Foi propaganda enganosa a carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, informando que nas terras brasileiras “em se plantando tudo dá”. Dá, mas precisa adicionar fertilizantes, principalmente nos solos dos biomas Cerrado e Pampa, onde, também, precisa aplicar calcário para eliminar a acidez tóxica.

A natureza foi pródiga com o Brasil, privilegiando-o com território imenso, onde o clima é favorável, a chuva é abundante e o sol brilha o ano todo. O Brasil conta com mais de 300 milhões de hectares (Mha) de terras agricultáveis, onde o agronegócio impera como a principal locomotiva da economia brasileira. Se o Brasil já ocupa a terceira posição como produtor mundial de alimentos, depois de China e Estados Unidos, com a dinâmica que o país vem imprimindo ao setor agrícola desde a década de 1970, é possível prever avanços ainda maiores e ser o futuro maior fornecedor global de alimentos.

Mas o agro brasileiro tem gargalos. Além dos problemas crônicos do transporte e da armazenagem da produção, enfrenta outra ameaça: a elevada dependência de fertilizantes importados. Cerca de 75% do que consome é importado, sendo o maior importador mundial do produto e figura como quarto maior consumidor, depois da China, Índia e Estados Unidos. Produziu apenas 23% (8,2 milhões de toneladas (Mt) das 36 Mt que consumiu em 2019.

Grande parte da produção tem origem em propriedades localizadas no interior do país e precisa percorrer longas distâncias até chegar aos portos para exportação. O fertilizante que chega ao porto, precisa fazer o caminho inverso para chegar aos campos de produção do interior do Brasil. O custo dessa logística pesa no bolso do produtor.

A grande demanda por fertilizantes no Brasil tem como causa o aumento da produtividade. Para uma potência agrícola como o Brasil, não produzir o próprio fertilizante é um erro estratégico, um problema de segurança nacional. E o consumo continua aumentando. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no período 2007 a 2017, as importações brasileiras de fertilizantes cresceram 105%. Nesse período, o consumo de Fertilizantes aumentou 2% ao ano na média mundial e 4% no Brasil.

A maior dependência brasileira é pelo nutriente potássico (95%), seguido pelos nitrogenados (80%) e pelos fosforados (55%), informa a Associação Internacional de Fertilizantes. O Brasil teria condições de ser autossuficiente na produção de fertilizantes, mas não parece haver muito empenho de parte do governo, visto que sua política tributária desfavorece a produção nacional: os importados são isentos de tributação.

Parece mentira, mas ao mesmo tempo que a demanda de fertilizantes do Brasil cresce, a produção nacional diminui. Segundo a ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos), a produção despencou 17% em uma década (9,8 Mt em 2007 e 8,2 Mt em 2017), ante um aumento de 46,3% das importações (24,6 Mt em 2007 e 34,4 Mt em 2017). A soja, o principal produto agrícola do Brasil consome 40% do fertilizante utilizado, seguido pelo milho, cana de açúcar e café.

Desde a década de 1970, o agro brasileiro vem sinalizando para o crescimento da demanda por fertilizantes, dado o consistente aumento da área e da produção. A autossuficiência do produto deveria ser uma meta a ser buscada com afinco pelo Brasil, mas não é o que se tem observado. Importante salientar que o Brasil é, dentre os países com agricultura mais desenvolvida, aquele que menos utiliza fertilizantes por unidade de área.

Com o esgotamento das áreas agricultáveis, o Brasil ver-se-á forçado a produzir mais nas áreas que já cultiva, intuindo que terá de aumentar a produtividade, para o que, precisará produzir ou importar mais fertilizantes.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja