Um adolescente de hoje não faz ideia da dificuldade que era se locomover por lugares desconhecidos antes da internet. Era preciso comprar um mapa de papel e traçar a rota, com bastante antecedência. Muitas vezes um amigo ou parente que já havia ido para o mesmo lugar dava referências de orientação.

O mesmo acontecia para trajetos dentro da cidade. Mapas municipais eram divididos em páginas, mas a sequência da página 16 às vezes era na 24. Uma confusão.

A partir de 8 de fevereiro de 2005, isso começaria a mudar.

Foi nessa data que o Google Maps foi lançado nos Estados Unidos. O serviço de mapa digital, inicialmente só para desktop, numa era pré-iPhone, revolucionou a relação do ser humano com o espaço.

Os serviços foram sendo ampliados aos poucos. Em 2007, o Maps chegou ao Brasil. Mesmo ano em que a empresa americana lançaria o inovador e polêmico Street View.

Hoje, com bilhões de dólares investidos nos últimos 15 anos, o Maps é usado, mensalmente, por mais de um bilhão de pessoas. A área mapeada pelo Earth abrange 98% da população mundial.

Para entender como a gigante de tecnologia abocanhou o mapeamento terrestre, é preciso voltar no tempo.

A Microsoft, de Bill Gates, criou no final dos anos 90 o primeiro mapa de satélite interativo de uso público do mundo, o Terraserver.

O objetivo nem era criar um "Microsoft Earth". A empresa queria desenvolver um grande banco de dados que garantisse o funcionamento de seus demais produtos.

O produto funcionava bem. Mas não era prioridade da Microsoft ser uma plataforma de informações, e o produto ficou escanteado até ser encerrado em 2007 (havia também receio de haver invasão de privacidade no software).

O mercado de mapas digitais era, então, dominado pela Mapquest, lançado em 1996 como produto web (a empresa existia desde 1967 e produzia mapas de rotas que eram distribuídos em postos nos EUA).

No entanto, comparado ao Terraserver, era bastante rudimentar, basicamente um mapa de papel transposto para o site.

Em paralelo a isso, o Google engatinhava para virar gigante. Em 2004, fez o IPO (oferta pública de ações) na Bolsa americana. No mesmo ano, comprou a Keyhole, de mapeamento digital, que havia lançado seu "Earth Viewer" em 2003, usando -olhem só- o Terraserver como base. O Google transformaria o Earth Viewer em Google Earth.

Também em 2004, comprou a recém-fundada australiana Where2 Techonologies, startup de mapeamento digital. Os quatro fundadores viraram Nooglers (como o Google chama seus novatos) e criaram um monstro chamado Google Maps.

A partir daí, o Maps se tornaria o Maps.

Primeiro, e talvez mais importante, o Google lançou o "Google Maps API", que permitia a desenvolvedores incorporar a ferramenta em suas páginas. Ou seja, milhões de sites mundo afora poderiam, com um clique, colocar a localização do endereço comercial, por exemplo.

Em 2007 haveria o pontapé da revolução mencionada no início do texto. O Maps, apesar de certa preferência de Larry Page e Sergey Brin (fundadores do Google) pelo formato desktop, chegou ao celular, inicialmente para Blackberry e Palm. Em 2008, haveria a estreia do aplicativo para Android (o de iOS só quatro anos mais tarde, em 2012).

Foi a partir da década de 2010 que o mundo se tornou mobile first. Era tudo que o Maps precisava para virar metonímia de mapas.

Novos recursos foram sendo lançados quase que anualmente, como inclusão de informações sobre transporte público ou dados de trânsito em tempo real.

Rivais surgiriam, como o israelense Waze, que virou referência de aplicativo para motoristas. O Google foi lá e comprou o rival.

Nem tudo é perfeito. O Google Street View, que permite experiências imersivas, por exemplo, causaria uma série de problemas judiciais e econômicos à empresa por violação de privacidade. Isso porque os carros do Google com a câmera 360º flagariam cenas e momentos cujos personagens gostariam de permanecer anônimos.

Além da mobilidade, a evolução do Maps ao longo dos anos caminhou para torná-lo uma plataforma all-inclusive.

Em 2014, ficou mais fácil para usuários fornecerem informações como horas, classificações e preços de restaurantes, bares e hotéis.

A aposta nessas contribuições é um dos focos do Google Maps atualmente, se aproximando cada vez mais de uma rede social. Na última quinta-feira (6), a empresa americana lançou uma nova versão do recurso que solicita avaliações e fotos de usuários dos lugares que eles visitam, buscando aumentar seus dados em uma área liderada por aplicativos como Zomato, TripAdvisor e Yelp.

Outro desejo do Maps passa pelo Live View, lançado em 2019. O sistema usa realidade aumentada para encontrar o caminho a pé. Sabe quando vocês sai do metrô em uma cidade desconhecida e não está entendendo se deve ir para direita ou esquerda? Basta apontar o celular para a região e o app identifica a direção a ser seguida.

"É só o começo [do uso de realidade aumentada]. [O objetivo] é entrar na realidade do dia a dia", diz André Kowaltowski, gerente de Maps para América Latina.