Londrina se prepara para vivenciar momentos de conexão com a exibição de filmes que transcendem a simples exposição de obras cinematográficas.

A partir deste sábado (12), até domingo (27), acontece a 2ª Mostra de Cinema Negro de Londrina, um evento que busca não só promover a produção cinematográfica brasileira, mas também criar pontes entre o público e obras que conversem com a linguagem do cinema popular e comunitário, inclusivo e antirracista.

"Além das Pipas", de Thiago Rodrigues, está na programação da 2ª Mostra de Cinema Negro de Londrina
"Além das Pipas", de Thiago Rodrigues, está na programação da 2ª Mostra de Cinema Negro de Londrina | Foto: Divulgação

O evento é um convite aberto à reflexão e ao encontro de histórias que ecoam a vivência e as lutas de um Brasil plural e repleto de vozes além de reafirmar o poder do audiovisual.

Durante sete dias de exibições gratuitas, os presentes poderão desfrutar de ações que envolve a apresentação de 70 filmes (curtas-metragens), realizados em 19 estados brasileiros, e um dia de palestra com a temática “Fotografia Popular”, ministrada pelo fotógrafo carioca e professor da Escola de Fotografia Popular da Maré, Ratão Diniz.

O evento é conhecido por ser um festival de cinema não competitivo realizado pelo Cocine (Coletivo de Cinema Negro de Londrina). Fundado em 2022, o objetivo do grupo é pesquisar, debater e divulgar o cinema negro, o cinema popular e suas diversas ramificações na cidade de Londrina. Para fazer acontecer, o Coletivo é composto por pesquisadores e pesquisadoras no campo do audiovisual, comunicação, história social e dos estudos da linguagem.

Segundo o coordenador geral do evento, Wellington Victor Pereira da Silva, a Mostra tem uma contribuição cultural, simbólica e de representatividade imensa para a população londrinense em geral. “O evento é de grande importância pois, para além de movimentar a cultura cinematográfica da cidade, busca promover o acesso às diversas produções do cinema brasileiro”, conta.

Confira o trailer do filme "Como Nossos Passos Seguirão os Seus", de Uilton Oliveira:

Nesta 2ª edição, a proposta de reunir filmes curtas-metragens do Brasil em quatro linhas de abordagem - o cinema negro, cinema popular e comunitário, cinema indígena e cinema infantil -, traz para a população uma variedade de obras que respeita a singularidade de cada estado brasileiro. É possível encontrar filmes das regiões de São Paulo (SP), como Além das Pipas (2023); Rio de Janeiro (RJ), como Nossos Passos Seguirão os Seus… (2022); Bahia (BA), com e Òrun Àiyé: A Criação do Mundo (2015); Minas Gerais (MG) com Monalisa (2024) e Medu du Escuro (2024), entre outros.

Além das produções nacionais selecionadas pela Mostra, o evento trará filmes produzidos por realizadores londrinenses na Mostra Londrina, como "Não Estamos Sós" (2024). “O objetivo esse ano é promover acesso à essas produções, divulgar o cinema popular e as produções locais, evidenciando uma abordagem que não trate as pessoas de forma pejorativa, mas que amplifique o cinema inclusivo, diverso e antirracista”, conta Wellington Victor.

A programação completa pode ser encontrada no site da Mostra, bem como os locais onde cada filmes será exibido e horários. Também é possível acompanhar atualizações através do perfil nas redes sociais do Cocine.

UMA ESTREIA QUE RESSOOU HISTÓRIAS

A primeira edição da Mostra aconteceu em maio de 2023 quando os organizadores viram a necessidade de resgatar a memória do primeiro cineasta negro de Londrina, Ari Cândido Fernandes.

Ari Cândido Fernandes, primeiro cineasta negro de Londrina, com um integrante do Cocine em 2023
Ari Cândido Fernandes, primeiro cineasta negro de Londrina, com um integrante do Cocine em 2023 | Foto: Wellington Victor/ Divulgação

Na ocasião, o pesquisador de cinema e integrante do Cocine, Fagner Bruno de Souza, descobriu sobre Ari durante a pesquisa de mestrado e, desde então, ele e o cineasta mantiveram contato, o que possibilitou descobrir os filmes realizados por Cândido.

