Você já pensou em colocar em prática algum método para melhorar sua vida pessoal e profissional? Nos últimos meses, o Modo Caverna ganhou repercussão nas redes sociais entre os internautas, incentivando as pessoas a viverem um certo período de tempo mais reservado e livre de distrações seguindo algumas regras. Essa abordagem deriva-se de um livro chamado “Modo Caverna”, lançado em agosto de 2023, pelos autores Wesley Henriques e Rute Silva.

De acordo com o psicólogo Sylvio Schreiner, o “Modo Caverna” nada mais é do que um período de desconexão no qual a pessoa passa e que, para isso, ela não precisa seguir, necessariamente, um método cheio de regras, como é indicado nesse tipo de processo. “Cada indivíduo deve saber o que funciona melhor para ele mesmo, porque, às vezes, a maneira que funciona para ela não vai ser a maneira que funciona para outros”.

Conhecido por ser um período de auto isolamento buscando a reflexão e autorreflexão profunda, o método propõe a criação de um espaço para se reconectar consigo mesmo a fim de entender seus próprios valores, objetivos e necessidades, e, em última instância, emergir desse período com uma compreensão mais profunda de quem é e do que deseja na vida.

Em geral, a imersão dura um período simbólico de seis meses, contudo, fica a critério do próprio indivíduo decidir o tempo necessário. Alguns optam por semanas, outros por meses e, em alguns casos, o método pode ser repetido durante a vida toda.

Imagem ilustrativa da imagem Conheça o Modo Caverna método que viralizou nas redes sociais
| Foto: Darren Lawrence

Mas o que exatamente é colocado em prática?

Pensando a partir da perspectiva de que os meses são utilizados para se conhecer, a pessoa deve se desconectar de distrações externas, como mídias sociais, eletrônicos, vídeo games, compromissos sociais, bebidas alcoólicas e, em algumas vezes, até mesmo do trabalho para se dedicar a um processo de transformação.

Dentre as atividades praticadas durante este tempo, três são obrigatórias: exercício físico, estudos e a diminuição do uso de tecnologias e redes sociais. Outras três devem ser adicionadas pelo próprio indivíduo de acordo com seus objetivos. Algumas opções são a meditação, a introspecção e a realização de algum curso. Além disso, analisar decisões sobre carreira ou estilo de vida podem ser incluídas.

Schreiner ressalta que a desconexão das redes sociais é ótima, já que vivemos cercados de pressões, comparações e da necessidade de ser sempre perfeito, ou de estar sempre provando a melhor performance. “Se desconectar das redes sociais é bom porque faz com que a gente possa se perceber um pouquinho melhor, e até mesmo entrar em contato com o que realmente gostamos e precisamos para atender às nossas necessidades”.

A diminuição da ansiedade é outra melhoria que também pode ser vista, já que fora das redes sociais não temos a necessidade de ficar provando nosso desempenho, realização ou até mesmo de estar se comparando com o outro. “Com menos ansiedade a gente pode aproveitar e usufruir mais da vida. A gente pode estar muito mais à vontade no que estamos vivendo e curtir mais do que simplesmente ter que provar para os outros isso”.

Mesmo que pareça oferecer apenas benefícios para o indivíduo, o psicólogo alerta que ver o “Modo Caverna” como uma metodologia que deve ser seguida à risca pode trazer uma carga negativa durante o processo, causando mais ansiedade e levando a pessoa a pensar que é incapaz por não ter conseguido realizar tudo como é dito. “Já traz um peso de que você tem que seguir o passo a passo, tem que fazer isso, fazer aquilo, porque se não fizer, você vai falhar”.

Outro problema que pode acontecer durante o processo é da pessoa se isolar por completo e deixar de ter contatos importantes e conviver em sociedade. “Então é preciso também olhar com cautela para tudo isso”, alerta Schreiner.

O psicólogo também reforça que não existem métodos milagrosos ou passe de mágica para melhorar de vida em poucos meses. Cada pessoa tem seu próprio tempo e precisa ir se aperfeiçoando em áreas específicas, o que não acontece de um dia para o outro.

Para alcançar seus objetivos acadêmicos, a estudante de medicina da Famepp (Faculdade de Medicina de Presidente Prudente), Júlia Andressa de Almeida (21), conta que conheceu o Modo Caverna quando decidiu que queria estudar medicina, ainda em 2020. Naquele ano, ela começou a colocar o método em prática para ser aprovada no vestibular.

Almeida conta que o motivo para recorrer ao método está relacionado ao tempo gasto nas redes sociais. “Então para não me preocupar, e sequer ficar tentada a perder tempo improdutivo, decidi desativar as redes até eu passar no vestibular”. Além disso, sair com amigos também estava incluído nas atividades abandonadas pela praticante do método, principalmente por conta da pandemia da Covid-19.

No decorrer de dois anos da prática, as ações do dia a dia incluíam o lazer em família, caminhadas e assistir vídeos que agregavam saberes durante os tempos de descanso. A partir disso, Almeida conseguiu otimizar o tempo de aprovação. “Vejo que esse pensamento de 8 ou 80 permitiu que eu me concentrasse mais em meu objetivo. Eu estudei com cursinho on-line, então, focar no que tinha que ser feito em casa e não me preocupar com redes, com opinião de terceiros e com ‘o que estão vivendo’, me fez alcançar a aprovação bem mais rápido do que as pessoas que não ficam tão extremo assim - isso percebi conversando com colegas - no qual me relataram que o cursinho presencial e manter redes aumentou a ansiedade devido comparações, o que foi algo que não tive por estar na minha ‘caverna’”.

A estudante ainda pontua que o tempo em que esteve em sua “caverna” pessoal foi proveitoso e que “com certeza faria novamente se necessário".

Para quem deseja melhorar seus hábitos e aumentar o desempenho físico e psicológico, mas não deseja seguir o “Modo Caverna”, Schreiner aconselha que as pessoas se conheçam e estejam presentes em suas próprias vidas. “As pessoas devem se atentar para o que serve a elas. O que pode fazer com que elas estejam mais atentas sobre como estão vivendo, sobre como estão degustando e usufruindo a sua vida. Então, eu creio que isso é muito mais importante do que apenas querer seguir um método”.