Há 30 anos o estádio do Café recebia a Seleção
Vitória no amistoso contra a Romênia foi a única vez que a seleção brasileira principal jogou em Londrina
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sábado, 17 de abril de 2021
Vitória no amistoso contra a Romênia foi a única vez que a seleção brasileira principal jogou em Londrina
Lucio Flávio Cruz
Há exatos 30 anos a seleção brasileira principal jogava pela primeira e única vez em Londrina. O amistoso com a Romênia movimentou a cidade e levou um grande público ao estádio do Café em um período em que o Brasil e a CBF faziam questão de jogar em todos os estados do país, inclusive no interior.
Naquele 17 de abril de 1991, a Seleção ganhou da Romênia por 1 a 0, gol do volante Moacir, e amenizou a pressão sobre o técnico Paulo Roberto Falcão, que havia assumido o Brasil há um ano, mas ainda não tinha vencido após seis partidas. Falcão não perderia mais à frente da Seleção, mas também não teve vida longa no comando até ser substituído por Carlos Alberto Parreira.
“A pressão em cima do Falcão e de toda a seleção realmente era muito grande. Mas esta vitória deixou o vestiário mais tranquilo e o time começou a jogar melhor”, afirma Moacir, ex-volante do Atlético Mineiro e Corinthians, autor do gol no estádio do Café. “Este gol me ajudou muito porque estava me firmando na Seleção”.
Moacir relembra que havia uma cobrança excessiva em cima de Falcão e lamenta que o treinador não tenha tido mais tempo no comando do Brasil. “Ele teve muita audácia e coragem de renovar praticamente toda a Seleção. Ele poderia ser um grande treinador porque era muito inteligente e seus treinamentos eram diferentes”.
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Do time que jogou no Café vários jogadores seriam tetracampeões mundiais em 1994, como Cafu, Márcio Santos, Leonardo, Mauro Silva, Mazinho e Bebeto. O Brasil teve Sérgio; Balu (Cafu), Ricardo Rocha, Márcio Santos e Leonardo: Mauro Silva, Moacir, Mazinho e Neto; Renato Gaúcho e Bebeto (Careca).
Torcida
O público total presente no estádio do Café foi de 37.199 torcedores – 35.942 pagantes -, com renda de Cr$ 81.084,000, dinheiro suficiente para pagar a cota da CBF pela realização do jogo.
O representante comercial Alex Melo, 45 anos, lembra que já trabalhava na época, mas faltou no emprego para chegar cedo ao Café. “Fui com alguns amigos e ficamos o dia todo rodeando o estádio para tentar entrar e também conseguir algum contato próximo com algum jogador”, comenta. “O jogo não foi tão bom, mas foi muito emocionante e para a cidade, sensacional”.
Jogando de camisa azul, a Seleção realmente não fez uma grande apresentação e o gol só saiu aos cinco minutos do segundo tempo. Após escanteio cobrado por Neto, o goleiro romeno Stelea vacilou, não segurou e Moacir aproveitou o rebote para marcar.
O camisa 10 foi uma das grandes atrações da passagem do Brasil por Londrina. Muitos corintianos foram ao Café para ver o meia, que no ano anterior havia sido campeão brasileiro pelo Timão.
O jogo também teve uma peculiaridade que acompanha o estádio do Café há anos. Assim como acontece atualmente com frequência, faltou energia aos 32 minutos do primeiro tempo e a partida ficou paralisada por cerca de 20 minutos.
Frequentar o Café era uma rotina desde a infância para o contador Danilo Mioto, 40 anos, mas ter a chance de ver a seleção brasileira de perto era como um sonho.
“Eu ia religiosamente aos jogos do Londrina, aquele era o meu mundinho. Mas jogos do Brasileiro e da Seleção era só pela TV, era outro mundo. Me senti vendo artistas famosos. Não era apenas torcer, era vivenciar algo inimaginável”, relata. “O Bebeto, o Renato Gaúcho eram nossos Cristiano Ronaldo e Messi. Não em futebol, é claro, mas em idolatria”.
A paixão e a proximidade com a seleção brasileira eram bem diferentes da vivida atualmente, mesmo porque raramente o Brasil agora faz partidas no país, muito menos no interior.
“Era muito bom jogar em todos os estados e ter este contato próximo com a torcida. Havia uma identificação da população com a seleção. Tínhamos o prazer de sentir um pouquinho de cada torcida dos clubes brasileiros. Hoje, a Seleção está muito distante”, aponta Moacir.
Olheiro
Há 30 anos a quantidade de informações sobre os rivais não era tão abundante como hoje e a comissão técnica do Brasil conhecia pouco da Romênia. O advogado e ex-presidente do Londrina Osvaldo Sestário era amigo da família Vezozzo, proprietária do Hotel Bourbon, onde o Brasil ficou concentrado. Em uma conversa soube da necessidade dos brasileiros e fez a função de informante do técnico Falcão.
“Em 1991 eu era só um torcedor e tinha todos os jogos da Copa de 1990 gravados. Então, me pediram para eu levar as fitas de VHS para a comissão técnica”, recorda. “Anos depois encontrei o Falcão e falamos sobre isso”.
A seleção brasileira voltaria a Londrina em 2000, mas com o seu time olímpico que venceu o Pré-Olímpico na cidade e garantiu vaga nos Jogos de Sidney.
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