A intensa disseminação da pornografia é um fenômeno que revela muito sobre as dinâmicas do desejo e da pulsão. Vivemos numa era onde o acesso à pornografia é quase instantâneo e ilimitado, com consequências profundas no psiquismo, especialmente entre os jovens, que estão em fases formativas de seu desenvolvimento psicossexual.

Do ponto de vista psicanalítico, a compulsão pela pornografia pode ser vista como uma manifestação de repetição traumática. Freud, em suas investigações sobre o trauma, destacou a compulsão à repetição como um mecanismo pelo qual o sujeito tenta dominar uma experiência dolorosa ou incompreensível. Na pornografia, essa repetição se manifesta pela busca incessante de novos estímulos, cada vez mais intensos, numa tentativa de preencher um vazio interno ou de evitar o confronto com uma falta.

A pornografia, com suas representações idealizadas e muitas vezes desumanizadas do ato sexual, cria uma dissociação entre a realidade e o que se imagina que é real. A pornografia oferece uma satisfação imediata, mas efêmera, que não consegue sustentar uma verdade de maneira significativa. O indivíduo, então, se vê preso numa repetição incessante, buscando incessantemente a excitação momentânea sem nunca alcançar uma satisfação autêntica.

Os jovens, por estarem em fases cruciais de desenvolvimento, são particularmente vulneráveis a essas dinâmicas. A exposição precoce à pornografia pode distorcer suas percepções sobre a sexualidade e o relacionamento. Ao invés de explorarem e desenvolverem uma sexualidade integrada e saudável, muitos jovens acabam internalizando padrões de objetificação e de performance que não correspondem à realidade de suas experiências afetivas.

Ademais, a pornografia na internet é um fenômeno que se alimenta de uma estrutura de gratificação instantânea que caracteriza a era digital. A disponibilidade imediata de estímulos visuais e a facilidade de acesso criam um ambiente propício para o desenvolvimento de comportamentos aditivos. A compulsão pelo consumo de pornografia se assemelha a outras formas de vício, onde o sujeito busca um alívio temporário de suas ansiedades e angústias, apenas para se ver preso numa espiral de dependência e frustração. Só para se ter uma ideia o conteúdo que está mais presente na internet é a pornografia. Alguns calculam que 75% do trafego na web está ligado à pornografia.

É essencial ajudar o sujeito a reconhecer e a confrontar a falta que tenta preencher através do consumo compulsivo de pornografia. Através da análise, o sujeito pode começar a reintegrar seu desejo de maneira mais saudável, construindo uma relação mais autêntica e menos alienada com sua própria sexualidade. Isso não se trata de moralismo contra a pornografia, de dizer o que é certo ou errado, mas de saúde mental.

A disseminação da pornografia na internet e o vício que dela resulta são sintomas de uma sociedade e de pessoas que valorizam a gratificação instantânea e a superficialidade das relações. O desafio psicanalítico é ajudar a navegar essas águas turbulentas, oferecendo um espaço de reflexão e de construção de uma sexualidade mais integrada e menos dependente de estímulos externos. A cura, no sentido psicanalítico, passa pela reconexão com o próprio desejo e pela capacidade de sustentar a falta sem sucumbir à compulsão.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina