Segundo levantamento da empresa SABE Invest, realizado com 238 empresas listadas na B3, apenas o setor de tecnologia da informação (TI) ficou imune à crise da Covid-19. As empresas de TI apresentaram alta de 142% no resultado líquido, que ultrapassou R$ 84 bilhões, além de ser um setor que continua contratando profissionais e tem até dificuldades em encontrar talentos para preencher todas as vagas disponíveis.

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Em tempos de pandemia e reclusão social, há muitos contratos rompidos e muitos salários reduzidos , mesmo assim, o setor de TI mantém o ritmo e segue contratando. As empresas de tecnologia têm a facilidade adicional de poder realizar os trabalhos à distância, o que facilita ainda mais a contratação de pessoas e diminui os gastos da empresa.

Cleverson Neves, professor do Departamento de Economia da UEL e da Unopar, afirma que antes de tudo, devemos compreender o que é esta crise, que se agravou devido a chegada do coronavírus. “É uma crise de ordem da saúde que interfere diretamente nos aspectos econômicos. Para que possamos controlar a questão ligada à saúde precisamos conter o avanço do contágio, e isto está muito ligado com as relações pessoais e profissionais das pessoas”, comenta Neves.

Neves explica que a tecnologia é tão importante neste momento pelo fato de ajudar a reduzir as relações presenciais e auxiliar na diminuição da curva de contágio, fazendo com que as pessoas se comuniquem e realizem suas atividades, via internet. “Ela se torna uma ferramenta efetiva que vem de encontro com as normativas de instrução da OMS, que é o distanciamento social, e permite a volta da fomentação econômica, alguns setores acabam tendo maiores proporções de vendas e outros com menores. Está pandemia está fazendo com que as pessoas se reinventem, tanto os produtores como os consumidores, as pessoas estão mais atentas quanto ao que é ou não importante”.

O professor ainda acrescenta que a tecnologia da informação é a mola que garante que a roda da economia continue girando. “É um processo lento, mas muito melhor assim do que se a economia estivesse parada. Toda crise e todo processo de mudança nunca são fáceis, mas são oportunidades. Estamos tendo uma chance de avançar o “status quo” no qual estávamos acostumados, e evoluir”, completa Neves.

Dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) apresentam as dificuldades de atração de talentos neste setor tecnológico. De acordo com a pesquisa, existe um déficit de 24 mil profissionais de TI por ano no Brasil, diferença entre pessoas capacitadas na área e o número de vagas em aberto anualmente.

A profissional do Departamento de Computação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Jandira Guenka, acredita que a tecnologia é um recurso para enfrentar as adversidades da pandemia. “Quem trabalha no setor de TI tem a tecnologia como ferramenta para que outras atividades possam ter continuidade. Nesta área não é sempre necessário que o profissional esteja fisicamente na empresa para que o trabalho seja executado. Desenvolvedores são contratados e oferecem seus serviços de maneira muito profissional e dinâmica em formato home office. Hoje a demanda não é especificamente voltada a relacionamentos humanos, mas à entrega de um serviço ou produto, facilitando a contratação de pessoas desta área”, explica Guenka.

Lucas Ibiapina é engenheiro de software e trabalha há 7 anos na área de TI. Ele explica que as empresas para se tornarem mais competitivas estão sempre investindo em tecnologia para otimizar processos de trabalho, tanto para melhor atender os clientes, quanto para garantir mais velocidade em relação aos seus concorrentes.

“A demanda para o mercado de TI vem crescendo, mas ainda há um número baixo de pessoas buscando seguir carreira nesta área. Com isso, empresas de outros países estão aumentando a procura por brasileiros que queiram morar fora do país ou até mesmo trabalhar no modelo home office ganhando em dólar, além daqueles profissionais que possuem seu próprio negócio, desenvolvendo aplicações para empresas de maneira terceirizada, os freelancers”, destaca Ibiapina.

A maior dificuldade em trabalhar home office, avalia o engenheiro, é manter uma rotina e ter foco. “Antes da pandemia eu poderia trabalhar em home office mas, em contrapartida, possuir uma vida social. Agora, com o isolamento, acaba sendo mais difícil se desligar do trabalho e ter momentos de lazer.”

Lucas ainda acrescenta, que além da falta de interesse das pessoas nesta área, falta também o incentivo de empresas e do próprio governo. “O objetivo deveria ser apresentar a tecnologia nas escolas, mostrar mais desse mundo paralelo, para que antes que o aluno saia do ensino médio ele possa ter um bom conhecimento sobre a importância desta área e de como ela funciona no mercado. Hoje ainda é muito nebuloso para as pessoas, o potencial que uma carreira de TI pode alcançar”, opina.

*(Supervisão: Lúcio Flávio Moura (editor de Economia)