Enquanto os gaúchos sofrem há duas semanas com a tragédia causada pelo excesso de chuvas, uma boa parte do Paraná enfrenta uma estiagem prolongada e temperaturas acima da média para esta época do ano. Na região de Londrina, o índice pluviométrico acumulado desde março está 62% abaixo da média registrada no período. A seca leva preocupação ao campo, especialmente para o cultivo do milho, que está em fase de enchimento de grãos.

A estação meteorológica do IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) registrou, em março e abril, um total de 137,7 milímetros quando o esperado era acima de 360 milímetros. O acumulado de chuvas totalizou 110,6 milímetros em março, 127,1 milímetros em abril e, em maio, até o momento, não choveu no Norte do Paraná. Em maio, até agora, nenhuma gota sequer de chuva caiu sobre o Norte paranaense. A média histórica para março é de 144,4 milímetros, para abril, 103,9 milímetros e em maio, 115,1 milímetros.



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“Tivemos a atuação de uma massa de ar quente e seco que predomina na nossa região e que se comporta como um bloqueio atmosférico. Ela não permite que os sistemas frontais, as frentes frias que estão provocando chuva no Rio Grande do Sul avancem na nossa direção. Essa massa de ar quente e seco também está sendo responsável pelas temperaturas bem elevadas, esse calor intenso e ondas de calor e, consequentemente, a precipitação abaixo da média climatológica que temos acompanhado nos últimos tempos”, explicou a agrometeorologista do IDR-PR, Ângela Beatriz Costa.

Milho

Em seu mais recente boletim, o Deral (Departamento de Economia Rural), órgão da Secretaria de Estado do Abastecimento) responsável pelo monitoramento da cadeia produtiva agrícola no Paraná, apontou os riscos para a cultura de milho, em fase de floração e enchimento de grãos. Segundo o boletim que avalia as condições de tempo e cultivo, referente ao período de 30 de abril e 6 de maio, algumas áreas do Estado são afetadas pelo forte calor e pela estiagem. Há lavouras que estão desde 16 de abril sem receber chuvas. Na fase inicial do enchimento de grãos, a água é fundamental.

No último levantamento, o Deral observou a piora das condições de campo do milho segunda safra 2023/2024. No boletim divulgado em 9 de maio, os técnicos do departamento constataram que dos 2,4 milhões de hectares plantados, 64% apresentavam condição boa ante 67% na semana anterior. Enquanto isso, as áreas classificadas como em condição mediana somaram 24% e 11% estão em condição ruim.

Trigo

Embora o plantio de trigo tenha avançado na Região Norte, com as plantações em desenvolvimento, a cultura também sofre as consequências da seca. Uma delas é a redução da área de cultivo projetada inicialmente. Em parte da Região Norte, o plantio foi interrompido por falta de umidade do solo e algumas áreas recém-emergidas amargam a estiagem.

Segundo o Deral, uma parte dos agricultores resolveu arriscar e plantar "no pó", aguardando as precipitações necessárias para que as lavouras iniciem o ciclo, mas a chuva demora a aparecer.

Se as previsões meteorológicas se confirmarem, o Norte paranaense deverá sofrer com a escassez de chuva por um bom tempo. Até a próxima sexta-feira (17), o sol deve predominar na região, com as temperaturas chegando aos 32 graus, segundo o Simepar. Entre sábado e domingo, há previsão de pancadas de chuva e uma ligeira queda nas temperaturas, mas o sol retorna na terça-feira (20), assim como o calor acima dos 30 graus.

Estiagem aumenta o risco de incêndios ambientais

Além da agricultura, o tempo seco também ameaça a fauna e a flora já que o longo período sem chuvas favorece a ocorrência de incêndios ambientais. O IAT (Instituto Água e Terra) emitiu alerta sobre incêndios nas UCs (Unidades de Conservação) do Paraná.

Desde abril, fiscais do instituto ambiental foram acionados para controlar princípios de incêndios próximos aos parques estaduais de Vila Velha, em Ponta Grossa, e Monge, na Lapa. O fogo foi provocado pelo acendimento de uma vela e pelo lançamento de bituca de cigarro em locais inadequados.

Situações de imprudência foram observadas também em áreas de apoio de outras UCs administradas pelo IAT, como Serra da Baitaca, Pico do Marumbi, Rio da Onça e Ibiporã. “Os incêndios comprometem a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas UCs e são uma preocupação muito grande na temporada de outono e inverno. O fogo resulta na perda de habitats, na morte de animais mais lentos, como répteis e filhotes, e também facilita a proliferação de espécies exóticas e invasoras”, destacou o gerente de Áreas Protegidas do IAT, Jean Alex dos Santos.

Em Londrina, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros, somente em maio foram registrados mais de 34 pontos de incêndio e de queimadas, sendo o maior número contabilizado no último domingo (12), com seis ocorrências.

Imagem ilustrativa da imagem Em contraste com o RS, estiagem prejudica lavouras no Norte do Paraná
| Foto: Roberto Custodio

À população, os incêndios trazem o incômodo da fumaça, que pode causar mal-estar e problemas respiratórios, além da emissão de grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera, uma das principais causas do aquecimento global.

O IAT ressaltou ainda que acender fogueira ou usar fogo de forma indiscriminada em uma UC é crime ambiental previsto em lei estadual e dependendo da gravidade da situação, o responsável pode ser punido com reclusão de até cinco anos e condenado a pagar multa com valores que variam de R$ 200 a R$ 100 mil.(Com informações da Agência Estadual de Notícias)