Prevista para ser inaugurada no primeiro semestre deste ano, a Penitenciária Estadual 3 de Londrina deverá aliviar a superlotação de unidades prisionais do município. A unidade conta com 6,5 mil metros quadrados de construção e capacidade para abrigar 752 detentos que serão transferidos de unidades prisionais localizadas em cerca de 70 cidades do Norte do Paraná, incluindo Londrina.

De acordo com o CNJ, as unidades 1 e 2 da PEL abrigam abrigam 2.710 detentos, mas juntas somam 1.996 vagas
De acordo com o CNJ, as unidades 1 e 2 da PEL abrigam abrigam 2.710 detentos, mas juntas somam 1.996 vagas | Foto: Ricardo Chicarelli/22-1-2013

Hoje, as três unidades prisionais de Londrina estão superlotadas. Somadas, a CCL (Casa de Custódia) e as Penitenciárias 1 e 2 abrigam hoje 2.710 detentos, segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), mas juntas somam 1.996 vagas.

Separadamente, a situação é pior na CCL, que oferta 384 vagas, mas abriga 644 presos, quase 68% a mais do que a sua capacidade. A Penitenciária 1, por sua vez, tem capacidade para 504 detentos, mas atende hoje 768 presos, 52% acima do ideal. E a Penitenciária 2 oferta 1.108 vagas, mas abriga 1.298 presos, 17% a mais que a capacidade.

O advogado Adriano Pontes Venturini, coordenador da Comissão dos Estabelecimentos Prisionais da OAB de Londrina, explica que a Penitenciária Estadual 3 advém de uma ação civil pública ajuizada pela OAB-PR, que concordou com um relatório feito pela entidade em Londrina sobre as condições carcerárias, concluindo ser imprescindível a construção de uma terceira unidade. “Ação julgada procedente e que obrigava o Estado do Paraná a construir essa terceira unidade.”

Venturini explica que, com a inauguração, haverá uma migração dos presos que estavam em delegacias de polícia para um estabelecimento prisional. “Isso muda muito a condição desse preso. Estando em um estabelecimento prisional, esse detento pode ter acesso a leitura, a trabalho, a estudo. Com isso ele pode remir a pena dele, diminuindo sua estadia no sistema prisional através de aprendizado de uma profissão e de capacitação. Sem contar as condições das instalações que permitem visitas íntimas ou não, banhos de sol, exercícios, menos detentos por cela, atendimento mais privativo e adequado com o seu procurador”, lista.

O coordenador acrescenta que esta unidade vai atender boa parte da região de Londrina e isso possibilita também mais segurança para moradores que conviviam com delegacias lotadas, sob risco de rebeliões, liberando os agentes públicos para fazerem aquilo para o qual foram contratados e deixando a guarda desses detentos para a polícia penitenciária.

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“Significa um avanço para familiares, presos e para a advocacia sem dúvida alguma. A sociedade como um todo se beneficia, uma vez que há maiores chances de uma ressocialização penal quando o detento pode usufruir de fato da Lei de Execuções Penais e de um estabelecimento prisional que o atenda de forma mais humanizada e estruturada”, diz.

Após a transferência, as carceragens de Bela Vista do Paraíso, Marilândia do Sul e Uraí deverão ser desativadas.

MELHORIA

Segundo o coordenador, a melhoria do sistema prisional passa por múltiplas questões. “Temos déficit de vagas, déficit de pessoas contratadas no que diz respeito ao Estado, há questões envolvendo preconceitos da sociedade que dificultam o acesso desses presos estando em regime semiaberto ou aberto no que diz respeito à oferta de vagas de emprego. Além disso, temos uma quantidade de processos absurda por conta da questão socioeconômica que sobrecarrega e muito o sistema judiciário”, lista.

Venturini ressalta que melhorar o sistema prisional começa pela educação, impedindo a busca da sobrevivência por meio do crime. “Também seria buscar aquele que de fato é o ‘dono’ e não o traficante de esquina, dar tratamento àquele que trafica para sustentar o uso, sua adicção (dependência química) e não condená-lo sucessivas vezes. Tudo isso sobrecarrega o sistema. Se esses atos fossem tomados, diminuiria muito o número de detentos.”

EGRESSOS

O coordenador destaca ser necessário a sociedade entender que o indivíduo não estará eternamente isolado dela. “Ele não foi expulso e sim temporariamente retirado do convívio social. Então empresas que queiram investir com maquinário dentro desses estabelecimentos para que os presos tenham profissão e trabalho, que desejem contratar através de convênios com o Estado, são bem-vindas.”

Estatísticas mostram que os três primeiros meses após a saída do sistema prisional são cruciais para que esse indivíduo permaneça ou não na rua. “São nesses 90 dias que ele busca de fato se posicionar honestamente, trabalhar e estudar. Mas se não consegue nenhum emprego, em especial porque percebe ser oriundo do sistema prisional, de alguma forma esse ser humano irá sustentar sua família. É preciso que a sociedade se prepare para o egresso dos presos”, conclui.

ADEQUADO

A defensora pública Francine Faneze Borsato Amorese, que atua na área de Execução Penal em Londrina, destaca que uma nova penitenciária representa o esvaziamento de presos condenados das cadeias das cidades da região, oferecendo-lhes um local adequado para o cumprimento de pena.

