As mulheres têm, realmente, mais jogo de cintura para enfrentar as dificuldades, mas algumas particularidades entre os gêneros na hora de empreender devem ser consideradas, segundo a fundadora da Rede Mulher Empreendedora, Ana Fontes. Enquanto os homens apontam o ganho financeiro como um dos principais motivos que os levam a tornarem-se donos do próprio negócio, para as mulheres, a flexibilidade no trabalho, a fonte de sustento e a busca por um propósito falam mais alto. Entre as empreendedoras, é mais comum a visão do negócio mais humana, mais inclusiva e o modelo de gestão mais próximo dos colaboradores.

Ana Fontes: "A gente quer mostrar que elas são inovadoras, sim, mas temos que olhar para essas mulheres com tantas responsabilidades e acúmulo de tarefas"
Ana Fontes: "A gente quer mostrar que elas são inovadoras, sim, mas temos que olhar para essas mulheres com tantas responsabilidades e acúmulo de tarefas" | Foto: Karime Xavier - Folhapress

A maternidade também impulsiona muitas mulheres a ingressarem no empreendedorismo, em razão de o ambiente corporativo ainda ser bastante hostil para as mães de filhos pequenos. Outra particularidade são as áreas de atuação escolhidas por elas, com destaque para moda, beleza, estética, alimentação fora de casa e serviços, alguns dos segmentos mais impactados pela pandemia.

“A pandemia veio como um tsunami com várias ondas depois”, comparou Fontes. “Além de terem sido bem afetadas, as mulheres tiveram que ficar dentro de casa com as crianças, com a falta de equilíbrio na divisão do trabalho doméstico e com o agravante de terem aumentado os casos de violência doméstica. Tudo isso afetou a saúde emocional delas.”

Como 40% das mulheres empreendedoras dependem do sucesso de seus negócios para viverem, a crise fez com que elas se desdobrassem mais para contornar a crise, reorganizando o modelo de negócio, fazendo pequenas inovações, alterando o modelo de produto, a forma de entrega, o relacionamento com os clientes e o marketing digital. “A mulher depende do negócio para viver, está nesse caldeirão todo dentro de casa e teve que buscar saídas com mais agilidade, mais entendimento, mais profundidade e uma visão mais sistêmica”, disse Fontes, chamando a atenção para uma nova forma de leitura dos dados levantados pelo Sebrae.

“As mulheres recebem pouco apoio para empreender. A gente quer mostrar que ela é inovadora, sim, mas que ela é fragilizada e que nós temos que olhar para essas mulheres com tantas responsabilidades e acúmulo de tarefas. A sociedade civil está fazendo alguma coisa nesse sentido, mas é preciso que o poder público também faça”, defendeu Fontes.