Exposição virtual resgata 'causos' do rio Tibagi
Chico Santos faz exposição baseada em relatos de moradores de quatro municípios do Paraná banhados pelo Tigabi, lendas e assombrações não faltam
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 08 de outubro de 2020
Chico Santos faz exposição baseada em relatos de moradores de quatro municípios do Paraná banhados pelo Tigabi, lendas e assombrações não faltam
Reportagem local
Lendas e causos de quatro municípios paranaenses banhados pelo Rio Tibagi serviram de inspiração para a exposição “Casas Novas não Têm Fantasmas”, produzidas pelo artista plástico londrinense Chico Santos a partir de relatos de moradores de Primeiro de Maio, Jataizinho, Telêmaco Borba e Ortigueira. Alegorias de casas que andam pelas matas, igrejas que flutuam nas águas de rios e seres que vagam pelas florestas compõem a mostra virtual, que conta com vídeos que podem ser vistos gratuitamente a partir desta quinta-feira (8) pelo site do evento. Acesse aqui .
A galeria virtual criada por Chico Santos reúne uma série de oito vídeos, que mostram as obras do artista, feitas em madeira reciclada, terracota, fios de algodão, entre outros materiais. A ideia inicial era que a exposição fosse montada em ambientes naturais, porém devido à pandemia da covid-19, o trabalho acabou migrando para a internet. Com o objetivo de preservar ao máximo o conceito do projeto original, que era levar o público a contemplar as peças em um lugar florestado, o artista plástico optou por levar suas obras até o Jardim Botânico de Londrina, onde os vídeos foram gravados.
A exposição leva o espectador a conhecer os mitos e lendas criados por Chico Santos a partir de suas inquietações a respeito das relações do homem com a natureza. As obras apresentadas pelo artista plástico foram concebidas originalmente no projeto “Mitos Paranaenses”, no qual ele se inspira em histórias verídicas para reforçar a urgência de se preservar o meio ambiente. A série de vídeos é, apresentada pela professora de artes, Suellen Stanislau. As imagens foram captadas pelo cinegrafista Marcos Assi. Entre os episódios que compõem a exposição virtual também estão o registro de um cortejo conduzido por guardiões da mata, com a participação de índios Kaigangs, que também aparecem em outro vídeo da série, desta vez narrado em sua língua materna, uma instalação artística gravada em toda a bacia do Rio Tibagi. Santos também convidou para integrar a exposição virtual “Casas Novas não Têm Fantasmas”, o artista Guilherme Gerais. Em sua participação, Gerais leva o espectador a percorrer uma exposição virtual dentro da exposição virtual.
QUATRO MUNICÍPIOS
Os trabalhos foram concebidos e desenvolvidos por Chico Santos a partir de uma série de atividades desenvolvidas, antes da pandemia, em Primeiro de Maio, Jataizinho, Telêmaco Borba e Ortigueira. Esses municípios têm em comum o Rio Tibagi, que nessas regiões acabou sendo afetado pelas Usinas Hidrelétricas de Mauá e Capivara (na divisa do Paraná com São Paulo).
Para dar forma e materialidade às lendas e causos locais, Santos contou com a participação ativa dos moradores das cidades, das populações ribeirinhas e das tribos indígenas que habitam essas regiões, que contribuíram para o projeto dando depoimentos de vídeo e áudio. Na região de Primeiro de Maio e de Jataizinho, a história que alimenta o trabalho do artista é a de uma igreja que é vista flutuando pelo rio Tibagi em diferentes pontos. A construção de madeira teria pertencido à uma comunidade que vivia às margens do rio extraindo argila para fabricação de cerâmica. Com o represamento das águas que formam o reservatório da Usina Capivara, as casas e a igreja da comunidade foram encobertas pelas águas. Mas a igreja ‘sobreviveu’ e agora navega rio abaixo rio acima. Moradores antigos dizem que a construção de madeira flutua em busca de um novo local para se instalar.
Já na região de Ortigueira e Telêmaco Borba, a lenda que se conta é a de uma casa que tem sido avistada flutuando pelo rio Tibagi. A construção começou a aparecer após a formação do lago que alimenta a Usina de Mauá. Dizem que tal casa pertencia a um ermitão que vivia em uma das ilhas do Tibagi que foi encoberta com o seu represamento. Os moradores da região dizem que o ermitão se recusou a deixar o local, mesmo tendo sido alertado que as águas o encobririam. Ele representa a resistência contra a construção da usina, que houve por parte da população das cidades da região e principalmente da tribo indígena que habitava o lugar, que foi submerso.
O projeto “Casas Novas não Têm Fantasmas” foi aprovado no Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice) da Secretaria de Estado da Comunicação Social e da Cultura, Governo do Paraná, e conta com apoio da Copel.