IIuminação deficitária, trânsito muito movimentado e sinalização ruim são problemas que os idosos enfrentam em muitas cidades
IIuminação deficitária, trânsito muito movimentado e sinalização ruim são problemas que os idosos enfrentam em muitas cidades | Foto: iStock

Com o envelhecimento da população impulsionado pela maior expectativa de vida, investir em ações para melhorar a mobilidade urbana dos idosos se torna uma prática cada vez mais urgente.

“Problemas como obstáculos em calçadas estão entre os mais frequentes”, destaca Rubens de Fraga Júnior, médico especialista em geriatria e gerontologia e docente da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, em Curitiba.

Para estimular o envelhecimento ativo, existem alguns aspectos definidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde), no Guia Global Cidade Amiga do Idoso. Ao analisar alguns aspectos, pode-se levantar um perfil dos locais com maior acessibilidade.

“Locais da cidade que oferecem calçadas acessíveis, espaços verdes públicos conservados, arborizados e seguros, além de mobiliário urbano para descanso podem favorecer o deslocamento a pé dos idosos, fator importante na promoção da prática de atividade física e no combate ao isolamento social”, diz Catharina Cavasin Salvador, doutoranda do curso de pós-graduação em arquitetura e urbanismo do programa associado UEM/UEL e docente na Universidade do Alto Vale do Itajaí

Ela considera que, no contexto espacial de Londrina, a má iluminação das ruas, o alto tráfego de veículos e a pouca sinalização podem causar insegurança aos pedestres e dificultar a prática da caminhada.

Outro aspecto mencionado pelo Guia da OMS é o transporte público, que deve ser acessível, frequente e barato, oferecendo informações de fácil entendimento e permitindo que o idoso se desloque a destinos importantes, como postos de saúde e hospitais públicos, por exemplo.

“Em Londrina, apesar da isenção da tarifa para a população acima de 65 anos, o transporte público apresenta superlotação, pontos de ônibus sem manutenção e pouca informação sobre como utilizar o transporte e as rotas”, diz Salvador.

No âmbito privado, Catharina defende que edifícios promovam a acessibilidade ao idoso com recursos que exigem baixo esforço físico, como rampas, pisos antiderrapantes, corrimãos em escadas, elevadores e banheiros acessíveis. “É importante lembrar que, ao preparar a cidade para a população idosa futura, criamos uma cidade segura para todos.”

ÊXODO

Milena Kanashiro, docente do programa associado UEM/UEL de pós-graduação em arquitetura e urbanismo, considera que, nos grandes centros urbanos brasileiros, o centro da cidade já não é local dos idosos, em um processo de gentrificação.

O processo significa a transformação de centros urbanos por meio da mudança dos grupos sociais ali existentes, onde sai a comunidade de baixa renda e entram moradoras das camadas mais ricas.

“Porém, em cidades com o porte de Londrina ou mesmo Florianópolis, ainda pode-se afirmar que essa parcela da população tem a região central como local de moradia, que apresenta uma boa infraestrutura”, pondera.

Com relação aos bairros, a docente considera que os idosos poderiam ter uma mobilidade ativa para se deslocar a pé para suas atividades cotidianas – fazer compras, ir a lotéricas, encontrar com amigos e familiares.

“Para isso, bairros com uma mistura de usos facilitariam. Nesse sentido, as legislações de ordenamento urbano deveriam, além de contemplar, incentivar usos não residenciais nos bairros de Londrina.”

Kanashiro defende que a qualidade das calçadas, como pavimento e sombreamento, são itens essenciais para um deslocamento seguro dos idosos.

“A legislação indica a responsabilidade do proprietário perante a área da calçada. Com novas tecnologias, como o drone ou mesmo fotos aéreas recentes disponibilizadas a uma curta distância, a avaliação poderia ser realizada. Será que incentivos no IPTU para calçadas mais amigáveis poderia ser uma estratégia?”, sugere.

EXEMPLO

Pato Branco foi a primeira cidade do Paraná certificada como Cidade Amiga do Idoso, pela Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) e pela OMS.

O reconhecimento deve-se à implementação de políticas públicas, serviços, equipamentos e infraestrutura capazes de promover a participação do idoso na cidade e no bairro, de forma segura e qualificada. Outras cidades paranaenses que receberam o título foram Irati e Realeza.

Em Pato Branco, as calçadas em pelo menos 60% das ruas têm piso tátil orientável. O terminal central de ônibus está sendo finalizado e deverá ser entregue nos próximos meses.