O profissional teve reconhecimento nacional e internacional pela sua carreira, inclusive como primeiro fotojornalista negro brasileiro a trabalhar como correspondente internacional de guerra, quando atuou no fim da década de 1970.

Em parceria com o Museu Histórico de Londrina, ao longo de três dias, londrinenses puderam ter contato com os seis filmes dirigidos por Cândido que registram a grande contribuição de sua obra para o cinema negro brasileiro. Sendo eles: “Por que a Eritréia?” (1979)”, “Martinho da Vila, Paris 77” (1977), “Pacaembu: terras alagadas” (2006), “O Moleque” (2004), “Jardim Beleléu” (2009) e “O Rito de Ismael Ivo” (2003).

Além disso, após 40 anos distante, o homenageado da Mostra voltou para a cidade a fim de participar de rodas de conversas com o tema “O negro no cinema brasileiro e as produções cinematográficas de Ari Cândido Fernandes”.

Segundo o coordenador, na época, a adesão do público foi muito positiva. “Tivemos a participação da população interessada no cinema do Ari. Além disso, participaram representantes de movimentos populares e, também, participantes das Oficinas de Cinema Popular, que puderam interagir com o cineasta”.

Ari Cândido Fernandes faleceu em 19 agosto de 2023.

PARA ALÉM DA MOSTRA


O Coletivo promove a Oficina de Cinema Popular, um curso que, desde sua primeira edição em 2023, busca democratizar o acesso à linguagem e à produção cinematográfica por meio de aulas com profissionais experientes.

A Oficina explora a introdução e o desenvolvimento do cinema, com um enfoque especial no cinema popular e comunitário. As aulas são divididas em módulos teóricos, técnicos e práticos, capacitando os participantes para dominarem a linguagem. O projeto atua na linha de construir oportunidades e ampliar o acesso à produção e participação cultural no universo do cinema.

Ari Cândido Fernandes com os integrantes do Cocine (Coletivo de Cinema Negro de Londrina) na primeira edição da Mostra, realizada em 2023
Ari Cândido Fernandes com os integrantes do Cocine (Coletivo de Cinema Negro de Londrina) na primeira edição da Mostra, realizada em 2023 | Foto: Wellington Victor/ Divulgação

A VALORIZAÇÃO EM OUTRAS LOCALIDADES

Além de Londrina, outras regiões do País buscam promover o cinema negro a partir de iniciativas, é o caso do Festival Cinema Negro em Ação realizado no Rio Grande do Sul. Desde o início, além de exibir produções cinematográficas com protagonismo negro, o Festival oferece consultorias e laboratórios e realiza homenagens a personalidades importantes do cinema negro para promover debates e criar oportunidades de visibilidade.

No Brasil, desde 2016, cineastas negros podem contar com a Apan (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro). A instituição busca fomentar, valorizar e divulgar o cinema negro do pais. Além disso, promove diversas iniciativas como a plataforma de streaming Todes Play e a plataforma de ensino a distância Apan EAD.

Confira o curta "Além das Pipas" , de Thiago Rodrigues Oliveira:

* Supervisão: Célia Musilli/ Editora

SERVIÇO:

Sábado (12) – tarde: Sessão Mostra de Cinema Infantil, Associação Ciranda da Cultura, região oeste

Quinta-Feira (17) – noite: Sessão Mostra Geral de Filmes; Ocupação Flores do Campo, região norte

Terça-Feira (22) - tarde: Sessão Mostra Londrina, Biblioteca Pública de Londrina, região central

Terça-Feira (22) - noite: Sessão Mostra Geral de Filmes, Biblioteca Pública de Londrina

Quinta-Feira (24) - tarde: Sessão Mostra Geral de Filmes, Biblioteca Pública de Londrina

Quinta-Feira (24) - noite: Palestra “Fotografia Popular”, com o fotógrafo carioca, Ratão Diniz, Biblioteca Pública de Londrina

Sexta-Feira (25) - manhã e tarde - Sessão Mostra Geral de Filmes, NEAB/UEL

Sábado (26) - manhã - Sessão Mostra Geral de Filmes, Norte Cultural

Domingo (27) - tarde e noite - Sessão Mostra Geral de Filmes, Vila Cultural Casa da Vila, região central