A frase da pintora Frida Kahlo, "Apaixone-se por você. Pela vida. Depois, por quem você quiser", revela verdades sobre o amor, a identidade e a relação com o outro. Essa orientação de Kahlo nos convida a uma jornada para pensar-se a construção de relações saudáveis e significativas.

Apaixonar-se por si mesmo é o primeiro passo dessa jornada. Na psicanálise, esse processo pode ser entendido como um movimento em direção à integração do self, onde o indivíduo se confronta com suas partes fragmentadas, seus desejos inconscientes e seus conflitos internos. É um convite à introspecção, à escuta profunda do próprio ser, reconhecendo e acolhendo suas complexidades e ambivalências. Freud nos fala sobre o narcisismo primário, uma fase do desenvolvimento onde o indivíduo está centrado em si mesmo. No entanto, esse amor primitivo por si deve evoluir para transformar-se em autoestima e autocuidado, que se tornam pilares para uma vida emocional equilibrada.

Apaixonar-se pela vida é o segundo passo. Isso implica em um reconhecimento e uma aceitação das pulsões de vida, das forças vitais que nos impulsionam a buscar crescimento e realização. É o reconhecimento do Eros, a pulsão de vida, que nos motiva a criar, a construir e a conectar. Viver apaixonadamente é estar aberto às experiências, aos desafios e às transformações que a vida nos oferece. É um movimento de expansão, onde o indivíduo se permite viver plenamente, apesar das adversidades e dos sofrimentos inevitáveis. Essa paixão pela vida está intimamente ligada ao conceito de tolerância e de resiliência, a capacidade de se adaptar e crescer frente às dificuldades e dores.

Somente após se apaixonar por si mesmo e pela vida é que se pode verdadeiramente se apaixonar por outro. Na psicanálise, o encontro com o outro é sempre um encontro com a alteridade, com o que é diferente de nós. Para amar o outro de forma genuína, é necessário ter uma base sólida de amor-próprio e uma relação favorável com a própria vida. Isso evita a projeção de nossas carências e inseguranças sobre o outro, permitindo uma relação mais autêntica e equilibrada. O amor pelo outro, nesse contexto, se torna uma extensão do amor por si e pela vida, um compartilhar de experiências e afetos, onde os indivíduos envolvidos se enriquecem e crescem juntos.

Portanto, a frase de Frida Kahlo nos oferece uma visão profunda e com desdobramentos interessantes sobre a construção de um amor saudável e pleno. Ao nos apaixonarmos por nós mesmos, reconhecemos nosso valor e nossa dignidade. Ao nos apaixonarmos pela vida, nos abrimos às infinitas possibilidades de crescimento e realização. E somente então, podemos nos abrir ao amor pelo outro, construindo relações baseadas no respeito, na reciprocidade

e no verdadeiro encontro de almas. Essa trilha de amor é, em última análise, um caminho de individuação, onde o sujeito se torna verdadeiramente ele mesmo, em relação consigo, com a vida e com o outro. Compreender, ou melhor, viver isso é algo muito precioso e de certa forma entendido desde tempos antigos. Até mesmo na bíblia se diz: ame o próximo como a si mesmo.

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