Em coluna da semana passada (27) no Valor Econômico, Pedro Cafaldo, contrapondo-se a alta dos juros pelos BCs do mundo no combate da inflação, utiliza o entendimento do economista americano Joseph Stiglitz resumido na frase:

“Os juros mais altos aumentarão a oferta de chips ou a oferta de petróleo?“

Obvio que a resposta é não, pois não é este o propósito do aumento na taxa de juros. No entanto, sua interpretação é que a taxa de juros elevada é a responsável pelas mazelas da economia.

Me preocupa a disseminação de entendimentos equivocados que justifiquem decisões erradas no campo da política econômica.

Inflação é fruto de desequilíbrio ...

Inflação é o aumento generalizado dos preços e decorre de desequilíbrio na quantidade de produtos disponíveis no mercado e a quantidade de dinheiro disponível para adquiri-los, já ensinava Milton Fridman, Nobel de economia em 1976.

... provocado pela redução na produção ...

Este desequilíbrio pode ter origem na redução da oferta de produtos (perdas de safra em razão de seca, guerras que impedem a circulação de produtos, ou pandemias que provocam desarranjo nas cadeias logísticas, por ex).

... ou pelo aumento desproporcional de moeda.

Também pode ser decorrência do aumento da demanda pela elevação na quantidade de dinheiro disponível para o consumo (por transferências de renda para atender a população vulnerável, ou aumento na oferta de crédito, por ex). Ou ambos – queda na produção e aumento de moeda.

Precisa ser combatida ...

Uma economia não pode conviver com inflação elevada, pois a perda de poder de compra da moeda, obriga a quem produz ajustar sua produção a uma demanda menor.

... pois desestrutura qualquer economia.

Ajustar-se a uma produção menor implica dispensa de funcionários e redução na compra de insumos. Menos pessoas empregadas significa menos consumo, que redunda em menor produção e assim por diante em um círculo vicioso que desarranja toda a economia.

A produção resulta de demanda anterior...

Mas atenção: a origem da demanda não está no consumidor final. Todo e qualquer produto oferecido no mercado é resultado do consumo anterior de bens de produção (insumos e bens de capital). Em outras palavras – toda oferta é resultado primeiro de uma demanda.

... e depende de tempo.

Mas a natureza das coisas impõe um tempo entre o consumo dos bens de produção e o efetivo aumento de produtos no mercado. Primeiro o agricultor demanda (compra a semente e o adubo), depois planta e espera o tempo da colheita e da comercialização.

Não é a carroça quem puxa o burro ...

Aumentar a oferta de qualquer produto exige primeiro a demanda de mais bens de produção, pressionando os preços e provocando inflação. Até que estes produtos possam entrar no mercado, a inflação já corroeu o poder de compra de quem os demandaria e o produto vai encalhar na prateleira.

... e não é a oferta que contêm a inflação.

Ora, fica claro que o controle da inflação não será obtido pelo aumento da produção, visto que ela é resultado do aumento da demanda que impulsionará a inflação e não o contrário. Então onde é possível atuar? Equilibrando a balança retirando dinheiro disponível para o consumo. E isso se faz com aumento nos juros.

... para evitar interpretação equivocada.

É neste ponto que fica claro o erro de quem defende que a redução nos juros proporcionará aumento da oferta e que tal oferta reduziria a pressão sobre os preços. Não é uma questão de cunho ideológico, é a simples constatação de como são as coisas.

Não sejamos ingênuos.

Da mesma forma que a quimioterapia para um paciente com câncer, juros elevados impõe sacrifícios e dores, não há a menor dúvida. É necessário decidir por um ou por outro.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR.