Há 38,4 milhões de trabalhadores informais no país. Os números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a taxa de desemprego caiu, sobretudo porque as pessoas dão um "jeitinho" para conseguir alguma renda. A taxa de informalidade (que inclui trabalhador sem carteira, doméstico sem registro, empregador sem CNPJ, trabalhador por conta própria sem CNPJ e auxiliar familiar) atingiu seu maior nível desde 2016.

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São pessoas como Cícero Silva, 72, e Ademir Aversa, 69. Ambos são aposentados e trabalham como pedreiros para complementar a renda. Eles conseguem cobrar pela diária um valor que varia entre R$ 100 e R$ 150. Os dois afirmam que conseguem os serviços exclusivamente por indicação de outras pessoas e não utilizam recursos como a divulgação dos serviços que fazem pela internet, seja por mídias sociais ou sites. Mas uma das formas de conseguir renda é oferecendo serviços pela internet por meio de plataformas especializadas. A GetNinjas, que conecta prestadores de serviços com contratantes, estima ter intermediado 800 mil propostas de orçamento só em São Paulo em 2019.

A maioria das solicitações de orçamento foi relativa a serviços domésticos. Foram 46.046 pedidos por trabalhos de pedreiro no período, o mais buscado. Os valores dependem do tipo de tarefa a ser executada, com a média de R$ 650 o metro quadrado para construção de paredes ou estruturas a R$ 250 para colocação de janela. Na sequência, aparecem pedidos de mudanças e carretos (entre R$ 200 e R$ 600 por viagem), diarista (R$ 150 por faxina), eletricista (R$ 150 para trocar a fiação e R$ 60 para instalar tomada) e montador de móveis (R$ 120 por móvel). Em Londrina o valor registrado para um pedreiro por metro quadrado é de no mínimo R$ 349, 50 e de no máximo R$ 480,40, segundo a GetNinjas.

Marcelo Rodrigues se cadastrou há alguns anos para prestar o serviço de “marido de aluguel”. Ele classifica a plataforma do GetNinjas como ótima. “Eu tinha meu clientes fixos. Mas o app me ajudava a buscar novos clientes, assim que eu liberava uma solicitação, era liberado o contato com o cliente onde verificava com mais detalhes sobre o serviço e passava o valor do serviço, para que ele me contratar. Aí dependia de mim como prestador realizar da melhor forma o serviço e conquistar mais um cliente. Quando tinham muitos feedbacks positivos em comentários, fazia com que outros clientes me contratassem”, destaca. Ele expõe que a vantagem é o detalhamento dos serviços solicitados. “É possível escolher o tipo de serviço e se adequar ao seu tempo. Os comentários dos clientes ajudam muito a fechar outros serviços”, destaca.

Nádia Quinteiro, proprietária de uma escola de mindfulness (foco e atenção) e meditação em Londrina, já utilizou o serviço. “Estava com um vazamento na caixa d’água. Contratei pelo site, e o encanador me mandou uma mensagem pelo WhatsApp dizendo que era um dos profissionais cadastrados. A gente marcou uma visita a gente marcou uma visita fez o orçamento e fechei com ele. Eu gostei do serviço. O custo benefício foi bom. Paguei R$ 60 pela troca de uma boia”.

A professora Maria Cobbe também fez uso do serviço em Londrina. “Eu estava mudando de apartamento. Contratei uma diarista pelo GetNinjas por uma questão de segurança. Não sou apegada a bens materiais, mas a gente ouve cada notícia de violência. Eu tenho um certo receio”, relatando que já teve uma experiência anterior com outro tipo de empresa que não deu muito certo.

Maria Cristina Andrade, de Ibiporã, faz um curso técnico, precisou fazer um estágio e não conseguiu nenhum emprego com o qual pudesse conciliar horários. “Decidi fazer faxina e comecei a buscar pelos aplicativos para poder arrumar esses trabalhos”. Ela relata que pelo aplicativo consegue passar confiança para o cliente. “Porque a gente tem que fazer um cadastro, precisa deixar os dados da gente. No geral é bom para quem está precisando trabalhar. A maioria das pessoas está preferindo esse tipo de lugar para buscar os profissionais. Eu gostei, porque era uma hora que eu estava precisando muito”, destaca.