“Além da facilidade do idoso para chegar ao terminal, através de rampas acessíveis, haverá o ponto onde o ônibus vai parar, de modo que a porta do ônibus será aberta e o nível do veículo estará no mesmo nível interno do terminal. Com isso, o idoso não vai ter nenhuma dificuldade para subir”, explica Gilmar Tumelero, secretário municipal de Planejamento Urbano de Pato Branco.

Segundo a OMS, o transporte público deve ser acessível, frequente e barato, oferecendo informações de fácil entendimento e permitindo que o idoso se desloque a destinos importantes, como postos de saúde e hospitais
Segundo a OMS, o transporte público deve ser acessível, frequente e barato, oferecendo informações de fácil entendimento e permitindo que o idoso se desloque a destinos importantes, como postos de saúde e hospitais | Foto: iStock

ESFORÇO

O geriatra Rubens de Fraga Júnior considera que contemplar a mobilidade aos idosos exige o esforço de uma equipe multidisciplinar. “Precisa de adesão de autoridades eleitas, cidadãos, líderes empresariais, planejadores regionais, especialistas em transporte, organizações sem fins lucrativos e sistema de saúde”, destaca.

A OMS certifica municípios que desenvolvem iniciativas relacionadas ao Guia Global Cidade Amiga do Idoso contemplando as 8 dimensões da vida que influenciam a saúde e a qualidade de vida dos idosos – uma delas é a mobilidade.

São elas: espaços abertos e prédios; moradia; participação social; respeito e inclusão social; participação cívica e emprego; comunicação e informação; apoio da comunidade e serviços de saúde.

“Ao adaptar o espaço urbano para atender esses aspectos, é possível promover espaços acessíveis que favorecem o ‘envelhecer no seu próprio lugar’ (Age in Place)”, explica Salvador. No Brasil, o pioneirismo na certificação cabe a Porto Alegre (RS).

PLANO

Catharina sugere que, no caso específico de Londrina, deveria ser definido como objetivo ser uma Cidade Amiga dos Idosos, de maneira que seja criado um plano de ação para implementação de políticas nos próximos anos para essa população.

“Uma das primeiras estratégias poderia ser identificar os bairros com maior proporção de idosos, ouvindo-os em conselhos consultivos, e viabilizando programas de políticas públicas intersetoriais. Ao desenhar uma Cidade Amiga do Idoso, desenha-se para todas as idades. Todos são beneficiados, independente da faixa etária”, conclui.

AÇÕES

O diretor-geral da TCGL (Transportes Coletivos Grande Londrina), Rodrigo Aparecido de Oliveira, destaca que, além de garantir os direitos como a gratuidade da passagem e assentos preferenciais nos ônibus para os idosos, a empresa investe no atendimento específico a essa faixa etária.

“Proporcionamos treinamento aos nossos motoristas para que deem um atendimento diferenciado aos idosos, que inclui desde a legislação e das políticas públicas adotadas para essa população até os aspectos sociais, como o papel do idoso dentro da família, que é essencial.”

O diretor acrescenta que o idoso se envolve em muitas atividades hoje, como cuidar dos netos, ir ao banco, trabalhar para ajudar no sustento dos familiares, participar de projetos da Secretaria do Idoso, e tudo isso motiva o idoso a utilizar o ônibus.

“Os motoristas são orientados, principalmente, a dar atenção especial aos idosos durante o embarque e o desembarque, além de dirigir defensivamente para oferecer segurança durante o trajeto”, conclui.

PODER PÚBLICO

Por meio de nota, a Prefeitura de Londrina declarou que tem desenvolvido diversas ações para aprimorar a mobilidade das pessoas idosas.

“Por meio da Secretaria Municipal do Idoso, tem uma participação ativa no Grupo de Trabalho no Trânsito, formado por diversas entidades e organizações, como o Ministério Público. Diversas ações, como faixas elevadas de trânsito, instalação de botoeiras em semáforos, faixas de trânsito e corrimões em diversas vias foram consequência dessa atuação.”

A CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), por meio da Diretoria de Trânsito, realiza campanhas permanentes com palestras direcionadas para as pessoas idosas.

“Essas palestras são realizadas pela equipe da Educação no Trânsito em parceria com instituições, organizações e os Centros de Convivência do Idoso. O tema mais trabalhado é travessia de pedestre.” Na Semana do Trânsito, realizada no mês de setembro, também são organizadas ações específicas para os idosos.

A Prefeitura de Londrina também tem realizado obras adaptando espaços para facilitar a locomoção e a utilização por idosos, entre elas readaptação em terminais de ônibus que passaram por reformas.