Em 1944, nasci em Promissão (SP). Ainda criança, a família de meus pais se mudou para Valparaíso (SP), em uma fazenda que era denominada “Mediana”. Recordo-me vagamente que diziam pertencer ao Sr. Geremias Lunardelli, um rico fazendeiro da região.

A nossa família era numerosa. Éramos em três irmãos, meus pais, minha avó e também oito irmãos de meu pai. Todos se dedicavam ao cultivo de algodão em regime de arrendamento.

Naquele lugar, comecei a frequentar uma escola que ficava longe de onde morávamos. O professor que morava próximo de nós ia montado a cavalo para a escola. Como eu era o menor de todos os alunos, ele ficava com pena e me levava na garupa. Logo me acostumei com os amiguinhos e resolvi ir junto com eles a pé.

Quando eu já tinha mais ou menos 9 anos de idade e com o final do prazo contratual com a fazenda, os meus pais e os meus tios resolveram ir para a cidade de Araçatuba, onde cada um saiu em busca da sua independência, procurando um novo trabalho ou profissão.

Apesar de ter nascido em Promissão, eu considero Araçatuba o meu “Furusato”, que significa “terra natal” no idioma japonês, pois é de lá que eu tenho as melhores recordações da minha infância.

Muitas dessas lembranças começaram a aflorar em minha mente, depois de passado muito tempo e já com a minha idade mais avançada. Por que eu considero Araçatuba como a minha cidade natal?

Lá tinha o Edson Cabariti Cury, o “Bolinha”, que se tornou famoso como apresentador de televisão do programa “Clube do Bolinha”. Em Araçatuba, ele tinha um automóvel importado, Nash ou Skoda, com um alto-falante no teto e fazia propagandas na rua. Quando havia jogo no estádio da cidade, ele ficava com o carro lá dentro e a cada gol que marcavam nos outros jogos do campeonato, ele anunciava pelo alto-falante do carro.

Como criança não pagava ingresso eu ia assistir com alguns amiguinhos a quase todos os jogos do campeonato.

Perto da cidade, tinha os rios Tietê e Baguaçu, que eram piscosos. Sempre que podia, meu pai me levava para pescar. Já na represa do córrego Machadinho, foi onde aprendi a nadar com meus amiguinhos.

Araçatuba, por ser uma cidade de topografia plana, havia muitas bicicletas que precisavam ser emplacadas como se fossem carros. As “charretes” eram os meios de locomoção muito usados na época. Eram a versão “Uber” daqueles tempos.

O Colégio Salesiano era muito tradicional e foi onde concluí o meu curso primário, e onde recebi, além dos conhecimentos escolares, os ensinamentos de religião e civismo.

Lá tinha o Sr. Sebastião Ferreira Maia, o “Tião Maia”, pecuarista que ficou conhecido como o “Barão do gado”. Ele foi boiadeiro e fundou em Araçatuba o moderno frigorífico “T. Maia” e passou a utilizar para transportar a produção de carnes, uma frota de caminhões “FNM” refrigerados, coisa muito rara para a época.

Outra personalidade que me marcou foi o Sr. Elísio Gomes de Carvalho, o imobiliarista que idealizou o Jardim Nova York, um dos empreendimentos mais modernos da época. Lembro-me da inauguração, que ficou gravada até hoje em minha mente. Foi oferecido um espetáculo pirotécnico que nunca mais vi igual.

Depois de meio século, voltei a visitar Araçatuba com muito orgulho, desta vez para assistir à conclusão do doutorado do meu filho Marcos Heidy, em odontologia pela “UNESP”.

Sinto muitas saudades do meu “Furusato”; Araçatuba !!!

Mário Takeo Guskuma é leitor da FOLHA!