Mas ela afirma que o aplicativo deixa a desejar em alguns aspectos. “Tem que ter paciência. Às vezes a gente perde dinheiro também, porque quando a gente desbloqueia o contato do cliente, ele não te informa se fechou o serviço com outro prestador de serviço. A gente acaba perdendo tempo nesse sentido”, destaca. Outra coisa que ela acha ruim no aplicativo é a desumanização das relações entre ela e os clientes. “A gente nunca consegue conversar com uma pessoa. É sempre por mensagens. A gente quer tirar uma dúvida e o aplicativo não dá essa opção de conversar. O cliente nem dá um bom dia ou boa tarde”, destaca. (Com Camila Feltrin/Folhapress)

A diferença entre MEI, ME e trabalhar com carteira assinada

O regime CLT é protegido pela Constituição desde 1943, protegendo direitos ao trabalhador como as férias remuneradas, o 13º e os limites de oito horas por dia de carga horária de trabalho. O pedreiro Valdecir Martins Ferreira, 45, trabalha como pedreiro há 25 anos e há 15 anos com carteira de trabalho registrada. “A diferença é que com a carteira registrada tem bastante ganhos e benefícios que a empresa propõe. Há uma segurança maior para a família e a gente consegue planejar mais a vida. Fora que estou investindo no futuro, na minha aposentadoria. Como autônomo, mesmo fazendo força, alguma vez você deixa de recolher o INSS. Com a carteira assinada não tem essa preocupação”, destaca.

Valdecir Martins Ferreira, 45 anos, pedreiro: "A diferença é que trabalhando com carteira assinada a gente consegue planejar mais a vida”
Valdecir Martins Ferreira, 45 anos, pedreiro: "A diferença é que trabalhando com carteira assinada a gente consegue planejar mais a vida” | Foto: Roberto Custódio

Ele ressalta que outros benefícios são ter plano de saúde, poder gozar das férias todo fim de ano, ter 13º salário. “Como autônomo a gente não pode gozar disso. Sendo registrado dá para se programar mais. Eu trabalho na Plaenge, que é uma das melhores firmas que tem na região de Londrina. Quando um funcionário veste a camisa da empresa tem possibilidade de ter cargos melhores, de ter um plano de carreira. Um pedreiro C ganha R$ 1700, um pedreiro B recebe R$ 1900 e assim sucessivamente”, exemplifica. Ele sabe que como autônomo é possível ter ganhos um pouco maiores, mas há a preocupação de não ter serviço de um dia para o outro. “Com o mercado de trabalho instável não dá para planejar”. Sem contar com a disponibilidade constante de equipamentos de segurança. “Aqui na Plaenge eu tenho todos os EPI. Como autônomo geralmente a gente não usa. Aqui a gente é cobrado a usar”, enaltece.

Para quem quer ser autônomo, há também vantagens. Péricles Lanzoni é eletricista e durante muitos anos trabalhou com carteira de trabalho assinada, mas para ele, que possui muitos clientes, ele afirma que não compensa. “Prefiro trabalhar como autônomo. Ganho 30% mais do que na época em que trabalhava com carteira assinada. Eu sou MEI (Micro Empreendedor Individual)”. Segundo ele, é muito difícil estabelecer um valor fixo, mas em uma troca de fiação de um imóvel antigo de 50 metros quadrados cobra em média R$ 2500. “ Cada serviço tem um valor relativo, por isso trabalho sempre por empreitada”, destaca. Ele relata que só trabalha por indicação e não tem intenção de começar a divulgar os serviços pela internet. “Como trabalho sozinho, não dou conta de aumentar mais os clientes”, ressalta.

Já Dorival Brás Ferreira, 64, trabalhou na FEL (Fundação de Esportes de Londrina) por muitos anos e se especializou na manutenção de quadras esportivas e consertos de traves de futebol e tabelas de basquete. Há dez anos ele se tornou ME (Micro Empreendedor) e isso permite que ele participe de licitações públicas, no entanto tem enfrentado mais dificuldades para executar obras particulares. “Hoje, com os MEIs, está muito concorrido. O encargos deles é muito pouco. O nosso chega quase a 20% do encargo. Eu pago 13% na nota fiscal e pago o DAR (Documento de Arrecadação Avulso). Não consigo concorrer com os pequenos, e tenho o risco de levar calote. Recentemente levei o calote de R$ 50 mil de uma empresa e tive de dispensar cinco funcionários”, destaca. Mesmo assim ele afirma que não faltam clientes e ele nem pensa em anunciar seus serviços na internet, com o receio de que não consiga dar conta da demanda, já que os clientes que possui já ocupam toda a sua agenda. (V.O.)