“Todos os presos já condenados pela Justiça deveriam cumprir suas penas em penitenciárias. Devido à ausência de vagas, muitos permanecem em cadeias, local inadequado para a execução da pena nos termos da lei e, em especial, sem a possibilidade de trabalhar e estudar”, diz.

Ela acrescenta que quando o apenado está em um local adequado, pode diminuir sua pena através do estudo/trabalho, tem a oportunidade de aprender um ofício e inclusive terminar seus estudos.

“Aqui em Londrina, graças a um projeto apoiado pelo juiz e pelo promotor, o apenado pode, inclusive, cursar uma faculdade e sair formado em um curso superior. Isso não é bom apenas para quem cumpre a pena, mas para todos nós. Aqueles que pensam que isso é desnecessário precisam lembrar que em algum momento o apenado será libertado e o tratamento e oportunidades que recebe no curso da pena podem pesar na escolha de seu modo de vida e, por consequência, nos beneficiar com a diminuição da criminalidade.”

A defensora acrescenta que o órgão está se esforçando ao máximo para garantir todos os direitos legais dos reeducandos com processos que tramitam na Vara de Execuções Penais de Londrina.

A Defensoria Pública conta com duas defensoras públicas e também uma equipe de apoio, que atuam nos processos de todos os reeducandos que não possuem condições de contratar um advogado particular.

“Além dos casos individuais, a Defensoria zela pelo coletivo de presos, expede recomendações e atua em pedidos de providências judiciais, cuidando de assuntos como a vacinação neste momento de pandemia. Importante ressaltar que a vacinação dos presos nesta Comarca foi impulsionada pela Defensoria Pública, através de contato com os órgãos responsáveis, de forma que fomos uma das primeiras cidades do Estado a vacinar seus presos, cumprindo o Plano Nacional de Vacinação”, citou.

A defensora destacou que, em breve, dois novos assessores que prestarão reforço dentro das penitenciárias começarão a atuar, inclusive na nova Penitenciária 3 de Londrina. “Eles estarão todos os dias realizando atendimento direto aos detentos, para que possamos garantir que não haja violação de direitos.”

Para a defensora, a situação do sistema carcerário do Paraná não foge à realidade do país, com superlotação e crescimento no número de presos, dia após dia.

“Certamente a criação de uma nova penitenciária ajuda nesta questão, mas precisamos nos lembrar que a mudança real vem de políticas públicas que poderiam alterar a realidade social e começam no acesso de todas as crianças às escolas, oportunidades iguais, vagas de emprego, tratamento da drogadição em vez de criminalização, dentre outras. Esse é um tema bem complexo”, conclui.

REORGANIZAÇÃO

Cristina da Silva Souza Coelho, coordenadora estadual da Pastoral Carcerária, explica que o grupo de voluntários está em fase de reorganização neste momento para que sejam reiniciadas em breve as visitas semanais nas Penitenciárias de Londrina.

“Mostramos que Jesus perdoa, é misericordioso e que todos têm a chance de se recolocar na sociedade. Hoje temos uma equipe organizada que vai semanalmente visitar as mulheres na Cadeia Pública de Londrina, no Jardim Bandeirantes. Levamos a palavra de Deus, o amor, o carinho e verificamos as grandes mazelas dos presídios, como a falta de necessidades básicas, como roupas, material de higiene, medicação, doenças. Buscamos uma alternativa para todas essas questões.”

TRISTEZA

Cristina destaca que a Pastoral vê com “muita tristeza” a inauguração de uma nova penitenciária em Londrina. “A maioria dos que estão lá é jovem, pobre e preta. Infelizmente a legislação que olha para esses meninos só tem a perspectiva da política do encarceramento. Ao tirar a liberdade de uma pessoa, você a leva para um submundo, uma outra perspectiva em que ela perde o chão da própria vida. A prisão não educa, não muda as pessoas. Pelo contrário, faz com que ela cada dia mais entre no mundo do crime. A cidade deveria estar preocupada em investir em políticas públicas de atendimento a esses jovens, que dessem oportunidades a eles.”

Uma das propostas da Pastoral é a Justiça Restaurativa, que tem uma perspectiva não punitiva, mas retributiva. “Em momento nenhum pensamos em passar a mão na cabeça da pessoa que comete um ato infracional, pelo contrário. Nós achamos que ela deve pagar, mas de uma outra forma, não pelo cárcere.”

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a Justiça Restaurativa consiste em qualquer processo no qual a vítima e o ofensor e, quando apropriado, quaisquer outros indivíduos ou membros da comunidade afetados por um crime participam ativamente na resolução das questões oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador.

AMPLIAÇÃO

Por meio de nota, a Sesp (Secretaria da Segurança Pública do Paraná) informou que o investimento na Penitenciária 3 é de cerca de R$ 18 milhões e tem como objetivo ampliar as vagas do sistema prisional do Estado.

“A construção dessa obra faz parte de um planejamento para desafogar o sistema penitenciário do Estado que tinha uma superlotação histórica, ou seja, com esta e outras obras, esse problema está sendo amenizado e a população carcerária tendo mais espaço e melhor tratamento penal.” Segundo a Sesp, o sistema penitenciário contará com outras novas unidades ainda em 2022. Além de Londrina, devem ser entregues, ainda no primeiro semestre, cadeias públicas em Foz do Iguaçu, Guaíra e Ponta Grossa, além de outras no segundo semestre deste ano. “Já foram entregues penitenciárias em Curitiba, Foz do Iguaçu, Campo Mourão, Piraquara, entre outras ampliações e reformas.”

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