Coroação de Charles 3º aos 74 anos levanta debate sobre saúde, longevidade e trabalho
Para especialistas, a saúde deve ser vista com atenção, ao passo que há um impacto positivo para o mundo corporativo
PUBLICAÇÃO
domingo, 07 de maio de 2023
Para especialistas, a saúde deve ser vista com atenção, ao passo que há um impacto positivo para o mundo corporativo
Danielle Castro - Folhapress
Ribeirão Preto, SP - O rei Charles 3º foi coroado no sábado (6) aos 74 anos - idade em que muitos já estão aposentados em diversos países do mundo. Então, o que significa para sua saúde assumir o maior posto da família real britânica?
A participação de membros da sua geração ou mais velhos em cargos de alto escalão político traz um novo debate sobre saúde, longevidade e trabalho. Para especialistas ouvidos pela reportagem, a saúde deve ser vista com atenção, ao passo que há um impacto positivo para o mundo corporativo.
O clínico geral e geriatra Paulo Camiz, professor do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), diz que o avançar da idade representa algo que vai na direção oposta do que ocorre no início da infância.
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"Às vezes a criança muda muito rápido no ascendente. Você fica pouco tempo sem ver alguém de 3 ou 4 anos e se impressiona com o desenvolvimento dela. O idoso, principalmente a partir dos 80 anos, pode ter uma mudança muito rápida também em termos de funcionalidade, mas na direção descendente. As pessoas falam - nossa, mas eu estive aqui com ele três meses atrás e agora ele deu uma piorada muito abrupta", analisa o médico.
Esse envelhecimento repentino é o principal risco para pessoas na terceira idade, segundo Camiz. Quando o assunto são cargos políticos, é preciso cuidado para que as responsabilidades associadas ao posto não acelerem esse declínio.
"É claro que, às vezes, a saúde física não é o principal porque tem todo um suporte, não implica necessariamente na pessoa estar em perfeita habilidade, mas em toda uma estrutura que a leva a tomar decisões melhores", pontua.
Doenças sem prevenção ou cura, como a demência, têm maior incidência conforme a idade avança. Charles não possui problemas de saúde evidentes, apesar dos inchaços recorrentes em seus dedos, o que já lhe rendeu o apelido de "dedos de salsicha".
"Podem ter várias causas possíveis para isso, como doenças reumatológicas ou efeito colateral de alguns remédios também. Tem que ver como é a evolução e como isso vai se manifestar nos próximos anos", afirma Camiz.
A família real possui um histórico de longevidade e cuidados. Elizabeth Bowes-Lyon, a "rainha-mãe" e avó de Charles, viveu até os 101 anos. Seu pai, o príncipe Philip, chegou aos 99.
Elizabeth 2ª, sua mãe e antecessora, assumiu o trono aos 25 anos e teve o mais longo reinado britânico: governou por 70 anos até sua morte, em setembro de 2022. Ela tinha 96 anos e era vista como um exemplo de longevidade.
Para Fernanda Minniti Mançano, gerente nacional de recursos humanos do Grupo Brasilux e idealizadora da Seniors Longevidade, é tempo de normalizar a questão.
"Precisamos combater o etarismo e fomentar a diversidade etária. Líderes mais velhos trazem história, vivência e bagagem. Nos permitem olhar as situações com olhos mais empáticos. Tem senso de urgência apurado, pois querem ver as coisas aconteceram. A riqueza da troca entre gerações está sendo uma grande perda", afirma Mançano.
A gerente reconhece que o avanço da idade reduz o vigor físico, mas destaca que a tecnologia abre possibilidades menos desgastantes. "Não é porque envelhecemos que perdemos a vontade de aprender, ensinar e nos aprimorar. Para todos nós, envelhecer deve ser sinônimo de vida, com alguns ajustes, mas vida", diz.
Marcela Buttazzi, diretora da MB Carreira & Recolocação, tem em casa um exemplo. Ela atuou na recolocação de sua mãe, hoje com 75 anos, após a aposentadoria.
Para ela, a "maturidade emponderada", com profissionais se mantendo mais tempo no mercado, é uma tendência que veio para ficar. "Os meus clientes hoje são de cargos que vão de um analista sênior a um executivo e todos desejam continuar trabalhando", diz.
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