Homem negro morre após ser espancado por seguranças do Carrefour
Caso foi registrado em loja do Carrefour em Porto Alegre e gerou protestos em várias cidades do País
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
Caso foi registrado em loja do Carrefour em Porto Alegre e gerou protestos em várias cidades do País
Cristina Camargo e Paula Sperb – Folhapress
São Paulo e Porto Alegre - A polícia de Porto Alegre (RS) investiga o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, que foi espancado até a morte por dois seguranças de uma loja do supermercado Carrefour localizada no bairro Passo d'Areia, na zona norte da cidade.
Vídeos que mostram o espancamento em frente à loja e a tentativa de socorristas de salvarem o homem, conhecido como Beto, circulam nas redes sociais desde a noite de quinta-feira (19) e provocam mobilização contra o racismo.
Beto morreu na véspera do Dia da Consciência Negra, comemorado ontem, em referência à morte de Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, localizado entre Alagoas e Pernambuco.
"Ainda nas primeiras horas dessa data, estamos falando sobre mais um episódio brutal de racismo e de novo no Carrefour. De 20 de novembro a 20 de novembro e todos os dias, a estrutura racista deste país nos traz brutalidade como regra", reagiu Raull Santiago, ativista e fundador da Agência Brecha.
Milena Borges Alves, 43, companheira de Beto que estava com ele no supermercado, disse a jornalistas que depois de fazerem as compras, ele fez um aceno em tom de brincadeira para a funcionária do caixa e saiu do mercado. Milena, depois de pagar pelas compras, saiu do local, e viu o marido ainda consciente sendo agredido. "Ele disse: me socorre, Milena", contou a mulher à Band News.
O Carrefour, por meio de sua assessoria de imprensa, definiu a morte como brutal e anunciou que romperá o contrato com a empresa responsável pelos seguranças. Informou também que vai demitir o funcionário responsável pela loja na hora do ocorrido.
"O Carrefour informa que adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso", diz a nota divulgada pelo supermercado. "Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário."
Os dois homens acusados de agressão foram presos em flagrante por homicídio. A polícia passou a madrugada ouvindo testemunhas.
Em agosto deste ano, a reação à morte de um representante de vendas em uma loja da rede de supermercados em Recife (PE) provocou críticas. O corpo do homem foi encoberto com guarda-sóis, tapumes e fardos de cerveja e o supermercado continuou funcionando. Na ocasião, o Carrefour disse que foi um erro não fechar a loja imediatamente.
O episódio foi o segundo a ter forte repercussão em redes sociais envolvendo a rede varejista. Em 2018, a morte da cadela Manchinha, vítima de agressão em uma loja do Carrefour em Osasco (Grande São Paulo), gerou protestos em frente à loja e uma investigação policial.
O caso gerou uma onda de protestos em várias cidades do País, incluindo Londrina. O assassinato de Beto já tem sido comparado com o assassinato de George Floyd, um homem negro morto por sufocamente nos Estados Unidos em uma abordagem policial.
No caso de João Alberto, os seguranças chegaram a ficar em cima dele, nas costas, segundo a delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Porto Alegre. Esse tipo de contenção dificulta a respiração.