Levantamento da secretaria municipal de Assistência Social mostra que somente no ano passado foram registrados 700 atendimentos de crianças e adolescentes vítimas sexual pelos serviços da pasta. A média é de quase dois casos por dia em Londrina. Mais de 80% dos violadores faziam parte da rotina das vítimas. “Estamos falando de violência intrafamiliar. Lógico que as crianças que estão na periferia têm os agravantes pelo ciclo de violência e vulnerabilidade que têm que vivenciar, mas essas violências acontecem em todas as classes sociais”, alertou a secretária Jacqueline Micali.

Dados da edição de 2022 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública contabilizam que 82,5% dos crimes de estupro de vulnerável registrados no Brasil envolvendo menores de 13 anos foram cometidos por um conhecido da vítima, sendo que 40,8% eram pais ou padrastos e 37,2% irmãos. A cada hora três crianças são abusadas no Brasil. Cerca de 51% tem entre um a cinco anos de idade.

As situações identificadas vão para o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), que acompanha as vítimas e famílias com direitos violados. “O tempo (de atendimento) geralmente é longo. Dividimos a violação de direitos em leve, moderava e grave, para que haja o acompanhamento de forma personalizada. Uma série de fatores são envolvidos, com educação e saúde. Na Assistência Social temos um serviço de convivência, em que o público prioritário é o de violência, em que a criança pode entrar com seis anos e ficar até 18 anos incompletos”, explicou a secretária.

LUZ SOBRE UM PROBLEMA GRAVE

Para combater casos de abuso e exploração sexual infantil é celebrado neste mês em todo o Brasil o Maio Laranja, que joga luz sobre esta temática ressalta a gravidade deste tipo de crime. A campanha em Londrina, em parceria com a prefeitura, começou na segunda-feira (15) e tem como tema “Nem todo esconde-esconde é brincadeira”. “Vemos a maior parte da violência está dentro da própria casa, com tios, avós, primos, padrastos, principalmente a sexual. Por isso, temos que identificar e orientar, porque as crianças demonstram medo”, advertiu Magali Batista de Almeida.

A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente ressaltou que a escola representa um papel fundamental para constatar situações de violência. “Se a criança só vai de blusa e manga longa, por exemplo, ela pode estar escondendo uma surra que tem sofrido em casa. O município tem um departamento que trabalha apenas com isso, existem os professores mediadores, que acionam o Conselho Tutelar sempre que necessário.”

PASSEATA

Na quinta-feira (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescente, haverá um ato público com concentração no teatro Ouro Verde e passeata até a Concha Acústica, onde terão apresentações culturais e ações lúdicas para sensibilizar a comunidade. A data foi instituída em 2000 em memória de Araceli Cabrera Sánchez Crespo, que foi violentada sexualmente e assassinada aos oito anos de idade, em 1973, no Espírito Santo.

SERVIÇO - Casos de agressões físicas, sexuais ou emocionais de crianças e adolescentes podem ser denunciados para os canais Disque 100 ou 125.

Cidades da região metropolitana promovem ações do Maio Laranja

As cidades da Região Metropolitana de Londrina também estão promovendo diversas ações para reforçar o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Em Ibiporã uma lei municipal de 2019 instituiu uma semana para debater o assunto e conscientizar. A abertura oficial foi na última segunda-feira (15), na Câmara de Vereadores, e nos próximos dias estão previstas rodas de conversa, blitz educativa e carreata.

Em Ibiporã uma lei municipal de 2019 instituiu uma semana para debater o assunto e conscientizar
Em Ibiporã uma lei municipal de 2019 instituiu uma semana para debater o assunto e conscientizar | Foto: Divulgação Prefeitura de Ibiporã

O Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) do município atendeu no ano passado 28 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. A metade foi de estupro de vulnerável. Atualmente, das 52 famílias atendidas pelo Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, dez são por violência sexual contra crianças.

Em Rolândia está programada uma panfletagem na quinta-feira (18) com orientações no calçadão, das 13h às 16h. Além disso, está sendo feito um reforço da abordagem nos serviços ofertados pela Assistência Social.

Já a secretaria municipal de Assistência Social de Cambé está fazendo oficinas de capacitação, com foco na escuta especializada, e oficinas. A prefeitura também está colocando flores - símbolo da campanha de proteção à criança e ao adolescente - em locais públicos.

De 2009 até janeiro deste ano o Creas de Cambé contabilizou 706 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo que 29 foram de exploração sexual para fins lucrativos e 677 de abuso sexual. Apenas 149 situações foram de agressores fora do contexto familiar da vítima.

****

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.