O ministro a economia Paulo Guedes alertou na última segunda-feira (25) para o desafio de transformar nossa recuperação econômica de um modelo baseado em consumo para um modelo baseado em investimentos.

Para uma parcela significativa de economistas, na qual me incluo, parece lógico que uma retomada econômica baseada no consumo não é sustentável no longo prazo, mas convêm explicar tal interpretação.

A teoria liberal ...

John Maynard Keynes, economista britânico (1883-1946) propôs nova interpretação da economia mudando radicalmente os conceitos estabelecidos pela teoria liberal, corrente dominante até a década de 30 do século passado.

... preconiza a ausência do Estado...

O capitalismo, como sistema imperfeito que é, apresenta várias falhas de mercado, mas na proposta liberal, o próprio sistema já possui os mecanismos capazes de regular e corrigir estas falhas, não cabendo ao Estado qualquer tipo de interferência na economia.

... pena que nem sempre funciona.

Keynes percebeu que as coisas não funcionavam de forma tão automática e que em momentos de crise econômica, quando há descompasso entre o que é produzido e o que é consumido, se faz necessário a interferência do Estado.

É produzido o que é consumido ...

Em situações de crise ele viu claramente que não se produz pela capacidade do sistema e sim pela capacidade de consumo. Não é porque uma indústria consegue produzir até 100 unidades que ela vai operar com este volume de produção. A empresa vai produzir na exata medida do que está vendendo.

... e na crise cai o consumo...

A pandemia do COVID-19 provocou um enorme desajuste entre a capacidade produtiva e a capacidade de consumo decorrente da necessidade de se impor o isolamento social para conter a propagação do vírus.

... que provoca mais crise...

Isso afetou primeiramente a produção industrial, provocando ociosidade na capacidade produtiva e demissões em massa. Logo em seguida atingiu todos os demais setores em um processo de bola de neve.

... em um ciclo que se autoalimenta.

Com a perda de renda das famílias, as vendas despencaram, o desemprego aumentou em um processo de retroalimentação – mais desemprego derruba a renda, que leva a menor consumo, que gera mais desemprego.

Recuperação baseada no consumo ...

Para impedir um colapso do sistema, o governo lança mão do auxílio emergencial, uma política iminentemente Keynesiana, buscando reativar a capacidade de consumo das famílias, fazendo com que a produção acompanhe o crescimento da demanda, gerando empregos e retornando a um ciclo virtual da economia. Esta é a recuperação econômica baseada no consumo.

... não é sustentável no longo prazo.

Mas esta política tem como limite a capacidade de produção do sistema. No momento que o sistema atinge sua capacidade de produção, se mantida aquecida a demanda, a economia começa a operar com elevação na taxa de inflação.

Recuperação baseada no investimento...

Neste momento é preciso mudar a base de recuperação econômica calcada no consumo para uma lastreada no investimento, em outras palavras – no aumento da capacidade instalada.

... é sustentável no longo prazo.

Quando as empresas passam a investir em aumento de sua capacidade produtiva, encomendam mais máquinas, ampliam suas instalações, contratam mais pessoas e criam uma dinâmica econômica, agora sim, sem limites de expansão.

Uma questão de ‘time’.

Uma política Keynesiana é por excelência uma política de curto prazo. O grande problema é saber o momento exato de virar a chave.

Quer me parecer que este momento ainda não é chegado.

Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.