Gentil. Uma menina educada, alegre e com o coração maior do que o mundo. Amoroso. Um menino companheiro e sempre pronto para ajudar quem quer que fosse. Nesta quarta-feira (19), um ano após a tragédia que abalou a região, a reportagem conta um pouco mais sobre o casal de namorados Karoline Alves Verri e Luan Augusto da Silva, de 17 e 16 anos, mortos em um ataque no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em 19 de junho de 2023.

Em uma manhã de segunda-feira que parecia como todas as outras, os jovens chegam na escola e aproveitam para jogar pingue-pongue durante uma aula vaga. Pouco depois das 9 horas, um atirador invadiu o colégio e disparou contra o casal: Karoline morreu na hora e Luan chegou a ser levado para o HU (Hospital Universitário), mas morreu 13 horas depois. “Um ano do pior dia da minha vida”, afirma Fernanda Aparecida Vieira, mãe de Luan.

“Um ano do pior dia da minha vida”, afirma Fernanda Aparecida Vieira, mãe de Luan
“Um ano do pior dia da minha vida”, afirma Fernanda Aparecida Vieira, mãe de Luan | Foto: Jessica Sabbadini - Especial para a FOLHA

Com as lembranças daquele dia vivas na memória, ela lembra constantemente o dia 19 de junho de 2023. Conhecidos e desconhecidos enviam afeto, carinho e acolhimento, todos lamentando a morte de jovens tão queridos. “A gente foi muito acolhido, acho que isso fortaleceu muito a gente e ajudou a ter um afago”, relembra.

O amor deles era tão puro que emanava para outras pessoas, explica Vieira, garantindo que é daí que vem a razão de eles serem tão queridos por todos. “O Luan já era um menino de muita fé, mas eles [família da Karol] encaminharam muito além. A Karol era uma pessoa extraordinária, muito doce”, conta.

O jeitinho doce e agradável de Karol permanece vivo no coração da avó Cleusa Aparecida Coelho Verri, que garante que a jovem também sabia dar bronca quando precisava, como o dia em que ele estava reclamando de uma reforma que queria fazer na casa e o marido não aprovava. “Eu sou vicentina e vejo tanta pobreza, gente que não tem nem casa para morar e você com uma casa tão bonita e reclamando”, relembra o sermão que ouviu da neta, que participava do grupo de vicentinos junto com o namorado, que ela também considerava como neto.

Para Rodrigo Augusto, pai de Luan, a tragédia marcou o início de uma nova vida. No dia 19 de junho de 2023, ele comemorava o aniversário de 42 anos, o que sempre o deixava animado. “Eu estava estranho naquele dia, parecia que eu já sabia. Eu demorei para entender o dia 19, mas agora eu entendo”, afirma.

Ele conta ainda que os dois planejavam ter uma família grande. A dedicação que tinham com o trabalho social também era marcante. Eles buscavam alimentos e faziam questão de levar as doações para as famílias carentes. Na igreja, se um chegava para fazer a confissão, era certeza que o outro estava aguardando a vez.

O padre Luciano Macedo, pároco da Paróquia Santo Antônio, de Cambé, conta que desde o início de 2023 percebeu um crescimento no número de frequentadores, principalmente para confessar, após a morte dos jovens.

Para ele, o principal legado do casal é o exemplo do “viver um namoro santo”. “Um namoro vivenciado com muito respeito um com o outro, participando da comunidade, da igreja, do Sacramento da Confissão, da Eucaristia, do grupo de jovens”, aponta.

Avô da jovem, Antônio Verri diz que ainda é difícil aceitar tudo o que aconteceu. “Eu era muitíssimo apegado a Karol e ela a mim. É um sofrimento que não tem limite, não tem explicação.”

Proprietários de uma chácara em Alvorada do Sul, ele vê a neta em cada cantinho do lugar. “Não tem tempo que apague”, admite, afirmando que vai continuar sofrendo pela morte da jovem pelo tempo que ainda viver.

Avós paternos de Luan, Miro Augusto da Silva e Maria Aparecida Lizoti Silva afirmam que os últimos 12 meses têm sido difíceis e que o conforto vem de Deus. “Como não há glória sem sofrimento, eles entendem que tudo foi uma escolha de Deus e que a família, como cristã, acata a decisão.”

