A Day Week Global, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgou no início deste mês o relatório de um teste piloto realizado no Brasil que explorou a viabilidade da semana de trabalho de 4 dias. O relatório completo está disponível no site oficial: 4dayweekbrazil.com. O relatório apresenta os resultados das 19 empresas que concluíram o programa, realizado entre janeiro e junho de 2024. No total, 252 colaboradores participaram, adotando uma jornada de trabalho estruturada com 100% do salário, 80% da carga horária e a meta de manter 100% da produtividade. A sustentabilidade econômica do modelo de produção atual torna indispensável a redução da jornada de trabalho, assegurando a continuidade do sistema em um cenário de produtividade crescente, mas tal adoção precisa ser testada e analisada.

Receios com a adoção tecnológica …

A preocupação com a perda de empregos devido à Inteligência Artificial (IA) é significativa, pois a automação de tarefas repetitivas e complexas ameaça substituir milhões de postos de trabalho, especialmente nos setores de manufatura, serviços e transporte.

… não é novidade …

Tal movimento é semelhante ao temor dos ludistas na Revolução Industrial, no início do século XIX, que se opunham à automação das fábricas, ambos refletindo o medo de que novas tecnologias viessem a substituir postos de trabalho, criando uma onda de desempregados. …

mas o sistema não suporta …


Nosso modelo econômico não suporta altas taxas de desemprego, pois isso reduz o poder de compra e enfraquece a demanda por bens e serviços, desencadeando uma retração na produção e nos investimentos, e além de renda, as pessoas precisam de tempo disponível para consumir o que é produzido. …

e entraria em colapso.

A redução da jornada de trabalho, preservando a renda, é essencial não por bondade, mas para evitar que a automação e o aumento da produtividade provoquem um colapso econômico, garantindo que o sistema capitalista, dependente do consumo, continue a se sustentar.

Um teste para o modelo …

Apesar do reconhecimento desse fato, a Day Week Global busca superar a resistência natural e demonstrar aos empregadores que a redução da jornada de trabalho não compromete os resultados, e pela 1ª vez na América Latina, realizou um experimento de semana de 4 dias em empresas de São Paulo, Campinas, Rio, BH e Curitiba.

… mostra ganhos para as empresas…

Embora o relatório destaque que esses aumentos não podem ser atribuídos exclusivamente à redução da jornada de trabalho, 72,7% das empresas relataram crescimento na receita no primeiro semestre de 2024 em comparação ao mesmo período de 2023, e 63,6% observaram aumento nos lucros. …

e satisfação para os funcionários …

Os colaboradores avaliaram sua produtividade e engajamento em 8,4 e 8,5, respectivamente, numa escala de 1 a 10. O comprometimento com a empresa foi classificado em 9,2, refletindo alta lealdade. O bem-estar e a satisfação no trabalho foram avaliados em 8,4 e 8,5, respectivamente.

… a ponto de algumas adotarem …

Dentre as 19 empresas participantes, seis adotaram oficialmente a semana de quatro dias, enquanto outras seis decidiram retornar à jornada de trabalho anterior. Cinco companhias estenderão o período de testes até o final do ano, sendo que uma delas expandirá a medida para mais departamentos. …

enquanto outras aguardam.

O movimento de diminuição da jornada de trabalho é irreversível, mas deverá ocorrer de forma gradativa até que se torne lei. Essa transição progressiva permitirá que empresas e trabalhadores se adaptem às mudanças, assegurando que a redução seja implementada de maneira eficaz e sustentável.

Disso resulta uma constatação:

A redução da jornada de trabalho é uma consequência natural do aumento da produtividade impulsionado pela tecnologia e a sobrevivência do sistema exige que as pessoas tenham renda e tempo para consumir essa maior produção. Portanto a preocupação não deve estar na falta de empregos, mas sim na preparação para atender às novas exigências desses postos de trabalho.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.