A fuga de 36 dos 118 presos diagnosticados com a Covid-19 da Cadeia Pública de Cambará (Norte Pioneiro), no início da manhã desta terça-feira (22), voltou a expor um grande desafio imposto ao sistema penal paranaense pela pandemia do coronavírus: o de evitar surtos da doença no lado de dentro das carceragens, a maioria delas superlotadas. A FOLHA apurou que até o final da tarde desta terça, a Polícia Militar havia recapturado seis fugitivos e o túnel cavado pelos internos foi fechado ainda durante o dia, informou o Depen (Departamento Penitenciário). Além deles, dois servidores da unidade também foram diagnosticados com o vírus.

Superlotação de carceragens é problema comum no País
Superlotação de carceragens é problema comum no País | Foto: Ricardo Chicarelli/4-7-2012

Com espaços que operam na maioria das vezes acima da capacidade e que não possuem a circulação de ar adequada, o clima de apreensão entre os policiais penais volta a lembrar a população paranaense de que muitas carceragens do estado são como bombas-relógio. “Toca o telefone e eu penso ‘onde foi desta vez?'”, comentou o coordenador regional do Depen (Departamento Penitenciário), Reginaldo Peixoto.

Em junho, 122 presos dentre 178 que estavam na cadeia de Toledo (Oeste), haviam sido diagnosticados. Eles ocupavam um local com capacidade para 40 presos. Já em agosto, a Secretaria de Saúde de Londrina e o Depen identificaram um surto no Creslon (Centro de Reintegração Social de Londrina), local destinado aos detentos que obtiveram o direito de cumprir suas penas no regime semiaberto. Foram 114 diagnosticados com a Covid-19 na primeira testagem e outros 12 em um segundo momento, afirmou o coordenador.

Entretanto, o coronavírus também não poupou quem está do lado de fora das grades. Segundo o monitoramento do Sindarspen (Sindicato dos Policiais Penais do Paraná), 190 policiais penais já foram contaminados desde o início da pandemia no estado. Um deles, de 43 anos e que trabalhava na Região Metropolitana de Curitiba, morreu em decorrência da doença. Já entre os quase 30 mil presos do Paraná, o sindicato aponta que 589 já foram contaminados e três morreram.

Proporcionalmente, o número de casos registrados em servidores supera o das pessoas privadas de liberdade, destacou o vice-presidente do Sindarspen, José Roberto Neves. Para ele, os dados são “assustadores” se levados em conta a subnotificação gerada pela “ausência de uma política de testagem efetiva”, avaliou.

“Sempre batemos na mesma tecla: é preciso ter uma política de testagem. Não há como pensar no combate de um problema como este de outra forma. Hoje, pela proximidade, com o contato com a massa carcerária, muitos podem estar assintomáticos e o estado precisa dar um passo adiante, não esperar acontecer”, lamentou.

Após o surto no Creslon, o Ministério Público enviou um ofício ao Depen em que solicitava informações sobre a situação das outras unidades e se posicionava pela testagem em massa da população penal de Londrina.

Questionado sobre o tema na tarde desta terça-feira, Peixoto explicou que está seguindo o entendimento da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) de testar apenas os casos suspeitos e avaliou como satisfatórias as medidas de enfrentamento até o momento. “Embora a gente não esteja contente com o contágio, estamos satisfeitos com a forma como a situação vem sendo gerida. Conseguimos fazer o atendimento daqui. Não está saturando a rede pública de saúde", avaliou.

Sob sua responsabilidade estão cerca de 6,5 mil presos de 75 municípios e, de acordo com ele, pelo menos mil testes já foram aplicados. “Na primeira testagem foram 435 no Creslon, em Jacarezinho testamos 140 e nenhum foi confirmado, 214 em Arapongas, 180 em Rolândia e 122 em Cambará”, contou. Dentre os mais de 950 testados, cerca de 250 tiveram os exames confirmados nestes municípios desde o início da pandemia.

Questionado, Peixoto afirmou que as duas unidades da PEL (Penitenciária Estadual de Londrina) não possuíam casos positivos da Covid-19. Dos 3,2 mil presos atualmente em Londrina, 800 são presos provisórios e todos continuam sem receber visitas de familiares como forma de conter a transmissão.