Coisinhas e coisonas a serem consertadas no Brasil e nos brasileiros
Sumiço de palavras é daquelas coisinhas que irritam, como quando você aperta o botão e o elevador abre lotado
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 15 de abril de 2022
Sumiço de palavras é daquelas coisinhas que irritam, como quando você aperta o botão e o elevador abre lotado
Domingos Pellegrini
Na última crônica, por engano ficaram faltando dois parágrafos finais:
“Com os filhos, ganhamos uma coleção de surpresas no tempo, descobrindo como será cada um como ser único, com sua cesta de defeitos e virtudes, gostos e manias, seu jeito de ser. Suas vocações, suas transformações, sua vida no mundo enfim, são filmes ao vivo. Mas só quem tem filhos pode saber disso, ou melhor, pode sabê-lo.
O próprio Vinicius, aliás, termina o poema renegando a amargura inicial: “Chupam gilete / bebem xampu / ateiam fogo / no quarteirão / porém que coisa / que coisa louca / que coisa linda / que os filhos são!”
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Sumiço de palavras é daquelas coisinhas que irritam, deixando a gente a se perguntar porque comigo. Como quando você aperta o botão e o elevador abre lotado.
Ou você vai cortar aquele biquinho plástico do frasco de mel, corta demais e depois a tampa não mais fecha direito.
Ou, em café da manhã de hotel, você quer mel mas só tem naquela embalagenzinha que o dono da indústria devia ser filmado tentando abrir, ô coisinha!
E os caixas eletrônicos continuam a pedir “solicite senha” em vez de “digite senha”. Faz décadas que erros grosseiros de linguagem grassam nas telas, num descarado desprezo pela nossa língua, decerto porque ninguém reclama disso...
Por falar em telas, outra coisinha irritante é o desfile de logomarcas antes dos filmes. Dá saudade do tempo de uma logomarca só, Columbia, Metro, Condor com seu passarão que a gente enxotava gritando xô, xô, e ele voava pro fundo da tela. Bom hoje é que essa exibição multinacional de marcas mostra que o cinema globalizou, mas algumas são tão super produzidas que a gente pensa que o filme já começou, ô coisa!
E a tecnologia, com os bancos digitais, se não acabou está acabando com outras coisinhas degradantes, as taxas bancárias. E pensar que, antes, sempre pagamos aos bancões para lidarmos com nosso dinheiro com que eles lucram emprestando a outros...
É coisa a lembrar que, durante décadas, pagamos nas contas telefônicas uma “sobretarifa” de 10% para um tal Fundo Nacional de Telecomunicações, para melhorar nossa telefonia, que só melhorou com o fim do monopólio estatal e suas taxas sem contrapartida e nem prestação de contas.
Mas aí já são coisinhas que, somando milhões de otários e bilhões de tostões, viraram coisas que atrasam o Brasil. Como as tantas e altas taxas para comércio e indústria, exportações e importações, esteios da economia sugados pelo Estado, ou as taxas cartorárias, como o reconhecimento de firma dispensado pelo Código Civil mas exigido pela burocracia oficial.
Outra coisinha infame é aquela placa nas repartições, avisando que destratar funcionário público é crime. Falta outra ao lado avisando que negligência no serviço público também é crime.
Talvez tudo melhore quando, nas propagandas políticas, tiver de aparecer legenda assim nas gravações em estúdio: “O candidato está falando texto escrito no teleprompter”.
E que coisa, hem, começamos falando de coisinhas e chegamos a essa coisona com tanta coiseira por consertar, o Brasil, ou seja, os brasileiros.
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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina.
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