Eleita em outubro de 2020 com 1.780 votos, a ex-prefeita de Itambaracá (Norte Pioneiro), Mônica Zambon Holzm (União Brasil), recorreu à Justiça contra a decisão da Câmara de Vereadores que cassou seu mandato na semana passada. Acusada de utilizar recursos públicos para promover uma festa particular, ela teve o mandato cassado na quarta-feira (31), com votos de seis dos nove vereadores do município, a cerca de 115 km de Londrina. Ela nega a acusação e diz que a votação foi ilegal, por envolver um suplente sem direito a voto e mulher do vice-prefeito, que acabou assumindo a prefeitura.

A denúncia foi protocolada na Câmara em março deste ano. Segundo a acusação, a festa realizada em maio do ano passado custou cerca de R$ 470 mil e a prefeita teria utilizado recursos públicos para pagar a conta de luz do evento. A ex-prefeita teria antecipado o pagamento do 13º salário dos servidores comissionados para que eles gastassem no local e obrigado funcionários públicos a venderem cartelas de bingo. Com a cassação, o vice, Marcus Vinícius de Andrade (União Brasil), assumiu a prefeitura na quinta-feira (1).

Mônica Zambon negou as acusações e disse à reportagem da Folha que o evento não foi particular, mas a Exposição e Feira Agropecuária de Itambaracá (Efapi), que não era realizada há 22 anos. “Peguei a prefeitura desfalcada e fizemos como era antigamente, fomos atrás de doações. Não saiu dinheiro da prefeitura, nem veio nada para a minha família. Foi tudo arrecadado de doações”, afirmou. “(A cassação) foi uma ação política, os mesmos vereadores que aprovaram as contas (da prefeitura) abriram a denúncia”. Segundo ela, a segunda edição da festa foi realizada neste ano, nos mesmos moldes.

No mandado de segurança protocolado na Justiça, a defesa de Mônica Zambon alega que a sessão de cassação do mandato foi ilegal, pois uma suplente teria participado da votação. Segundo ela, na segunda-feira (29) a Câmara decidiu afastar da votação o vereador Aparecido Pereira de Souza (União Brasil), sob a acusação de que ele teria se beneficiado do evento. Em seu lugar teria votado a suplente Aline Maria Menegasso de Andrade (União Brasil), mulher do vice-prefeito que tomou posse na quinta-feira.

“O vereador não foi afastado, ele só foi impedido de votar. A Câmara ficou com dez vereadores, mas só pode ter nove. Foi ilegal”, afirmou a prefeita cassada. “Quatro vereadores tinham se posicionado contra a cassação. Se oito vereadores votassem, o mandato só poderia ser cassado com seis votos favoráveis, mas seriam três contrários”. Ela disse ainda que o adiantamento do 13º salário não teve relação com o evento. “No primeiro ano (de mandato) a gente adiantou parte do 13º salário em junho, no segundo ano foi um pouco antes do Dia das Mães. Não conseguiram provar nada. A justificativa deles foi que eu estava me beneficiando politicamente (com a festa)”.

SESSÃO CONFUSA

A sessão de quarta-feira teve confusão após a votação e o presidente da Câmara de Vereadores de Itambaracá, Claudemir Pellegrini (União Brasil), teria deixado o local sob escolta da Polícia Militar. A reportagem da Folha tentou contato com Pellegrini nesta segunda-feira (5), mas ele não atendeu o celular nem respondeu às mensagens. A reportagem também tentou contato com o prefeito Marcus Vinícius de Andrade, mas ele não retornou a ligação até o fechamento desta matéria.

dos prefeitos paranaenses, só 9,7% são mulheres

Mônica Zambon foi uma das 39 prefeitas eleitas no Paraná em 2020. Só 9,7% dos 399 municípios paranaenses têm prefeitas, o que mostra a desproporção da representação política em relação à população, já que as mulheres são 50,9% da população do estado. O desequilíbrio é nacional: em todo o país, foram eleitas 651 prefeitas em 2020, ou 12,1% do total, apesar de as mulheres representarem 51,8% da população e 52% do eleitorado. Para as Câmaras Municipais, foram eleitas 9.196 vereadoras (16%) e 48.265 vereadores (84%).

A maior cidade paranaense administrada por uma prefeita é São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Nina Singer (Cidadania) foi eleita em 2020 com 39.526 votos para administrar o sexto maior município do estado, com 327.746 mil habitantes, segundo o Censo 2022, divulgado pelo IBGE em dezembro do ano passado.

Das 39 prefeitas do estado, quatro estão em municípios da Região Metropolitana de Londrina: Ana Ruth Secco (PSB), de Sertanópolis; Bruna de Oliveira Casanova (PSD), de Primeiro de Maio; Luzia Harue Suzukawa (PSDB), de Tamarana; e Maria Edna de Andrade (PTB), de Prado Ferreira.