As falas de Keller e Dilson Verri, pais de Karol, após o ataque sempre foram marcadas pelo perdão ao autor do crime e o pedido pelo fim da violência. A força, segundo eles, vem da fé e de Deus.

As falas de Keller e Dilson Verri, pais de Karol, após o ataque sempre foram marcadas pelo perdão ao autor do crime e o pedido pelo fim da violência
As falas de Keller e Dilson Verri, pais de Karol, após o ataque sempre foram marcadas pelo perdão ao autor do crime e o pedido pelo fim da violência | Foto: Jessica Sabbadini - Especial para a FOLHA

“É uma violência inaceitável e que tem que haver uma consequência, todo ato gera uma consequência, então quem a praticou vai ter que sentir as consequências, mas nunca o ódio. Eu não odeio as pessoas que praticaram isso contra a minha filha e contra o Luan”, afirmam.

Para a mãe de Karol, o distanciamento do amor foi o que fez com que o autor do crime tirasse a vida do casal e tentasse tirar a de muitos outros jovens. “Eu peço para que os jovens busquem o amor em Deus para que todo o mal seja afastado de suas vidas. Quando você não está na luz, está na escuridão e eu tenho certeza que as pessoas envolvidas na tragédia que aconteceu com a nossa filha estavam vivendo um momento de escuridão, mas para muitos deles ainda há esperança”, afirma.

JULGAMENTO

O autor do ataque, que tinha 21 anos, foi detido em flagrante e preso na Casa de Custódia de Londrina, onde foi encontrado morto na noite de 20 de junho de 2023.

Advogado que representa as famílias de Karol e Luan, Fernando Hipólito esclarece que, além do atirador, outros três homens foram presos suspeitos de terem incitado e auxiliado o autor a cometer o crime. Os três permanecem presos nas cidades de Curitiba, Osasco (SP) e Gravatá (PE). A motivação do crime seria o bullying. O rapaz do Paraná negou a participação e o de Pernambuco permaneceu em silêncio.

A defesa do suspeito preso em Osasco interpôs um pedido de incidente de insanidade mental, alegando problemas psiquiátricos. O exame foi realizado no dia 29 de maio e o resultado deve sair até o final deste mês. Após a conclusão, o homem deve passar pela audiência de instrução.

O julgamento dos três envolvidos já pode ser marcado após a audiência, sendo que a comarca escolhida pode ser a de Cambé. “Nós buscamos a condenação e que a lei seja cumprida de maneira correta para trazer conforto à sociedade e para que não exista a sensação de impunidade”, afirma.

EXEMPLOS PARA A JUVENTUDE

Após a tragédia, a Arquidiocese de Londrina começou a avaliar a possibilidade de uma abrir uma solicitação para um processo diocesano de reconhecimento da santidade dos dois jovens. O padre Dirceu Reis, responsável pelo Setor Juvenil, disse que Karoline Verri Alves e Luan Augusto são reconhecidos como exemplos para a juventude da arquidiocese. Segundo ele, os jovens eram atuantes na comunidade paroquial, frequentes na missa e na celebração do sacramento da confissão, interessados em aprender sempre mais os ensinamentos da fé e honrosos com a família. Esses foram os motivos que levaram a arquidiocese a reconhecer a influência dos jovens. “Um possível processo de beatificação precisa ser discernido com paciência e prudência”, complementa.

“Muitos jovens quando ouvem sobre a vida deles na família, no namoro, nos estudos e na igreja compreendem ainda mais que a santidade é um chamado livre, alegre e possível. Por exemplo, muitos jovens ao conhecer a história deles reforçam a disposição na busca pelo sacramento da reconciliação e renovam a disposição em servir a igreja e aos irmãos. A vida da Karoline e Luan tem sido inspiração para muitos jovens em nossa arquidiocese”, finaliza.

MISSA

No domingo (23), vai ser celebrada a missa de um ano do falecimento de Karol e Luan. A celebração será na Paróquia Santo Antônio (Rua Espanha, 289), em Cambé, às 19h, e será conduzida pelo arcebispo de Londrina, Dom Geremias Steinmetz.