Uma autobiografia poética. Assim o poeta londrinense Rodrigo Garcia Lopes define seu novo livro, “Poemas Coligidos (1983 - 2020)”, que acaba de ser lançado pela editora Kotter.

A obra reúne, em um único volume, os sete livros de poesia publicados por Garcia Lopes: “Solarium” (1994), “Visibilia” (1997), “Polivox” (2001), “Nômada” (2004), “Estúdio Realidade” (2013), “Experiências Extraordinárias” (2015) e “O Enigma das Ondas” (2020). A obra oferece um panorama completo de quatro décadas de produção poética, versos escritos entre 1983 e 2020.

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Autor de mais de 20 obras em vários gêneros, Lopes sempre dedicou atenção especial à poesia. Recentemente seus livros começaram a ser publicados na Europa – “O Enigma das Ondas” e “Estúdio Realidade” foram lançados na Itália e em Portugal.

A seguir, Rodrigo Garcia Lopes fala sobre o novo livro e revela uma novidade: seu romance policial “O Trovador”, ambientado em Londrina da década de 1930, será transformado em minissérie.

“Poemas Coligidos” reúne seus sete livros de poesia publicados até o momento. O que significa reunir toda sua produção poética escrita ao longo de quatro décadas em um único volume?

O volume recoloca em circulação livros que estão há muito tempo esgotados. Permite olhar para o trabalho poético por uma perspectiva panorâmica. Acho que ter acesso, num único volume, a uma obra que ainda está em desenvolvimento, dá ao leitor a chance não só de conhecer a obra simultaneamente, mas acompanhar, cronologicamente, as mudanças de estilo, dicções, técnicas e experimentações linguísticas ocorridas ao longo dos anos. Dá a chance ao leitor de estabelecer conexões e referências entre os diferentes livros, identificando continuidades, recorrências ou transformações na obra poética. É possível ver, acima de tudo, como cada livro foi pensado como um projeto, um desafio. Ele adquire um sentido se lido isoladamente e outro, se lido em relação ao anterior ou posterior. Juntos os sete livros formam, por assim dizer, uma espécie de autobiografia poética. Há também uma fortuna crítica, no fim do livro, que dá pistas de como minha poesia e meus livros têm sido lidos e recebidos ao longo dos anos.

Sua poesia possui uma linguagem própria, mas também traz uma série de referências, influências e inspirações. Como você descreve sua poética?

Acho que a busca, sempre, é por ressignificar e reformatar, pela arte da linguagem, o mundo em que vivemos. Explorar a palavra em suas várias possibilidades. Em “Poesia Coligida” há espaço para a revisitação de várias formas poéticas antigas, como a sextina, o soneto, o haiku, ou ainda o rap, o poema-colagem, os heterônimos, o poema em prosa, a tritina, o poema longo, a canção. Acho que a investigação da linguagem e a relação entre o ser humano, o mundo e a linguagem ocupam o centro do meu trabalho, que abrange poesia, romance, tradução, música, ensaio, crítica, jornalismo e cinema. Gosto de pensar a poesia como um campo de possibilidades, onde é possível trabalhar com vários temas, vozes, estilos, alteridades, sem deixar de dialogar com a tradição brasileira e outras. Procuro fazer com que cada poema que escrevo seja uma mini-investigação do mistério chamado vida, a criação de “uma realidade vívida de palavras”, como definiu a poeta Laura Riding.

Sua poesia possui um caráter claramente cosmopolita. Como Londrina se manifesta em sua literatura?

Esta questão hoje, com a internet, relativizou bastante. Antes era preciso, necessariamente, estar fisicamente presente em um determinado lugar para vivenciar diferentes culturas e estabelecer conexões com pessoas de origens diversas. O acesso à informação e à diversidade cultural se tornou muito mais amplo e acessível. Me dediquei por muitos anos a escrever um romance policial-histórico chamado “O Trovador”, que não deixa de ser uma homenagem à cidade e a história fantástica da colonização do Norte do Paraná. Embora se passe em Londrina, Rolândia, Londres e Escócia, construí muitas cenas sem sair de onde estava vendo fotos e filmes, documentários raros, relatos em jornais dos anos 20, Google Earth, Google Street. Coisas impensáveis há poucos anos. A trama, que se passa em Londrina em 1936, esteve na minha cabeça por muito tempo. É como se fosse um filme que se recusa a acabar. Foi uma maneira incrível de viver em Londrina intensamente, 24 horas por dia, mas em outro tempo, ou paralelamente. É a cidade onde nasci, onde estão boa parte de minhas memórias, onde me criei, me formei, onde fiz amizades que duram até hoje. Tenho alguns poemas em que a cidade entra, mas de maneira nostálgica. Muitos poemas do livro foram escritos em Londrina. O que acho fascinante é que tanto a experiência de escrever um livro como de lê-lo nos fazem ocupar vários lugares, personalidades e mundos ao mesmo tempo.

Falando em “O Trovador”, publicado pela editora Record em 2013, existe a notícia de que o romance em breve deve ser transformado em minissérie. Essa notícia é verdadeira?

Sim, há um mês fechei contrato com o diretor, roteirista e produtor paulistano Luis Dantas, que já dirigiu filmes como “Se Deus Vier Que Venha Armado” e “A Performance”, além de ter produzido “Washington Heights”, de Alfredo de Villa. Ele é um apaixonado pela história. No momento, a produtora está estruturando o projeto e preparando-o para oferecer a grandes players do mercado, pois ele prevê uma minissérie e um longa-metragem.

Imagem ilustrativa da imagem 'Poemas Coligidos' reúne quatro décadas de produção poética
| Foto: Divulgação

SERVIÇO:

“Poemas Coligidos (1983 - 2020)”

Autor – Rodrigo Garcia Lopes

Editora – Kotter Editorial

Páginas – 632

Quanto – R$ 169,70 (no site da Kotter, R$ 118,79)