Na semana em que o cinza pálido, resultado das queimadas que assolam o país, toma conta do céu de Londrina, a florada dos ipês proporciona um belo contraponto que chama a atenção de quem passa pelo centro e pelos bairros. As árvores, principalmente as de flores brancas e amarelas, - que florescem nesta época do ano - colorem a cidade. Ao final da floração, ruas e calçadas ficam tomadas pelos tapetes coloridos.

De acordo com Weliton José da Silva, professor do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL (Universidade Estadual de Londrina), além de biólogo e botânico, algumas espécies de ipês podem viver até 100 anos. “Eles são altamente adaptáveis ao ambiente urbano, bastante resistentes à poluição e tolerantes a condições adversas de solo e clima, como períodos de seca. Essas características fazem dos ipês uma excelente escolha para arborização urbana, devido à sua resistência e beleza ornamental”, explica.

Para os moradores que passeiam pelo centro da cidade, a percepção da quantidade de ipês é maior ainda. “Acho muito gostoso passar embaixo dos ipês e ver as flores desabrocharem, ainda mais quando estão brancas”, expressa o tatuador Kioche Matsui. Para ele, os ipês servem até como artifício para fazer postagens nos stories e interagir com alguns dos clientes. “Sempre que passo por perto, tiro foto das flores e posto com uma mensagem de “bom dia”. Além da beleza exuberante, o tatuador acredita que a árvore é muito significativa para o centro de Londrina, marcando as paisagens e ajudando na sombra quando está muito calor.

Junto com ele, sentado no banco da Concha Acústica e observando os ipês, está Danilo Zapata, um amigo que também é tatuador. Ele complementa dizendo que vê o ipê como uma árvore histórica e muito importante para Londrina. “Às vezes observo o sol nascendo e ele combina muito com o ipê, principalmente o branco”, comenta.

Ainda de acordo com o botânico, as espécies mais comuns de ipês encontradas em Londrina são o Ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa), ipê-roxo ou ipê-rosa (Handroanthus heptaphyllus), ipê-amarelo (Handroanthus chrysotrichus e Handroanthus albus) e ipê-branco (Tabebuia roseoalba). Os períodos de floração mais comuns para o ipê-roxo ou rosa são entre julho e setembro, quando o inverno está terminando.

O ipê-amarelo, considerado símbolo do país, floresce entre agosto e setembro, quando a primavera está iniciando. Já o ipê-branco, mais presente nesses últimos dias, tem floração em setembro, também no início da primavera. “O ipê-branco tem uma floração bem mais curta e delicada em comparação com os outros, muitas vezes durando apenas alguns dias. É comum observar em Londrina “re-florações”, geralmente, em períodos que sucedem uma grande onda de frio”, detalha.

Além da variedade de espécies e cores, os ipês têm grande importância ecológica em áreas urbanas. As flores atraem uma variedade de polinizadores, como abelhas, especialmente as nativas, e beija-flores, que dependem do néctar e pólen para a alimentação, segundo o biólogo. Ele acrescenta que as raízes dos ipês auxiliam na estabilização do solo e na captação de água, contribuindo para a drenagem urbana. “Os ipês ainda produzem frutos do tipo cápsula e sementes aladas, que podem servir de alimento para pássaros frugívoros”, acrescenta.