Grito dos Excluídos cobra igualdade social e critica violência policial
Ato público que reivindica direitos fundamentais chega à 29ª edição. Em Londrina, familiares de pessoas mortas por policiais cobram justiça
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quinta-feira, 07 de setembro de 2023
Ato público que reivindica direitos fundamentais chega à 29ª edição. Em Londrina, familiares de pessoas mortas por policiais cobram justiça
Walkiria Vieira
Dois movimentos também marcaram o Sete de Setembro em Londrina, data em que é celebrado nacionalmente o Dia da Independência do Brasil. No Calçadão, localizado na avenida Paraná, grande número de pessoas se reuniu para dois atos: o 29º Gritos dos Excluídos, sob a perspectiva de direitos fundamentais como moradia, trabalho, dignidade, saúde e educação. E também ocuparam um dos cartões-postais de Londrina o grupo Justiça por Almas, em memória de vítimas da letalidade policial do Estado do Paraná.
De modo pacífico e organizado, ambos as manifestações contaram com apoio da sociedade. Presente às manifestações, o arcebispo da Arquidiocese de Londrina, Geremias Steinmetz, expôs o seu apoio a ações que oferecem à sociedade dignidade e moradia. Steinmetz também se solidarizou às famílias vítimas de violência e aos casos recentes de feminicídio em Londrina. "Estamos juntos com essas pessoas para que elas possam pelo menos continuar de pé e lutando", solidarizou-se.
Movimentos pastorais marcaram o evento por meio de atos simbólicos. Rosi Diniz integra a Pastoral Social da Arquidiocese. O arroz, a palavra e água compuseram uma representação que culminou com o destaque do elemento água como representação da vida em abundância.
A acolhida aos refugiados também estava na pauta do 29º Gritos dos Excluídos. O casal de venezuelanos Dairelus Ledezma, 22 anos, e Miguel German, 28, está no Brasil desde 2019. No período de quatro anos, já viveu em Boa Vista, capital de Roraima, Minas Gerais e há pouco mais de um ano está no Paraná. Contam que a falta de trabalho e condições mínimas de sobrevivência os levaram à deixar a Venezuela.
Em Londrina há dois meses, explicam que estão se mantendo como diaristas. "Temos o apoio da Caritas. Estamos morando no Flores do Campo", diz Ledezma. Confiantes em um futuro mais próspero, sobretudo para a filha de quatro anos, que se chama Daimig, contam que sentem falta da terra natal. "Uma cama, um dia podemos comprar de novo, mas o que me dói é saber que nunca mais poderei ver os álbuns de fotografia e mostrar para minha filha os avós e como eu era como criança", lamenta.
Grito dos Excluídos e o silêncio da dor
Familiares e solidários às vítimas de morte violenta também prestaram homenagem à memória de pessoas tão jovens e que poderiam estar dando continuidade a suas trajetórias. O grupo Justiça por Almas é formado por mães, esposas e amigos de cidadãos vítimas da letalidade policial do Estado do Paraná.
A auxiliar de cozinha Ana Carolina Mariz expôs sua tristeza pela morte violenta de seu marido, Fábio Bratek, que neste 7 de Setembro completaria 34 anos. "Certamente eu faria uma surpresa para ele, que fosse um café da manhã na cama, mas estou aqui para demonstrar um erro que mudou a minha vida e dos meus filhos para sempre. O Fábio era trabalhador, fazia revestimentos para piscinas e foi morto no lugar de um criminoso que segue foragido", desabafa.
A vendedora autônoma Hayda Mello, mãe de Willian J. F. Silva Junior, morto em maio de 2022, aos 18 anos, busca por justiça. "Embora uma versão aponte que houve um confronto, meu filho foi assassinado. Eu o enterrei no Dia das Mães e sigo em busca de justiça".
Mello revela que apesar de se sentir sem energia em muitos momentos, precisa que a verdade venha à tona. "Meu filho não tinha envolvimento com qualquer crime, conseguiu realizar o sonho de ter um bom celular vendendo pizza e a compra foi parcelada no cartão da minha irmã", divide. Ela conta também que muitas vezes sua vontade é de recolher, silenciar, ficar quieta, mas está tentando seguir em frente.
Ela inda destaca a necessidade de aprovação do projeto de Lei nº 4.223/2019, que estabelece a obrigatoriedade de instalação de câmeras de vigilância e rastreamento por GPS no interior de todos os veículos da polícia civil e militar e determina também a instalação de aparelho similar à “caixa-preta” para armazenar os acontecimentos diários das abordagens, as rotas desses veículos e manter essas gravações, por no mínimo 120 (cento e vinte) dias. "Infelizmente, está parado", aponta.