Brasília - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quarta-feira (13) que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) pode ser postergado por causa da pandemia do novo coronavírus, mas terá que ser realizado ainda em 2020. Na semana passada, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que o exame não seria adiado e que não foi feito para corrigir injustiças. "O Enem, se for o caso, atrasa um pouco, mas tem que ser aplicado este ano", disse Bolsonaro aos jornalistas na porta do Palácio da Alvorada.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que o exame não foi feito para corrigir injustiças
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que o exame não foi feito para corrigir injustiças | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Como a Folha de S.Paulo mostrou nesta quarta-feira, não há plano de contingência para realização do Enem caso a pandemia do novo coronavírus se prolongue até novembro, segundo Camilo Mussi, presidente substituto do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), órgão ligado ao Ministério da Educação e responsável pela prova. As inscrições para o exame começaram nesta segunda (11).

De acordo com Mussi, o MEC (Ministério da Educação) e o Inep têm dialogado com o Ministério da Saúde para que decisões sejam tomadas. O presidente do instituto afirmou que não há qualquer possibilidade de o Enem 2020 ser cancelado e que o adiamento seria prejudicial para o acesso de estudantes à universidade, mas confirmou que em até um mês haverá nova reunião com o ministério para reavaliar a situação.

Servidores do Inep se juntaram a outras entidades e pedem a suspensão do calendário da prova deste ano por causa da pandemia do coronavírus. Já entidades estudantis entraram na segunda-feira (11) com um mandado de segurança para o adiamento do exame.

O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior no País. A aplicação da prova em papel está prevista para os dias 1º e 8 de novembro, e as provas digitais, para 22 e 29 de novembro.As inscrições vão até 22 de maio.

PLANEJAMENTO

O MEC não tem plano de contingência para realização do Enem caso a pandemia do novo coronavírus se prolongue até novembro, segundo disse à Folha de S.Paulo Camilo Mussi, presidente substituto do Inep.

Para Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), ex-diretora de educação do Banco Mundial, o ministério errou ao não coordenar a resposta educacional à Covid-19 no País e ignora a importância do Enem para a educação brasileira.

"O ministro deveria aparecer para dizer o que está sendo feito para garantir a educação em casa. Não dá para deixar esses jovens tantos dias sem o direito de aprendizagem enquanto as escolas particulares estão mandando tarefas e atividades para casa, com aulas e orientação", disse.

Costin aponta que os instrumentos educacionais deveriam dispor de uma combinação de excelência com equidade, considerando as diferenças socioeconômicas dos estudantes.

"Deve-se, sim, ter altas expectativas de aprendizagem, mas ao mesmo tempo não esquecer que a educação é um dos poucos elementos de nivelamento de origem socioeconômica. Quando os jovens voltam para suas casas e ficam sem recursos, livros, acesso confiável de internet ou melhores condições de estudar mesmo com esforço dos estados e municípios, nós estamos dizendo que temos jovens que, por sua origem de classe, valem menos do que outros."

O diretor de estratégia política da ONG Todos pela Educação, João Marcelo Borges, diz acreditar que "há preguiça ou que o ministro está em negação quanto a gravidade da crise". Para ele, o MEC deveria ter começado a desenhar um plano de contingência com variados cenários possíveis desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a expansão dos casos confirmados de coronavírus uma emergência de saúde internacional em 30 de janeiro. Em 11 de março a organização declarou a pandemia da Covid-19.

"O MEC pode chamar as associações nacionais de ensino superior, as universidades estaduais e as particulares e coordenar o calendário do ensino superior de 2021. Mas isso dá trabalho, precisa ser planejado e é necessário ouvir", disse.