Brasília e Buenos Aires - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (15) que não reconhece o ditador Nicolás Maduro como vitorioso nas eleições da Venezuela e sugeriu um governo de coalizão ou mesmo um novo pleito como saídas para a crise no país vizinho.

"Ainda não [reconhece Maduro como vitorioso], ele sabe que está devendo explicação para a sociedade brasileira e para o mundo, ele sabe disso", disse.

"Tem várias saídas, ou faz governo de coalizão, uma composição. Muita gente que não votou em mim e eu trouxe todo mundo para o governo. (...) Não quero me comportar de forma apaixonada e precipitada, quero resultados", afirmou.

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"Se ele [Maduro] tiver bom senso, podia tentar fazer conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer critério de participação de todos os candidatos, criar comitê eleitoral suprapartidário, que participe todo mundo e deixar que participem olheiros. O que não posso é ser precipitado e tomar decisão. Quero respeitar a soberania dos outros países", declarou.

A declaração foi dada em entrevista à Rádio T, em Curitiba. Lula está no Paraná para visitar uma fábrica de fertilizantes, uma refinaria e a fábrica da Renault.

Esta é a segunda vez que o presidente menciona a eleição no país vizinho. Na anterior, foi alvo de críticas por afirmar que não via nada de anormal na situação venezuelana. Aliados diziam que ele queria se referir ao dia da eleição, no sentido de que não houve violência.

Na entrevista desta quinta, ele buscou corrigir o rumo da declaração anterior e afirmou que o dia da eleição transcorreu sem suspeitas.

"É uma estupidez", afirmou o número 2 do chavismo, Diosdado Cabello, sobre a ideia ventilada por Celso Amorim para uma nova eleição na Venezuela como maneira de atenuar a crise que atravessa o país após a contestada reeleição de Nicolás Maduro.

"Não vamos repetir eleições coisa nenhuma", disse o vice-presidente do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), a legenda que controla o Estado venezuelano e tem Maduro na liderança. "Um segundo turno? Na Venezuela não há segundo turno. Senhores... Não se metam nos assuntos internos da Venezuela que vamos respondê-los."

Cabello falava no final desta quarta-feira (14) durante seu programa em rede nacional, o El Mazo Dando (batendo com o porrete). A referência ao Brasil veio após ele ler uma publicação na rede social X (a mesma que Maduro quer bloquear no país) crítica às falas de Amorim.

Deputado, ele é um dos nomes mais poderosos do chavismo e o número 2 do regime, ainda que a vice de Maduro seja Delcy Rodríguez. Representou o ditador em diversos atos da campanha eleitoral e atua como uma máquina de propaganda na TV e nas redes sociais.

CORINA

Realizar uma nova eleição ou construir algum modelo de compartilhamento de poder com o chavismo não é uma opção para a coalizão opositora diante da crise na Venezuela, afirmou a líder opositora María Corina Machado na tarde desta quinta-feira (15).

A jornalistas regionais em uma entrevista coletiva com participação da reportagem a ex-deputada liberal, que levou milhares de cidadãos às ruas na campanha política que antecedeu o pleito, disse que propor novas eleições é "uma falta de respeito com os venezuelanos".

"Se eles [o regime] não gostam dos resultados fazemos o quê? Vamos a uma terceira [eleição]? Uma quarta? Uma quinta? Vocês aceitariam isso nos seus países? Que os resultados, se não são satisfatórios, levem a novas eleições? Tivemos eleições em meio a uma tirania."

María Corina também rechaçou a ideia de uma coalizão, que vem sendo ventilada pelo governo Lula e mais recentemente pela Colômbia de Gustavo Petro. "Há que ter muito cuidado. Em outros exemplos de coalizão havia diferenças políticas entre grupos em conflito, mas esses mesmos grupos eram democráticos. Não é o caso. Oferecemos incentivos, mas em uma transição de poder democrática."

Inabilitada para concorrer nas urnas e substituída por Edmundo González, ela afirma que "não há volta". "Estamos decididos a manter a pressão. Manter a nossa força interna com inteligência. Pela primeira vez em 25 anos [de chavismo] e mais de 30 eleições, temos as provas de nossa vitória", seguiu, referindo-se às atas eleitorais que tem divulgado.

Ela pede que se negocie uma transição para que Edmundo González assuma o Palácio de Miraflores. "Não é um esquema de power sharing [compartilhamento de poder] em que Maduro oferece algumas vagas e segue ali. Mas estamos dispostos a oferecer garantias, salvaguardas e incentivos no processo de negociação."

BIDEN

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta quinta-feira (15) ser a favor de uma nova eleição na Venezuela. Questionado por um repórter na Casa Branca se ele apoiava a ideia de realizar um segundo pleito após a contestada disputa, Biden respondeu: "Eu apoio". Foi a primeira manifestação dele sobre a crise venezuelana - até então, só o Departamento de Estado e assessores haviam se manifestado.

Mais cedo, o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, tinha se recusado a comentar especificamente o pedido de novas eleições, mas reiterou as preocupações americanas sobre a conduta na votação.

A entidade eleitoral da Venezuela "ficou aquém de tomar medidas básicas de transparência e integridade e não seguiu disposições legais e regulatórias nacionais", disse Patel aos repórteres.

Patel se referiu a um relatório recente de especialistas da ONU (Organização das Nações Unidas), que concordaram em que "não há precedente para um anúncio tal de resultado eleitoral sem a publicação deste tipo de detalhes e registros e, portanto, é por isso que continuamos pressionando".