Muita gente compreende os termos empresário e empreendedor como sinônimos, mas a verdade é que eles dizem respeito a papéis distintos e complementares. Um equívoco conceitual que na vida prática tem colocado em risco inúmeras empresas mundo afora.

Empreendedor é quem identifica oportunidades e gera riquezas a partir delas. No mundo do trabalho, aquele tipo de pessoa que é capaz de criar uma empresa ou negócio a partir de uma simples ideia. Empresário, por sua vez, é todo indivíduo que tem competência para perpetuar essa mesma empresa ou negócio. Quem consegue fazer crescer e prosperar aquilo que foi concebido, mas ainda precisa amadurecer.

Algumas pessoas se tornam grandes empreendedores, apesar de serem empresários medíocres; outros, exatamente o contrário. Poucos indivíduos são, ao mesmo tempo, empresários e empreendedores competentes.

É muito difícil dominar esses dois papéis, pois eles exigem competências bem diferentes. Enquanto o empreendedor precisa ser apaixonante quando comunica a sua visão acerca do futuro e demonstrar um nível de ousadia bem acima da média, o empresário geralmente convence as pessoas com base em argumentos concretos e toma decisões em conformidade com aquilo que analisou.

É por isso que empreendedores tendem a ser topetudos, apressados, péssimos ouvintes, emocionalmente instáveis e ainda conservam um nível de autoconfiança que, muitas vezes, beira a arrogância. Quem precisa provocar rupturas, ser muito seguro acerca daquilo em que acredita e ainda estar disposto a enfrentar eventuais fracassos, realmente necessita ter alguns atributos fora da curva.
Por outro lado, empresários bem-sucedidos manifestam um comportamento menos efusivo e não se afetam tanto ao enfrentar problemas de última hora.


Organizados, pacientes e atentos aos detalhes que cercam a administração do negócio no dia a dia, sabem que precisam entender o porquê das coisas nos mínimos detalhes se quiserem alcançar resultados consistentes ao longo do tempo.
Conheço muitos sócios que se complementam. Quem tem um perfil empreendedor, por exemplo, toca a área comercial ou de desenvolvimento de produtos, enquanto que o empresário fica com a responsabilidade de gerenciar o departamento administrativo-financeiro.

Contudo, nem sempre os perfis casam. Certa vez trabalhei num projeto em que os três sócios tinham traços empreendedores. Ou seja, sobrava energia para novos negócios, mas ninguém cuidava dos controles gerenciais básicos. Assim que a empresa cresceu, os problemas se avolumaram de tal forma que não houve saída a não ser orientá-los a contratarem logo um executivo que cuidasse das rotinas e processos.

Uma outra questão prática é que os jovens tendem a alcançar sucesso primeiro como empreendedores e depois como empresários. Qualquer pessoa com uma boa ideia na cabeça e muita vontade de fazer acontecer pode abrir seu negócio, mas resolver os problemas típicos de uma empresa em decadência ou que cresce muito rápido exige aquele tipo de experiência que leva algum tempo para ser adquirida.
A grande questão hoje em dia é que uma companhia não chega muito longe se ela não contar com essas duas figuras em sua direção. Alguém que desacomode todo mundo, pense fora da caixa e desperte o olhar para novas possibilidades e, ao mesmo tempo, gente centrada, pragmática e analítica que não costuma se empolgar com qualquer coisa.

Se você e seu sócio batem de frente constantemente e assim mesmo continuam juntos porque os negócios vão bem, é quase certo que se completam. O problema é ter muitas ideias, mas não conseguir executá-las por falta de um sócio com perfil empresário. Ou ser bom em fazer acontecer, só que demorar para tomar decisões por não ter um "tracionador" ao seu lado.

Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial