer, para que um cresça o outro tem que encolher.
A tolerância diz bom dia, passar bem, olá, muito obrigado, estou à disposição, conte comigo, por favor, parabéns.
A intolerância maltrata, humilha, julga e condena.
Não há sociedade tolerante quando grupos ficam se desafiando e se engalfinhando, por exemplo, por opção sexual. Ora, dentro da legalidade, do respeito e da educação, qualquer um tem o direito de fazer o que bem entende e, caso eu não concorde, paciência, preciso obedecer.
O que a pessoa faz, desde que não fira o direito de outrem, só interessa a ela, a mim, cabe respeitá-la, sempre.
O passado é a experiência e, de fato, é, pois alarga a tolerância, na busca de um futuro de esperança, vivendo um presente digno.
Aprendemos, como seres humanos, a valorizar os primeiros, os melhores, os mais bonitos, os que obtêm sucesso, os ricos, os poderosos, os que falam bem, enfim, aprendemos que assim é a vida e o resto que se vire, pois não somos tolerantes o bastante para ver esse resto e estendermos a mão, sim, aos fracos, aos oprimidos, aos pobres, aos fracassados, aos doentes, aos marginalizados e tantos mais que necessitam, ansiosa e urgentemente, de dignidade em suas vidas.
Quem somos nós para achar que somos melhores que os outros, senão uns demagogos intolerantes, débeis e soberbos a correr, desesperadamente, atrás de dinheiro e poder.
Quem sabe, com nossa intolerância exacerbada e tola, poderemos ter uma lápide com os seguintes dizeres: “Ganhei, eu tenho mais brinquedos” ou “Eu sou o mais rico do cemitério” – Tão rico, tão rico, que só tinha dinheiro.
Havendo legalidade e respeito, temos que aceitar ideias e comportamentos distintos dos nossos.
Há que se diminuir, dia a dia, a intolerância, essa atitude agressiva e repressora, caso queiramos um mundo melhor, mais humano, mais digno, mais justo e mais fraterno.
“A tolerância é a melhor das religiões” (Victor Hugo).
Antonio Valeriano Antunes Lopes (auditor aposentado do MP-PR) Londrina