A resistência à psicanálise, tanto pelas pessoas quanto pela sociedade em geral, é um fenômeno que pode ser compreendido através de diversos fatores culturais e históricos que influenciam a percepção e a aceitação das ideias psicanalíticas.

A psicanálise, ao enfatizar a importância do inconsciente, desafia a noção de que somos plenamente racionais e autocontrolados. A ideia de que nossos pensamentos, atitudes e emoções podem ser influenciados por desejos e conflitos inconscientes, ou seja, por uma área desconhecida dentro de cada um de nós, é perturbadora para muitos. Reconhecer a existência do inconsciente implica aceitar que não temos controle total sobre nossas ações, o que pode gerar ansiedade e receio.

Explorar a própria mente significa confrontar aspectos de si mesmo que são reprimidos ou negados. Traumas, desejos, conflitos e sentimentos de culpa ou vergonha podem emergir durante a análise. O medo de enfrentar essas partes sombrias leva muitas pessoas a evitar a psicanálise. A resistência, portanto, pode ser vista como uma forma de evitar o sofrimento emocional e a angústia que podem surgir do encontro consigo próprio.

Há também o fato de vivermos em uma sociedade que valoriza a rapidez, a eficiência e a solução imediata de problemas. A psicanálise, com seu processo longo e introspectivo, contrasta fortemente com essa cultura do imediatismo. A terapia psicanalítica exige paciência, compromisso e a disposição de enfrentar um processo muitas vezes doloroso e trabalhoso. Essa discrepância entre a cultura contemporânea e a natureza da psicanálise pode contribuir para a resistência em aceitá-la.

A sociedade moderna frequentemente valoriza o tangível e o mensurável, enquanto desvaloriza a subjetividade e o simbólico. A psicanálise, que se concentra nos aspectos subjetivos e simbólicos da experiência humana, pode ser vista como menos "objetiva". Essa visão reducionista sobre a saúde mental desconsidera a importância dos processos psíquicos e das experiências emocionais para como escolhemos viver, contribuindo para a criação de um mundo que se encontra muito doente e perturbado.

A psicanálise ainda sofre com diversos mitos e estigmas que distorcem sua imagem pública. A falta de compreensão adequada dos princípios e métodos psicanalíticos alimenta o preconceito gerando ideias falsas.

A ameaça do desconhecido, a cultura do imediatismo, a desvalorização da subjetividade, os mitos e estigmas contribuem para o desencontro com a psicanálise. Porém, ao resistir à psicanálise, as pessoas evitam a dor e desconforto que ela suscita, mas acabam se repetindo em seus sintomas continuamente, destruindo sua qualidade de vida. Superar essa resistência requer um esforço contínuo de educação, desmistificação e valorização da importância dos processos psíquicos na construção de uma compreensão mais completa e integrada da experiência humana. A psicanálise, com sua profundidade e riqueza, oferece uma oportunidade para explorar e transformar a vida, mas sua aceitação depende de nossa disposição de enfrentar e abraçar a complexidade da condição humana.

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