O pastel é democrático. A massa fininha que ganha um tom dourado e se enche de bolhas quando imersa em óleo quente pode ser crocante ou macia e permite todos os tipos de recheio. Desde os tradicionais e imbatíveis carne e queijo às combinações mais inusitadas, como estrogonofe e feijoada, passando pelas opções vegetarianas e veganas, até chegar nas versões doces. Difícil é encontrar quem não goste de pastel.

Substitui uma refeição, satisfaz a fome no meio da tarde e na barraca da feira, é opção de lanche para o fim da balada ou café da manhã para os madrugadores. Acompanhado de molho de pimenta, vinagrete, maionese, ketchup ou mostarda, vai bem com caldo de cana, refrigerante, suco, vitamina, um café ou pingado e na mesa do boteco, forma um par perfeito com a cerveja gelada.

O pastel é uma verdadeira paixão da gastronomia nacional e movimenta bilhões de reais todos os anos no setor da alimentação
O pastel é uma verdadeira paixão da gastronomia nacional e movimenta bilhões de reais todos os anos no setor da alimentação | Foto: iStock

No Brasil, é um dos lanches mais populares, presente desde as lanchonetes mais simples, com valores acessíveis, aos restaurantes mais requintados, recheados com ingredientes nobres, em porções mini e preços maxi. Uma verdadeira paixão da gastronomia nacional e que movimenta bilhões de reais todos os anos no setor da alimentação.

RELEITURA DO ROLINHO PRIMAVERA

Conta a história que a iguaria surgiu no Brasil no final do século 19. Em 1890, imigrantes chineses que viviam na cidade de São Paulo buscaram inspiração no rolinho primavera, prato oriental feito com massa de arroz e recheado com legumes e carne de porco, para criar a versão tupiniquim. Na adaptação, a massa à base de arroz deu lugar à de farinha de trigo e a carne suína foi trocada pela bovina.

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Mas foi só nos anos de 1940 que os pastéis ganharam popularidade. Após a Segunda Guerra, o Brasil recebeu um número expressivo de refugiados japoneses que receosos de sofrerem discriminações por terem combatido do lado do Eixo no conflito, fingiam ser chineses. E para não levantar suspeitas sobre a sua real nacionalidade, teriam tomado emprestado dos chineses alguns costumes. Um deles, o de preparar pastéis. Para muitos japoneses, o disfarce virou ofício e foi assim que as pastelarias e as barracas de pastel nas feiras livres começaram a se multiplicar. Primeiro, na capital paulista, e mais tarde, por todo o território nacional.

De meio de sobrevivência a um negócio super lucrativo, passaram-se algumas décadas e hoje, há redes de pastelarias em todo o Brasil. Uma delas, fundada há 28 anos, em Curitiba, conta com 66 lojas em operação. A 10 Pastéis contabilizou, em 2023, um faturamento próximo de R$ 66 milhões, com projeção de chegar a R$ 68 milhões até o final de 2024 e mais 18 unidades em atividade, totalizando 84 lojas.

ESPAÇO PARA CRESCER

Atuando no mercado pelo sistema de franquias, o diretor de Novos Negócios da rede, Lucas Nagano, afirma que o segmento de pastelarias ainda tem muito a crescer no Brasil e enxerga um enorme potencial nesse segmento. Em Londrina, a rede conta com duas lojas. A segunda, inaugurada recentemente.

A expectativa para essa segunda unidade é movimentar R$ 1,2 milhão ao ano. Somando com a primeira loja, o faturamento anual deve ficar entre R$ 2,5 milhões e R$ 2,6 milhões. “O pastel é muito acolhido pelo brasileiro. Tem muita memória afetiva atrelada ao hábito de comer pastel”, comentou Nagano.

Para atrair a clientela, a rede criou a borda recheada, massas coloridas e opções veganas. Com a diversificação do cardápio, passou a oferecer também pratos simples, porções, panquecas e saladas. Mas o carro-chefe é mesmo o pastel. “A empresa tem que inovar, mas mais do que isso, o segredo principal é estar atualizado e o olhar deve estar no cliente. É preciso estar atento ao que ele quer no momento e se adaptar. E o pastel permite que se faça muitas coisas com ele.”

SETOR AQUECIDO

No Brasil, em 2023, a receita do segmento de Food Service, categoria na qual estão incluídas as pastelarias, cresceu 17,9%, saltando de R$ 39,8 bilhões para R$ 46,9 bilhões, segundo levantamento da ABF (Associação Brasileira de Franchising). E em 2024, os negócios seguem aquecidos. No primeiro trimestre deste ano, a expansão na receita desse mesmo segmento foi de 26,6% na comparação com os três primeiros meses do ano passado.

De olho nesses números, a Pastelaria Balalaika, em Londrina, planeja ingressar no mercado de franquias. O estabelecimento nasceu há 16 anos, na avenida Saul Elkind (zona norte), e há cerca de um ano conta com uma filial no jardim Londrilar (zona sul). O sucesso do negócio levou a sócia-proprietária Franciele Olegário Rodrigues a traçar planos maiores para a marca que começou como um pequeno empreendimento familiar.

Rodrigues atribui a longevidade do negócio à quantidade e à qualidade do produto vendido aos clientes. Os pastéis de 30 centímetros são fartos em recheio. A pastelaria também oferece outros tipos de lanches e refeições, mas o forte segue sendo o produto original. “O pastel tem a praticidade, é uma refeição mais rápida, completa. E, no nosso caso, o cliente tem a opção de montar do jeito que ele quer. Tem um ótimo custo-benefício”, avaliou.

Inovar nos sabores é uma preocupação constante para manter a clientela. Os campões de venda são os mais tradicionais, como carne, frango com bacon e catupiry e pizza, mas o cardápio inclui ainda o de costela, que tem bastante saída, e o de estrogonofe de carne. Rodrigues não revela o faturamento, mas disse que apenas na matriz são vendidos entre 150 e 200 pastéis por dia, a um preço médio de R$ 19,50 cada um. “Temos outras opções no cardápio, servimos refeições, mas o pastel sai o dia todo, das 9 horas à meia-noite.”