Pecuaristas adotam práticas para tornar atividade mais sustentável
Ações pretendem inibir o lançamento de gases de efeito estufa; setor é o segundo maior emissor do país, segundo o Observatório do Clima
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sábado, 04 de março de 2023
Ações pretendem inibir o lançamento de gases de efeito estufa; setor é o segundo maior emissor do país, segundo o Observatório do Clima
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
A agropecuária é o segundo setor que mais emite gases de efeito estufa no Brasil, respondendo diretamente por cerca de 27% de todas as emissões no País, aponta o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), iniciativa do Observatório do Clima.
Dentro do setor, quase 70% dessas emissões em 2020 vieram da pecuária, seja pela chamada fermentação entérica (processo digestivo natural que ocorre em animais ruminantes, como gado, ovelhas e cabras) ou pelo manejo de dejetos de animais. Atualmente, acima da agropecuária, apenas as mudanças no uso da terra e florestas emitem mais gases de efeito estufa no Brasil.
Para enfrentar esse cenário, pecuaristas vêm cada vez mais empreendendo iniciativas para tornar a atividade agropecuária mais sustentável.
gramíneas-leguminosas
“Há muito o que evoluir. Existem grandes expectativas com o uso de novos aditivos que reduzam bastante a emissão. Hoje eles já são usados, mas há dúvidas na duração do efeito. Há excelentes resultados com o uso de consórcio gramíneas-leguminosas (cultivadas na mesma área), tanto em redução de emissão de gases por quilo de carne, como na redução da necessidade de insumos (adubo e suplementos proteicos)”, destaca Sergio Raposo de Medeiros, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste.
Entre as ações que o criador de gado pode empreender hoje para praticar uma pecuária mais sustentável, o pesquisador cita como exemplos o melhoramento animal e das pastagens, a suplementação alimentar estratégica, entre outros. “O confinamento é uma atividade que tem crescido e que contribuiu para a redução das emissões por kg de carne produzida”, acrescenta.
O pesquisador da Embrapa lembra que a intensificação dessas ações depende de investimentos e, sim, os custos de produção aumentam.
“Felizmente, desde que as ações sejam implementadas com planejamento e respeitando exigências técnicas, é possível intensificá-las aumentando a margem recebida, via aumento da receita maior do que os custos”, explica.
EMBRAPA E USP SE UNEM PARA PESQUISA
Sobre o tema pecuária sustentável, Raposo lembra que há muita pesquisa relevante sendo realizada no Brasil.
Um bom exemplo é o projeto Pecus 2, que envolve a Embrapa, a USP (Universidade de São Paulo), o Instituto de Zootecnia de São Paulo e outras instituições.
“Ele está gerando dados que mostram que há formas de produção pecuária que, quando consideramos o carbono fixado do solo pelas raízes das pastagens, elas mais captam o elemento do que emitem, ou seja, seriam passíveis de receber créditos de carbono. Há excelentes resultados com o uso do consórcio gramínea-leguminosa.”
GENÉTICA ANIMAL
Gabriel Garcia Cid, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), destaca o programa Pró-Genética, ação desenvolvida pela entidade com o objetivo de democratizar a genética animal, melhorando o rebanho, encurtando o ciclo de produção e, com isso, diminuindo o período que o animal emite gases.
“É a principal ação que a ABCZ já faz desde sua criação. Outra ação importante são os programas que a entidade desenvolve com papel social de democratizar a genética. Um programa que é vitrine para a pecuária sustentável em nossa associação é o Integra Zebu, voltado para recuperação das pastagens. O pasto melhorado sequestra o carbono e isso impacta diretamente no efeito estufa”, explica.
O presidente da ABCZ considera que o produtor já entendeu a necessidade de ser tecnológico e sustentável.
De acordo com a análise de satélite do Laboratório de Georreferenciamento da Universidade Federal de Goiás, houve um aumento de até 7,4% do carbono capturado com a recuperação de pastagens degradadas somente no cerrado, onde estão um terço das áreas de pasto do país.
“Gradualmente, o estoque de rebanho diminuiu no país, e a qualidade de produção vem aumentando. Temos ainda a indústria de insumos com novas soluções para rações, os centros de pesquisas dos Estados, todos focados em transferir tecnologia para o produtor. Há também a Embrapa, sempre voltada para inovação, investindo em conhecimento e em novas tecnologias. São muitos exemplos”, conclui.
boas práticas de MANEJO
Luigi Carrer Filho, diretor de Atividade Pecuária e Melhoramento Genético da Sociedade Rural do Paraná, destaca que a minimização dos gases de efeito estufa passa pela adoção de boas práticas de manejo do gado, envolvendo a cadeia produtiva desde o campo até o varejo. “Conseguindo uma eficiência nessa produção, você reduz o tempo de engorda e com isso reduz a emissão de gases.”
O diretor acrescenta que essa eficiência se dá pelo melhoramento genético associado à sanidade do animal e a uma eficiência reprodutiva. “Hoje temos como uma prática grande adotada no Brasil a IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo)”, cita.
Trata-se de uma biotecnologia reprodutiva que visa elevar a eficiência reprodutiva dos rebanhos por meio da indução e sincronização da ovulação das fêmeas, por meio de protocolos hormonais.
“A IATF está para a pecuária como o plantio direto está para a lavoura. Tudo isso daí contribui para a diminuição do gás metano, encurtando o ciclo de produção. Com isso, é possível fazer um sequestro maior de carbono”, esclarece.
Carrer Filho cita ainda a integração lavoura-pecuária-floresta como um sistema com grande potencial de retirar o carbono da atmosfera. “Londrina já tem vários produtores que adotam essa prática”, destaca.
SERVIÇO
Sobre produtores que desejam mais informações sobre o tema, o diretor coloca o Conselho Técnico da Sociedade Rural do Paraná à disposição.
Políticas públicas estão visando estimular a adoção de práticas sustentáveis na pecuária. Um guia relevante sobre o tema é o ABC+, uma iniciativa do governo federal disponível no link abaixo: