Há um bom tempo o Brasil se tornou um interessante caminho financeiro para atletas e profissionais da América do Sul. A estabilidade econômica do país e melhor estruturação dos grandes clubes permitiram uma importação crescente de jogadores, principalmente. Até aí, nada de mais, pois é um movimento natural ao redor do mundo, de economias mais fracas perdendo seus talentos para centros mais poderosos.

Mas estamos nos especializando em trazer jogadores estrangeiros de nível médio, técnicos de times sem expressão, repatriar craques em final de carreira e vender as grandes revelações.

Talvez seja fácil entender por que nosso futebol está perdendo a identidade. Vira uma cadeia natural em que o mercado naturaliza um sistema que tem tirado nossa essência criativa e deixado de ser protagonista.

Com a chegada de mais um técnico português ao país para dirigir o Vasco, agora a metade dos times da Série A tem um “professor” estrangeiro. Sempre fomos, em todos os níveis, um país de acolhimento. Mas essa necessidade de só se olhar para fora precisa de reflexão, pois esse movimento gera uma sinalização para os novos e velhos profissionais brasileiros.

A maioria dos times que trocaram técnicos estrangeiros buscou também profissionais de fora para substituí-los. E a cadeia segue criando essa reserva de mercado, que é perigosa.

Admitimos, nos grandes clubes, técnicos de fora sem grandes currículos, mas não aceitamos nesses mesmos times técnicos brasileiros “que nunca ganharam nada”.

E na verdade, antes de importar tantos nomes, é esse modelo de oportunidade que precisamos aprender. O ex-zagueiro Vincent Kompany, aos 38 anos, é o novo técnico do Bayern de Munique. Xabi Alonso, do Bayer Leverkusen, foi o técnico mais exaltado na última temporada europeia, e só tem 42 anos.

Fomos invadidos por europeus, roubados por europeus, colonizados por europeus e continuamos aceitando mais do que deveríamos. Mas essa corrente pode fazer essa “mentira contínua” virar “verdade permanente”, criando um formato sem volta e comprometedor.

Jorge Jesus ainda é exaltado no Flamengo, mas não abriu portas na Europa. Abel Ferreira, o “gênio” do momento, só recebe propostas do mundo do petróleo, e não do futebol.

Precisamos aprender com os melhores, e não ser dominado pelos medianos.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião dos nossos colunistas não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina